Allan Pontelo foi agredido até a morte após se recusar a passar por um procedimento de "revista" em uma boate no bairro Olhos D'Água, na região Oeste de BH
atualizado em: 06/12/2021 às 08:10
Dois seguranças de uma boate localizada no bairro Olhos D'Água, na região Oeste de Belo Horizonte, são julgados, nesta segunda-feira (6), pelo assassinato do fisiculturista Allan Pontelo, em setembro de 2017.
A vítima foi morta após um desentendimento com outros dois seguranças da boate - já condenados - depois de ter se negado a passar por um procedimento de "revista" em um local afastado. De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a vítima foi espancada de forma violenta, com empurrões, chutes e socos, foi imobilizado e estrangulado até a morte.
Nesta segunda-feira (6), serão julgados Delmir Araujo Dutra e Fabiano de Araujo Leite.
Ainda segundo o MPMG, Delmir tinha histórico de abordagens truculentas contra clientes da boate. No dia do assassinato, ele esteve presente no local das agressões, tendo presenciado as agressões e atuado como "força de reserva". Delmir também é acusado de ter instigado outros dois seguranças a praticarem o crime.
Já Fabiano é acusado de se colocar armado, também como "força de reserva", ao lado dos seguranças condenados pelo assassinato e pronto para intervir "a fim de assegurar o êxito da ação criminosa".
Delmir Araújo Dutra teve a prisão decretada em 24 de outubro de 2017, quase 50 dias após o crime, e ficou detido por pouco menos de um mês. Ele foi solto em 22 de novembro. Já Fabiano, não chegou a ser preso.
Condenados
Três pessoas já foram condenadas pelo crime. Em 26 de novembro do ano passado, o segurança Paulo Henrique Pardim de Oliveira foi condenado a 11 anos de prisão, inicialmente em regime fechado. Os jurados reconheceram o envolvimento dele no assassinato, mas reconheceram que houve uma menor participação em relação a outros réus. Por isso, ele foi condenado a 11 anos de prisão.
Já William da Cruz Leal, de 35 anos, e Carlos Felipe Soares, de 33, foram condenados a 15 anos de prisão, em agosto do ano passado.
Médico espalha tese infundada de que vacinados são perigosos
e devem ser isolados
A alegação falsa surgiu em uma conversa do médico Christian Perronne, adepto de "teorias alternativas" e acusado de espalhar desinformação sobre a pandemia na França, com um canal negacionista do Reino Unido
18:18 | Dez. 03, 2021
Autor Projeto Comprova
Boato antivacina apela para declaração infundada de Christian Perronne, médico francês adepto de "teorias alternativas"(foto: Projeto Comprova)
Falso: Boato antivacina apela para declaração infundada de Christian
Perronne, médico francês adepto de “teorias alternativas”, para espalhar
desinformação. Ele não faz mais parte de grupo consultivo europeu da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e contraria evidências científicas ao
sugerir que as pessoas imunizadas têm mais problemas e são perigosas para os
outros.
Conteúdo verificado: Texto divulgado pelo grupo negacionista
norte-americano America’s Frontline Doctors que reproduz fala do médico
Christian Perronne e alega que a população vacinada contra a covid-19 é
perigosa e deve ser isolada da sociedade durante os meses de inverno.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site do Projeto
Comprova, do qual O POVO faz parte
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É falso que as pessoas vacinadas contra a covid-19 devem ser
colocadas em quarentena porque seriam “perigosas” e enfrentam mais “problemas”
do que aquelas que não receberam os imunizantes. Estudos científicos comprovam
que a vacinação reduz o risco de infecção, hospitalização e morte. Além disso,
pesquisas sugerem que, mesmo quando eventualmente contraem a doença, indivíduos
imunizados têm menos chance de transmitir o vírus para outros.
A alegação falsa surgiu em uma conversa do médico Christian
Perronne, adepto de “teorias alternativas” e acusado de espalhar desinformação
sobre a pandemia na França, com um canal negacionista do Reino Unido. O
discurso antivacina depois foi abraçado pela organização America’s Frontline
Doctors, ligada a grupos de extrema-direita dos Estados Unidos que já foi alvo
de uma série de checagens do Projeto Comprova e de veículos nacionais e estrangeiros.
