‘Crueldade e falta de empatia’, diz presidente da OAB sobre Bolsonaro
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Santa Cruz afirma que, ‘como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro’. “O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”.
A OAB também se manifestou a respeito, em nota assinada pela Diretoria do Conselho Federal, Colégio de Presidentes e o Conselho Pleno.
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Frei Betto: “É uma ilusão e um engano achar que a ditadura
foi melhor”
Religioso dominicano vai a Natal e fala sobre participação,
ditadura e Bolsonaro
Kennet Anderson
Brasil de Fato | Natal (RN) | 16 de Julho de 2019 às 11:08
Frei Betto no 11° Encontro Nacional de Fé e Política - Concita Alves
Política e fé não são dissociadas. É o que diz o frade
dominicano, jornalista e escritor brasileiro Carlos Alberto Libânio Christo, ou
Frei Betto. Conhecido por ser um dos religiosos presos políticos durante a
ditadura militar, inclusive sendo representado pelo ator Daniel de Oliveira no
filme Batismo de Sangue (adaptação da obra literária homônima), ele avalia ser
necessário se posicionar politicamente nos dias de hoje, principalmente diante
de uma série de ataques aos direitos sociais.
Em entrevista ao Brasil de Fato RN, durante o 11° Encontro
Nacional de Fé e Política, o religioso também explica que essa omissão política
leva a população a apoiar determinadas atitudes que serão prejudiciais a ela.
Exemplo disso é a defesa da ditadura militar e da reforma da Previdência,
classificada pelo frade como uma “ilusão” e um “engano”.
Propagador da Teologia da Libertação, Frei Betto também
aponta a necessidade desse segmento religioso dentro da fé cristã, por abordar
a “questão social no Brasil e na América Latina” e “lutar contra a opressão e
pela libertação da maioria do povo”.
Confira os melhores momentos da entrevista:
Brasil de Fato: Muito se fala sobre o tabu de que “política
e religião não se discutem”, mas o senhor prega justamente o contrário. Então,
por que falar sobre isso?
Frei Betto: Primeiro que, em nossas vidas, as duas dimensões
não se distinguem. Uma pessoa adepta de qualquer religião é também um ser
político, ainda que não tenha consciência disso. Não existe ninguém neutro em
política. Política todos nós fazemos, ou por participação ou por omissão. E
acrescento: quem tem “nojo” de política é governado por quem não tem. E uma
pessoa que é política, tem fé em alguma coisa. Mesmo que não seja uma fé
explicitamente religiosa.
Mas acrescento um fator ainda mais importante. Todos nós
cristãos somos discípulos de um prisioneiro político. Jesus foi preso,
torturado, interrogado e condenado, por dois poderes políticos, à pena de
morte. E por que ele foi tão barbaramente assassinado? Porque dentro do reino
de César, Jesus anunciava um outro reino possível: o de Deus. Isso era
considerado altamente subversivo. É como dentro de uma ditadura, alguém
anunciar a democracia.
Falando em ditadura, hoje em dia é possível de observar que
muitas pessoas estão voltando a defendê-la. Como que o senhor, ex-preso
político na época da ditadura militar no Brasil, vê esse processo?
É uma ilusão e um engano achar que a ditadura foi melhor.
Não, ela foi tão ruim que fracassou e deixou muitos estragos na economia, na
política e em todas as dimensões da vida nacional. Tanto que os militares
passaram a ter vergonha disso. Agora que estão tentando recuperar a sua imagem,
mas amarraram o burro na corda errada: que é a do governo Bolsonaro. Porque é
um governo que sonha com aquela ditadura, que criminosamente apoia a tortura e
exalta torturadores.
E a gente viu que, infelizmente, esse governo que afirmava
não adotar as mesmas práticas de gestões anteriores, as faz agora na reforma da
Previdência, liberando muito dinheiro para os deputados federais com emendas
parlamentares. Eles “emBolsonaram” a grana, e deram o voto favorável. É uma
reforma que vai prejudicar os trabalhadores do Brasil e, sobretudo, da classe
média baixa e pobre. Essas pessoas estão iludidas quando aplaudem essa reforma,
e mostram que há um total desconhecimento de seu conteúdo.
Como um grande propagador da Teologia da Libertação, como
que isso pode analisar o grande avanço do conservadorismo que enfrentamos hoje
em dia?
A Teologia da Libertação é a teologia que parte da questão
social no Brasil e na América Latina. Qual é o principal problema que temos
hoje?
A desigualdade social, que exclui muitas pessoas de acesso
aos bens essenciais a uma vida digna. Então, elas precisam ser libertadas
disso. Portanto, ela parte do princípio que ser cristão no Brasil e na América
Latina é lutar contra a opressão e pela libertação da maioria do povo que se
encontra com seus direitos fundamentais ameaçados ou lesados.
A religião, assim como a política, é uma faca de dois gumes:
pode ser usada para libertar ou para oprimir. Então, há setores identificados
com os privilégios dos mais ricos que utilizam a religião para consolidar essa
desigualdade. Mas eles não percebem que o importante é criar uma sociedade de
justiça, onde não haverá nem gente sumamente rica nem pobre, porque os bens
serão partilhados e solidarizados.
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Edição: Marcos Barbosa
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