Nesta quinta-feira, 28 de março, o assassinato do secundarista Edson Luís completa 51 anos com atos de estudantes em todo o Brasil. Trata-se da tradicional Jornada de Lutas da Juventude, que homenageia o estudante anualmente e reivindica melhorias para a educação. Este ano, o tema é “Mais democracia, menos mordaça”, em protesto contra a Lei da Mordaça.
O episódio Edson Luis é apenas uma das brutalidades acontecidas durante a Ditadura Militar (1964-1985). Apesar do período de exceção e totalitarismo ser reconhecido dessa forma pelos livros de história, o atual governo brasileiro, comandado por Jair Bolsonaro (PSL), insiste em “comemorar” o início do regime, em 1º de abril de 1964.
Conheça a história de Edson Luís e entenda por que os “Anos de Chumbo” colocaram fim à democracia e aos direitos humanos no Brasil.
1. Naquele ano, manifestações e organizações estudantis eram proibidas
A primeira coisa que os militares fizeram, no dia seguinte ao Golpe Militar de 1964, foi fechar as entidades estudantis e demolir a sede da UBES e da UNE.
Desde então, foram reprimidos todos os protestos por uma educação pública de qualidade ou que questionassem o regime.
Mesmo assim, estudantes insistiam para ter expressão. Marcavam protestos relâmpagos, tentavam driblar policiais e agentes infiltrados nos movimentos, apanhavam e resistiam.
Circulava um “manual do protesto” distribuído pelo Comando Intelectual, com recomendações como “ir em jejum” e usar “leite de magnésia em torno dos olhos, para anular o gás”.
2. Mataram um estudante comum
Sabe quando tentam dizer que “na ditadura só morria quem fazia coisa errada”? Pois é. Edson Luís de Souto Lima, 17 anos, saiu de Belém (PA) e só queria cursar a escola técnica no Rio de Janeiro. Era a maior perspectiva de estudos para os pobres, que nem sonhavam com universidade.
Filho de lavadeira, ele fazia bicos de faxina para se manter e comia no restaurante universitário Calabouço, para jovens de renda baixa.
3. Morreu por querer assistência estudantil
Estudantes tentam protestar na frente do Restaurante Calabouço (Acervo O Globo)
Edson fazia parte da FUEC – Frente Unida dos Estudantes do Calabouço. No dia em que morreu com um tiro, policiais tentavam reprimir um protesto pelo preço da comida do Calabouço.
Uma mentira que insistem em repetir sobre a ditadura é que “as escolas eram melhores”. Veja só: em 1969, a Emenda Constitucional número 1 desobrigou o Estado de reverter 12% do PIB para Educação. O percentual caiu de 7,6%, em 1970, para 4,31%, em 1975. Ficou em 5% em 1978. Quem podia começou a ir para escola particular. E ai de quem reclamasse.
4. Edson não foi o único morto naquele dia
Benedito Dutra também levou um tiro da polícia militar. Também foi em seguida levado até a Assembleia Legislativa pelos colegas, que temiam que os policiais sumissem com os corpos. Lá, um deputado médico viu que Benedito tinha vida. Ele chegou a ser internado em um hospital, por isso não foi velado com Edson, mas acabou falecendo no dia seguinte.
5. O Rio de Janeiro parou por um estudante
Multidão abre caminho para caixão de Edson Luís na Cinelândia, em 29 de março de 1968
No velório de Edson Luís, pela primeira vez em quatro anos, desde o Golpe de 1964, a população em peso foi às ruas indignada.
“Mataram um estudante. Podia ser seu filho”. A manchete chocou até a classe média, que compareceu na Cinelândia naquele 29 de março.
6. Na missa de sétimo dia, policiais cercaram a igreja
Cenas de horror: na missa de sétimo dia de Edson Luís, a cavalaria da polícia cercava a Candelária
Incomodado com o levante popular, o Exército baixou medida: “As autoridades não permitirão atos públicos após as missas”. No sétimo dia de Edson Luís, a Igreja da Candelária foi cercada pela cavalaria, em uma cena assustadora, e os presentes só puderam sair cercados pelos padres.
7. Depois de Edson Luís, Cem Mil foram às ruas
Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968. Artistas, intelectuais e clero com estudantes
O acirramento entre estudantes e Exército só aumentou, com mais protestos relâmpagos e mais violência explícita. A Passeata dos Cem Mil, na Cinelândia, Rio de Janeiro, foi a demonstração de que a sociedade não concordava com isso.
8. O episódio Edson Luís levou à fase mais tensa da ditadura
Em vez de permitir a liberdade de expressão e a democracia, sob pressão o regime autoritário se tornou ainda mais cruel. O ano de 1968 terminou com o Ato Institucional número 5 (AI-5): não existiam mais deputados nem Congresso Nacional. E as pessoas estavam proibidas de se reunir, em clubes, sindicatos, até nos próprios lares.
O regime iria durar nesses termos por mais 17 anos. A UNE até então atuava na clandestinidade e só voltou a legalidade no Congresso de reconstrução da entidade que aconteceu Salvador, em 1979. A UBES ficou impossibilitada de atuar por 10 anos, de 1971 a 1981.
9. O mesmo ano foi decisivo para estudantes de outros lugares do mundo
Greve na Universidade de Columbia, EUA (Don Hogan Charles – The New York Times)
É um fenômeno de 1968 a existência de estudantes que contestavam a realidade, acreditavam num mundo diferente e acabaram presos, feridos ou mortos pelo Estado em vários lugares do mundo.
Nos Estados Unidos, a juventude criticava a Guerra do Vietnã, o racismo e a exploração econômica da sociedade americana, por meio de manifestações, barricadas, ocupações.
Na França, maio de 1968 entrou para a história pelos protestos estudantis que pediam reforma da educação. No México, estudantes pediam direitos civis e fim da repressão policial. Centenas foram mortos no “Massacre de Tlatelolco”, às vésperas da Olimpíada naquele país.
10. Depois de Edson, mais de 200 jovens foram assassinados durante a ditadura
Apenas entre as vítimas oficiais do Estado brasileiro, pelo menos 220 dos 434 mortos, “sumidos” e violentados até a morte tinham menos de 30 anos. Alguns foram perseguidos devido a sua militância contra contra o regime como a ex-vice-presidenta da UNE em 1968, Helenira Rezende, assassinada em 1972 e o presidente da UNE durante seu período de clandestinidade, Honestino Guimarães, assassinado em 1973. Sabe-se ainda que 30% das vítimas da ditadura não tinham ou tinham muito pouco envolvimento político, como Edson Luís.
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