Perronne realmente fez parte de um grupo consultivo europeu
sobre imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas isso ocorreu antes
da pandemia. Ele não integra atualmente o grupo e suas declarações não
representam a posição da entidade no enfrentamento da covid-19. A organização
afirma que as vacinas são eficazes e seguras e não recomendou o isolamento da
população vacinada.
Especialistas consultados pelo Comprova explicam que colocar
as pessoas vacinadas em quarentena durante o inverno é um discurso incorreto,
sem embasamento científico. A recomendação é de que vacinados sejam isolados
quando testarem positivo para a covid-19, assim como ocorre com qualquer outra
pessoa. Reforçam ainda que a vacinação protege contra a doença e que o maior risco
está entre aqueles que não receberam as doses.
O Comprova classificou o conteúdo como falso porque ele foi
inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Como verificamos?
O Comprova iniciou essa checagem após receber de vários
leitores uma mesma corrente no WhatsApp citando o America’s Frontline Doctors,
assim como outro formato, em vídeo. Esse é um sinal de que o conteúdo se
espalhou nos aplicativos de mensagem.
O primeiro passo da verificação foi encontrar as postagens
originais, por meio de buscas por palavras-chave. Em seguida, foram pesquisadas
mais informações sobre o médico Christian Perronne, as organizações e pessoas
que divulgaram essas informações na internet.
Depois, o Comprova pesquisou a posição da OMS sobre as
vacinas e apurou a existência de um grupo consultivo europeu sobre imunização.
Em seguida, analisou as informações atuais sobre estudos científicos que tratam
sobre a segurança e a eficácia dos produtos.
Dados oficiais de saúde em Israel e no Reino Unido foram
levantados para analisar uma das afirmações feitas na mensagem, assim como uma
verificação anterior do projeto Comprova que abordou declarações de um médico
israelense citado novamente neste boato.
O Comprova entrou em contato com dois especialistas para
esclarecer o assunto em questão: o presidente da Sociedade Brasileira de
Virologia (SBV) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Flávio Fonseca e o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm),
Juarez Cunha.
Por fim, houve a checagem dos nomes de todos os outros
médicos que supostamente teriam constatado que a vacina seria uma “arma
biológica” — outra tese que não faz sentido diante do fato de que a segurança
foi atestada pelas autoridades de saúde.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações
científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis
no dia 30 de novembro de 2021.
VerificaçãoVacinados não são ‘perigosos’
É falso que pessoas vacinadas sejam mais perigosas do que
não vacinadas no contexto da pandemia. Pelo contrário, estudos científicos
comprovam que os imunizantes reduzem a possibilidade de infecção pelo novo
coronavírus, assim como a evolução para quadros graves, hospitalização e
mortes. Evidências iniciais também sugerem que, mesmo em uma eventual
contaminação, os vacinados transmitem menos o vírus para outras pessoas.
A eficácia dos produtos é medida por meio de estudos
controlados, em que parte dos voluntários recebe a vacina e outro grupo,
placebo. Nem médico, nem paciente sabem o que cada um tomou, em um método
conhecido como duplo cego, que mitiga o risco de vieses comportamentais.
Depois, as taxas de infecção, hospitalização e óbito são comparadas.
As quatro vacinas aprovadas no Brasil apresentaram as
seguintes taxas de prevenção da doença: Coronavac, do laboratório Sinovac e
produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, 50,38%; Covishield, da
Universidade de Oxford/Astrazeneca e produzida nacionalmente pela Fiocruz,
70,4%; a Comirnaty, da Pfizer/BioNTech, de 95%; e a Janssen, da farmacêutica
Johnson & Johnson, 66,9%.
Isso significa que, nesses estudos clínicos rigorosos, com
milhares de voluntários, as pessoas vacinadas tiveram menos chance de adoecer.
O percentual se refere ao desfecho primário, ou seja, informa o quanto as
vacinas protegem contra casos sintomáticos da doença em uma pessoa totalmente
imunizada.
