Do jogo do bicho no Rio; ouça os grampos
No dia de São Jorge, por exemplo, contraventores proibiam apostas na milhar 23
Maria Mazzei, da Rede Record, no Rio
| 27/12/2011 às 05h35
R7 teve acesso exclusivo aos relatórios da Polícia Civil
De acordo com o delegado Glaudiston Galeano Lessa, da Coinpol (Corregedoria Interna da Polícia Civil), responsável pela investigação, a troca de um único número já era suficiente para beneficiar os banqueiros.
- A investigação revelou que os números eram manipulados, mas não para favorecer o apostador e sim o próprio jogo do bicho. Quanto menor fosse o número de prêmios e o valor, maior seria o lucro da banca.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça flagraram quando um contraventor manda um suposto funcionário do jogo do bicho substituir o número 4, que havia acabado de ser sorteado pelos computadores, pelo número 9.
Na conversa, entre dois contraventores, no dia 12 de março de 2011, o número 4394 é manipulado para virar 4399. Assim menos apostadores seriam beneficiados.
Contraventor 1 - Unidade 4! Olha ai, olha aí, espera aí... vai mudar.
Contraventor 2 - O terceiro prêmio tá sambado, tá sambado, tão falando que não tá legal, sujou nosso resultado todo. Mas vamos ficar com ele mesmo 4399.
Número 23 proibido no dia de São Jorge
Um relatório da Polícia Civil sobre a manipulação das apostas a que o R7 teve acesso com exclusividade revela ainda que números que representavam datas comemorativas, com dia de São Jorge, por exemplo, eram excluídas da jogatina na data respectiva.
Isso acontecia devido à grande quantidade de apostas. Caso esse número fosse sorteado, poderia causar enorme prejuízo para o bicheiro e até quebrar a banca.
Ainda de acordo com o documento, os jogos mais apostados eram divididos entre diferentes banqueiros, para que, se algumas dessas apostas fossem sorteadas, o pagamento do prêmio ficasse dividido entre os banqueiros.
A operação Dedo de Deus foi deflagrada há duas semanas no Rio, Bahia, Maranhão e Pernambuco e já resultou na prisão de 45 pessoas. Entre os presos, estão o ex-prefeito da cidade de Teresópolis, Mário Trincano, apontado como chefe do jogo ilegal na região serrana do Rio, policiais militares e pessoas ligadas à estrutura do jogo do bicho em todo o Estado.
Barracões de escolas de samba e casas de bicheiros foram alvos de buscas. A polícia já apreendeu mais de R$ 4 milhões, além de joias e carros de luxo.
Tudo começou no bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio, quando João Batista Viana Drummond, o Barão de Drummond, visando aumentar os lucros de seu zoológico, criou em 1892 um jogo no qual o visitante comprava uma entrada e poderia escolher um dos 25 bichos de seu parque.
Ao final do dia, os responsáveis pelo jogo revelavam o bicho sorteado e colavam o resultado em um poste, prática que até os dias de hoje continua sendo feita. O valor do prêmio era de 20 mil réis.
Cada um dos 25 bichos era representado por quatro números consecutivos, compreendidos entre 00 e 99. Havia 25 grupos numerados, por ordem alfabética, de 1 a 25. Os números de 00 a 99 correspondiam aos 25 bichos conforme uma progressão aritmética, calculando o próximo múltiplo de quatro.
O camelo (grupo 8), correspondia aos números 29. 30, 31 e 32. Já a vaca, último animal (grupo 25), era representada por 97, 98, 99 e 00.
Atualmente, o bicho corresponde a um número entre 0000 e 9999 e os grupos são indicados pelos dois dígitos finais.
O jogo logo caiu nas graças do povo se espalhou rapidamente por todo Brasil
Ouça a gravação: