Ruralista sem terras, Nelson Barbudo é acusado de incentivar
invasões de terra dos Xavante
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DE OLHO NOS RURALISTAS
28/05/2019 - UPDATED 10/09/20197:15 PM
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Ofensas a colegas de Congresso, derrubada do presidente
local do Incra e ameaças a indígenas fazem parte do estilo do deputado mais
votado do Mato Grosso; ele atua contra a TI Marãiwatsédé, antes invadida por
fazendeiros e objeto de desintrusão em 2012
Por Leonardo Furhmann
A barba longa e desgrenhada e o chapéu enterrado na cabeça,
que o torna parecido com o personagem Urtigão, de Walt Disney, são
características da face mais visível do estilo que fez Nelson Barbudo (PSL) ser
eleito o deputado federal mais votado do Mato Grosso na eleição passada. Fora
da imagem aparentemente folclórica, Barbudo é visto como uma ameaça aos
direitos dos povos originários do estado.
O principal constrangimento é imediato e causa preocupação
aos moradores da Terra Indígena Xavante de Marãiwatsédé, nas proximidades do
município de São Félix do Araguaia. Segundo a Fundação Nacional do Índio
(Funai), Barbudo prometeu invadir a demarcação e devolver o espaço a
agropecuaristas retirados da reserva, em 2012, por decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF). O Ministério Público Federal afirmou, em nota, que vai responsabilizar civil e
criminalmente quem tentar invadir a área indígena.
O território foi objeto de desintrusão – expulsão de
invasores, entre eles políticos – durante o governo de Dilma Rousseff. Barbudo
nega que esteja incentivando as invasões. Mas há vídeos em que ele ataca a
demarcação de terras. Ele é apontado por líderes indígenas, entre eles
Vanderlei Temireté Xavante, como um dos principais políticos que ameaçam a terra
indígena.
Vanderlei Temireté Xavante denuncia ameaças de Barbudo aos indígenas. (Foto: Câmara de Bom Jesus de Araguaia)
“Nosso direito à terra já foi reconhecido pela Justiça”,
disse Vanderlei Xavante em entrevista ao De Olho nos Ruralistas. “Nossos
ancestrais estavam aqui desde os anos 1920”. Vanderlei aponta o ex-senador José
Medeiros (Pode), segundo deputado federal mais votado, como outro autor de
incitação ao ódio contra indígenas.
Barbudo já mostrou suas garras em Brasília. Depois de não
conseguir emplacar um afilhado político na coordenação estadual do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ele passou a atacar o
engenheiro agrônomo Claudinei Chalito da Silva, que havia sido escolhido para o
cargo pelo presidente do Incra, general João Carlos de Jesus Corrêa. Chalito é
um funcionário de carreira do instituto. Barbudo tentava emplacar o pecuarista
Gilberto Cattani, dono de uma fazenda em Nova Mutum com 50 cabeças de gado
leiteiro, segundo a declaração dele à Justiça Eleitoral em 2018. Cattani foi
candidato a deputado estadual pelo PSL no ano passado, mas não conseguiu se
eleger.
Se não conseguiu levar o aliado para o cargo, Barbudo
conseguiu a demissão do nomeado, sob o argumento de que ele era ligado ao PT.
Na sua campanha contra Chalito, ele chamou o profissional de “meliante ligado à
esquerda”. O deputado afirmou em abril que os petistas continuam a dominar os
cargos na Funai e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e defendeu que o governo retire profissionais “de
esquerda” dos cargos de confiança.
PROJETO PROIBIU A PALAVRA CARNE EM PRODUTOS DE ORIGEM
VEGETAL
A incontingência verbal tem sido uma característica de
Barbudo também na Câmara. Ele xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de
“psicopata” após ela ter criticado uma carta enviada pelo então ministro da
Educação, Ricardo Vélez, às escolas. Vélez queria que fossem enviados vídeos ao
ministério dos alunos perfilados cantando o hino nacional e dizendo, em
seguida, o slogan de campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima
de todos”. A proposta foi engavetada após o anúncio do Ministério Público
Federal de que Vélez seria investigado por “improbidade administrativa” em
razão da carta. O ministro foi demitido dias depois.
Maria do Rosário é a mesma deputada que foi ofendida pelo
presidente Jair Bolsonaro em 2014, quanto ambos eram deputados. Bolsonaro
afirmou que só não “estupraria” a petista porque “ela não merecia” por ser
“feia”. O presidente foi condenado a indenizá-la pelas ofensas.
Como legislador, a proposta de Barbudo que ganhou maior
repercussão é a que proíbe o uso da palavra “carne” em produtos de origem
vegetal, como hambúrgueres de soja ou de jaca, consumidos por veganos e
vegetarianos. Para ele, o uso da expressão configura “propaganda enganosa”. O
parlamentar se apresenta como “produtor rural” e é coordenador de
infraestrutura e logística da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Apesar de se apresentar como “produtor rural”, Barbudo não
declarou a propriedade de terras ou de produtos ligados à produção à Justiça
Eleitoral no ano passado. Seu único bem listado é uma carreta de reboque
avaliada em R$ 2,5 mil. Nem o veículo para transportá-la o deputado alega ter.
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