Os números são naturalmente ampliados quando o critério
passa a ser o risco de hospitalização e de mortes — esses casos são muito mais
raros entre as pessoas que receberam os imunizantes, a ponto de alguns estudos
sequer terem registrado mortes entre milhares de voluntários no grupo vacinado.
Nos estudos clínicos, a Coronavac, por exemplo, demonstrou
78% de proteção contra internações, enquanto Covishield e Comirnaty tiveram
100% de eficácia nos dados iniciais da pesquisa e a Janssen, 85%. Vale
ressaltar que nenhum imunizante elimina completamente a possibilidade de uma
pessoa contrair covid-19 e vir a óbito, o que demonstra a necessidade de
continuar se cuidando mesmo após receber a vacina em locais com alta circulação
do vírus.
Todos esses dados foram analisados por órgãos de saúde de
diferentes países, que concluíram que as vacinas são eficazes e seguras antes
de autorizar o uso na população. Além disso, os resultados foram publicados em
revistas médicas renomadas, como a The Lancet e a New England Journal of
Medicine, depois que especialistas e o corpo editorial das publicações
revisaram todos os aspectos técnicos das pesquisas.
A duração da proteção ainda é incerta, mas a imunidade
adquirida pela vacina continua presente meses após a aplicação e funciona
contra todas as variantes detectadas antes da Ômicron — esta, por ter surgido
recentemente, ainda passa pela análise dos pesquisadores.
Alguns estudos levantaram a discussão de que o risco de
contrair a covid-19 aumenta com o tempo e que algumas variantes, como a Delta,
teriam mais sucesso em romper essa barreira. Por esse motivo, o Brasil e outros
países recomendaram doses de reforço para a população.
Isolamento só para infectados
Presidente da SBV, o professor Flávio Fonseca ressalta que
isolar todas as pessoas vacinadas é uma alegação incorreta, sem embasamento
técnico ou científico. O que define a necessidade de isolamento é o eventual
contágio, uma vez que os imunizantes reduzem a incidência de quadros graves de
covid-19 e morte, mas não eliminam a possibilidade de contaminação.
Ele explica que nenhuma vacina hoje disponibilizada no país
– Coronavac, Astrazeneca, Pfizer e Janssen – tem característica infecciosa para
justificar o isolamento sugerido na publicação.
A Coronavac, esclarece Fonseca, é constituída por vírus
morto e, portanto, não pode transmitir o patógeno de uma pessoa para outra.
A Astrazeneca e a Janssen são compostas por adenovírus não
replicativos, isto é, são vírus vivos, porém manipulados geneticamente de modo
que não têm capacidade de se reproduzir no ser humano e, consequentemente, de
serem transmitidos.
Por fim, reforça o presidente da SBV, a vacina da Pfizer,
assim como a Coronavac, não tem vírus vivo. A tecnologia utilizada pela Pfizer
é do RNA mensageiro, que não se replica e não pode ser repassado pelos
vacinados.
“Resumindo: nenhuma das vacinas existentes atualmente para
covid-19 é caracterizada como infecciosa, capaz de causar infecção numa pessoa,
ou ser transmitida de uma para outra. Então, esse conteúdo é absolutamente
falso, é incorreto”, sustenta Fonseca.
Na mesma linha, o presidente da SBIm, Juarez Cunha, observa
que o critério para isolamento das pessoas é o fato de estarem infectadas pelo
Sars-Cov-2, e não por terem sido vacinadas.
Cunha diz ainda que a expressão “arma biológica” só se
aplica aos imunizantes no sentido protetor e não de causar prejuízos. “A vacina
vai fazer com que o organismo crie proteção, anticorpos para que, quando a
pessoa tiver contato com vírus, já esteja com sua defesa encaminhada.”
Na avaliação do presidente da SBIm, publicações como este
conteúdo verificado, que citam médicos, tentam conferir credibilidade às
alegações apresentadas. Contudo, ressalta, são mentiras.
