Icônica integrante dos quadros petistas em Minas Gerais estava internada em Belo Horizonte; ela era advogada e professora universitária
15/12/2021 08:15 - atualizado 15/12/2021 10:05
De acordo com a família, não haverá velório, nem sepultamento ou cremação, atendendo a vontade manifesta de Sandra. Ela pediu para que seu corpo fosse doado para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou em Direito e também trabalhou como professora universitária.
Sandra foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), na década de 1980. Professora universitária, cientista política e bancária, Sandra Starling foi eleita para a Câmara dos Deputados entre 1991 e 1999.
Antes, em 1986, foi eleita deputada estadual para a primeira bancada petista na Assembleia Legislativa do Estado de de Minas Gerais (ALMG), juntamente com outros quatro parlamentares - Nilmário Miranda, Agostinho Valente, Raul Messias e Chico Ferramenta.
Em 1993, Sandra se licenciou da Câmara dos Deputados para assumir a Secretaria de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte, comandada então pelo correligionário e prefeito da capital, Patrus Ananias.
Candidata a governadora
Em 1982, Sandra disputou o governo mineiro. Ficou em terceiro lugar na eleição vencida por Tancredo Neves, eleito pelo PMDB, atual MDB.Na Câmara, chegou a liderar, por algum tempo, a bancada de parlamentares petistas. Contrária a algumas diretrizes da legenda, ela se desfiliou em 2010.
"Sandra nos deixa muitas saudades e um legado de luta. Um legado de uma luta feminista, que naquela época se dava em circunstâncias ainda mais difíceis. Sandra Starling: presente", disse o deputado federal Rogério Correia, do PT, ao Estado de Minas.
Trajetória política
A caminhada política de Sandra Starling começou na militância estudantil católica, nos anos 1960. Depois, ao ser admitida na Refinaria Gabriel Passos (Regap), participou da criação do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo (Sindipetro).Com a entidade de classe dissolvida pela ditadura (1964/1985) e ante as pressões do novo governo, passou a dar expediente na Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais (Minascaixa).
Em 1972, Sandra se formou em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde depois deu aulas como professora de Sociologia na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Em 1986, quando já compunha os quadros diretivos do PT, teve a cassação da Petrobras anistiada.
A ex-deputada teve curta passagem, em 2003, pela secretaria-executiva do Ministério do Trabalho, então encabeçado pelo baiano Jacques Wagner, no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Além de ser a única advogada em um partido integrado naquela época por economistas, sociólogos e cientistas políticos, houve outro fator que me favoreceu muito - a idade. Nem pensava em ser candidata a governadora, mas como o nosso candidato desistiu, e o outro possível candidato não tinha idade suficiente, acabei sendo indicada", afirma ela, em depoimento presente no livro "Mulheres na Política: As representantes de Minas no Poder Legislativo", organizado pela Assembleia de Minas.
Em 2014, ano da publicação da obra, Sandra afirmou que sua maior contribuição ao país foi a redação de lei, sancionada parcialmente pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que permite o ingresso de ações para apontar violações a constituição.
"Hoje (a lei) tem servido para temas como o do aborto em caso de anencefalia e vários outros de ordem altamente relevante para as minorias", relatou ela, contando ter sofrido críticas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Em suma, eu fiz uma lei que ajuda a minoria, porque a minha concepção de democracia não é a da prevalência da maioria, é a minoria ser respeitada. E isso não foi compreendido então", emendou.
Histórico e atuação
Quando deixou o PT, a mineira de Belo Horizonte criticou decisões centradas em Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de "caudilho". Ela era contrária à articulação que resultou no apoio a Hélio Costa (MDB) no pleito para governador em 2010. O petista Patrus Ananias foi o vice. Eles perderam para Antonio Anastasia, então no PSDB.À época, Sandra afirmou que a escolha de Dilma Rousseff para disputar o Palácio do Planalto teve, como contrapartida, apoio ao nome escolhido pelo MDB em Minas Gerais.
Como deputada, ela chegou a propor que o Sistema Único de Saúde (SUS) realizasse abortos permitidos pelo Código Penal. O texto, construído ao lado do colega Eduardo Jorge (PT, depois PV), só foi analisado pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara em 2008, 17 anos depois de ser apresentado, e acabou derrubado.
Em Brasília, Sandra Starling, que deixa três filhos e o marido Thales, também advogado, que assina o sobrenome de Sandra, presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Contra as Mulheres.
"Não acho que a mulher tenha necessariamente que levar para sua atuação parlamentar a temática feminista. Já tive muitos colegas homens que eram bastante feministas em suas ideias. Quando requeri uma CPI sobre a violência contra a mulher, que foi instalada e funcionou, o falecido deputado Artur da Távola, por exemplo, fez questão de participar", afirmou Sandra, que dizia ter fixação em torno das reformas política e administrativa.
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