Juarez Cunha afirma que os efeitos adversos da vacina até
podem ocorrer, mas são raros, e, ao contrário do alegado na postagem, a maioria
dos casos de hospitalização e morte ainda hoje registrados pela covid-19
refere-se a pessoas não vacinadas.
Dados de Israel e do Reino Unido
O texto menciona a taxa de hospitalização em Israel e no
Reino Unido entre os vacinados e os não vacinados para alegar que as vacinas
não funcionam. A tese não se sustenta, segundo estatísticas oficiais.
O Ministério da Saúde de Israel informava 4.858 casos ativos
de covid-19 no país nesta segunda-feira, 29 de novembro. Destes, 3.624 não
estavam vacinados, o equivalente a 75%. Em contrapartida, a população com
esquema vacinal completo respondia por 692 casos (14%). O grupo dos
parcialmente protegidos contabilizava 542 (11%).
Chama atenção a quantidade de infecções em crianças de 5 a
11 anos, incluídas recentemente na campanha e ainda com baixo acesso aos
imunizantes. Mas a quantidade de infectados que não receberam nenhuma dose é
superior em todas as faixas etárias em Israel, independentemente do nível de
cobertura.
Na contagem de casos graves, que pode ser entendida como a
quantidade de internados com a doença no país, a diferença é brutal: 96 dos
casos estavam entre os não vacinados (83%), 10 entre os parcialmente vacinados
(9%) e 9 na população totalmente imunizada contra a covid-19 (8%).
O levantamento mostra que, mesmo utilizando apenas os dados
absolutos, as hospitalizações em Israel ocorrem principalmente entre a
população que não tomou a vacina. Ao se analisar a quantidade relativa, ou
seja, o número de casos a cada 100 mil habitantes em cada um dos três grupos
(vacinados, parcialmente vacinados e não vacinados), essa diferença é ainda
mais representativa.
Isso porque a maioria dos israelenses já está imunizada
contra a covid-19: 57,6% da população havia recebido as doses necessárias até
28 de novembro, além de 67% estarem ao menos parcialmente protegidos com uma
dose.
A tabela divulgada pelo Ministério da Saúde, ajustando pelo
tamanho desigual do público exposto, torna ainda mais evidente o fato de que a
vacina reduz o risco de contrair a doença e desenvolver quadros graves, como
pode ser verificado aqui (o conteúdo original está disponível em hebraico e foi
traduzido por meio do Google Tradutor).
Para o Reino Unido, o Comprova não encontrou uma base de
dados aberta informando o percentual de casos ativos e internações entre
vacinados e não vacinados, mas a Agência de Segurança de Saúde divulga esse
tipo de análise em seus boletins semanais sobre a covid-19. O documento mais
recente foi publicado em 25 de novembro e compila dados das quatro semanas anteriores.
O relatório do órgão britânico mostra que as vacinas
reduziram a necessidade de internação e também as mortes em todas as faixas
etárias. Isso pode ser constatado em uma tabela que compara a quantidade de
pessoas hospitalizadas e de óbitos pela covid-19 no Reino Unido a cada 100 mil
habitantes.
Já a incidência geral de casos de covid-19 tem sido maior no
grupo de vacinados em alguns espectros de idade, mesmo ponderando pelo tamanho
da população exposta em cada um dos grupos. Ainda assim, esse tipo de
informação deve ser analisada com cautela e não serve para contestar a
efetividade das vacinas, conforme explica a própria fonte dos dados em uma
página de transparência.
Segundo a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido,
alguns exemplos de fatores que podem ocasionar um aumento ou uma redução
artificial nas taxas medidas a partir da quantidade de total casos de covid-19
são:
pessoas totalmente vacinadas podem ser mais conscientes em
relação à saúde e inclinadas a fazer testes de covid-19 quando apresentam
sintomas;
muitas das pessoas que completaram o esquema vacinal
primeiro pertencem a grupos de risco;aspectos comportamentais diferentes em
cada um dos grupos podem afetar o risco de exposição ao novo coronavírus;
o grupo de pessoas não vacinadas pode incluir indivíduos que
adquiriram imunidade natural contra a doença após uma contaminação prévia.
O presidente da SBIm, Juarez Cunha, explica que, quando há
um grande percentual da população imunizada, proporcionalmente, até pode haver
um número maior da doença registrado entre os vacinados. Mas, segundo ele, é
preciso avaliar todas as variáveis, inclusive a circulação de variantes, como a
Delta, que no Reino Unido e em Israel se apresentaram de maneira diferente do Brasil.
“São muitas variáveis para analisar. Outra também é o
desfecho dessas pessoas (recuperação ou morte), tanto vacinadas quanto não
vacinadas. É preciso muito cuidado ao avaliar os números. Numa população em que
80% está vacinada e 20% não está, provavelmente o número de pessoas que vão se
infectar, mesmo vacinadas, vai ser importante, até porque a proporção de
vacinados é muito maior”, argumenta.
Segundo o governo do Reino Unido, 68,9% da população estava
totalmente imunizada contra a covid-19 e 75,8% receberam ao menos a primeira
dose da vacina até 28 de novembro.
De acordo com o documento da Agência de Segurança de Saúde
do Reino Unido, estudos científicos com metodologias adequadas mostram que,
mesmo em um cenário de dominância da variante Delta, a eficiência da vacina
contra a infecção está estimada em 65% para a Astrazeneca e 80% para a
Pfizer/BioNTech. Evidências apontam ainda uma redução drástica na quantidade de
internações e mortes e também uma chance reduzida de transmissão no caso de uma
eventual contaminação.
Declarações de médico israelense
O médico israelense citado nos conteúdos falsos que circulam
no Brasil é Kobi Haviv, diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém. A sua
entrevista ao canal 13 foi distorcida anteriormente, como mostrou uma
verificação do projeto Comprova, publicada em agosto.
Na fala, Haviv afirma que de 85% a 90% das pessoas
hospitalizadas no Herzog estavam vacinadas e que a efetividade da vacina
poderia estar diminuindo. O dado de 95% entre os pacientes gravemente enfermos
não aparece na entrevista, apenas na legenda original em hebraico feita pela
emissora local de televisão.
É falso que essa declaração demonstre que as vacinas não
funcionam, como sugere o boato. O Comprova mostrou que Israel realmente
apresentava uma quantidade maior de pessoas vacinadas entre as internadas
naquele momento, considerando números absolutos. Entretanto, o conteúdo omite
que um percentual muito maior de idosos estava imunizado naquele momento, o que
torna essa comparação injusta.
Quando a análise é feita considerando o tamanho da população
imunizada versus o grupo de pessoas que não receberam as vacinas — ou seja, o
número de internados a cada 100 mil habitantes, como orienta o Ministério da
Saúde de Israel — o país tinha uma taxa de hospitalização maior entre os não
vacinados, em todas as faixas etárias. Esse cenário indica que as pessoas que
não tomaram as vacinas estavam sob maior risco de precisar de suporte médico,
como esperado.
O boato ainda omitia o fato de que a unidade hospitalar de Haviv
atende predominantemente pessoas idosas, maior faixa etária vacinada do país, e
que o médico defende as vacinas e aplicação de doses de reforço.
Teoria antivacina
Ao final da mensagem, o boato analisado pelo Comprova parece
recuperar uma teoria infundada que circulou anteriormente na Alemanha e falava
sobre um suposto “enfraquecimento do sistema imunológico”. O boato alega que as
vacinas aumentariam, assim, o risco de morte por outras doenças que não a
covid-19.
A história não passava de uma distorção maldosa de uma
pesquisa holandesa, não revisada por pares, que analisou a resposta imune de 16
pessoas imunizadas com a vacina da Pfizer/BioNTech. Um dos pesquisadores
envolvidos refutou a interpretação dada nas redes sociais ao estudo em
entrevista à rede alemã Deutsche Welle.
“Em nosso estudo não obtivemos nenhum dado clínico que nos
permita dizer que a vacina enfraqueça o sistema imunológico e que os inoculados
sejam mais suscetíveis a infecções e outras doenças”, afirmou Mihai Netea, da
Universidade Radboud, da cidade holandesa de Nijmegen.
De acordo com os estudos clínicos que embasaram a aprovação
das vacinas contra a covid-19 no Brasil, a maioria das pessoas desenvolve
efeitos colaterais de caráter leve a moderado, como dor no braço e sintomas
semelhantes a uma gripe, poucos dias após a aplicação das doses. A campanha de
vacinação é monitorada pelos órgãos de saúde, que avaliam constantemente a
incidência de eventos graves e inesperados.
Origem da desinformação
Tanto a corrente de WhatsApp quanto o vídeo falso verificado
pelo Comprova se baseiam em um texto espalhado pelo America’s Frontline
Doctors, em 17 de agosto de 2021, com o título: “Especialista em imunização:
pessoas não vacinadas não são perigosas; pessoas vacinadas são perigosas para
os outros”.
O site é mantido por uma organização de médicos
negacionistas dos Estados Unidos que costuma espalhar teses pseudocientíficas e
desinformação sobre covid-19. Uma de suas ativistas mais conhecidas, por
exemplo, já apareceu em um evento religioso dos Estados Unidos dizendo que as
vacinas causariam efeitos adversos nunca relatados.
O grupo ganhou notoriedade ainda no ano passado, após
aparecer em frente à Suprema Corte mentindo que existiria uma “cura” para a
doença e que as máscaras seriam dispensáveis durante a pandemia. Esse boato foi
compartilhado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e pela cantora
Madonna.
Recentemente, o America’s Frontline Doctors passou a ser
investigado por um subcomitê do Congresso dos Estados Unidos. O grupo é acusado
de lucrar mais de US$ 6,7 milhões ao promover remédios sem eficácia comprovada
ou sabidamente ineficazes contra a covid-19 ao mesmo tempo em que anunciava a
prescrição do kit em consultas de telemedicina.
Houve casos em que nem isso era garantido. A revista Time
encontrou centenas de clientes que pagaram por um serviço que prometia a
prescrição de ivermectina e depois não receberam nada, segundo reportagem
publicada em agosto deste ano.
De acordo com uma apuração do site The Intercept, o
America’s Frontline Doctors mantém laços estreitos com grupos de
extrema-direita dos Estados Unidos e apoiadores de Trump, como o Tea Party
Patriots. Simone Gold, uma das fundadoras e principais líderes do grupo, foi
presa pelo FBI por participar da invasão ao Capitólio.
O boato atribui a tese de que “vacinados precisam ser
isolados” a Christian Perrone, um médico francês que ocupou a vice-presidência
de um grupo consultivo europeu de especialistas em imunização da OMS, alguns
anos antes da pandemia de covid-19. Ele não faz parte da composição atual do
grupo, segundo o site oficial da entidade.
As falas aparecem em um vídeo de Perronne divulgado pelo
America’s Frontline Doctors, sem explicar o contexto da declaração. A origem,
segundo apurou o Comprova, é uma gravação de quase uma hora e meia em que
Perronne conversa com um canal chamado “UK Column”. Esse site adota a linha
antivacina e teorias da conspiração, como a de que o coronavírus seria uma
“arma biológica” e a pandemia, uma “farsa”.
De acordo com a imprensa francesa, Perronne se notabilizou
na pandemia como um defensor de medicamentos ineficazes contra a covid-19, como
a hidroxicloroquina, e foi alvo de queixas formais no Conselho Nacional da
Ordem dos Médicos pela prática de “charlatanismo” e por desinformar a população
a respeito da pandemia.
Em perfil publicado em novembro de 2020, o Le Monde mostrou
que Perronne foi uma das “estrelas” de um documentário sobre “teorias
alternativas” relacionadas com a covid-19. A reportagem confirma que, antes, o
médico foi presidente da Comissão de Doenças Transmissíveis do Conselho
Superior de Saúde Pública e teve responsabilidades em grupos de trabalho na
Agência de Medicamentos e na Organização Mundial de Saúde.
Em 17 de dezembro de 2020, ele foi demitido de seu posto de
chefia no Assistance Publique-Hôpitaux de Paris (AP-HP), que administra
hospitais universitários na capital francesa e região, depois de acumular
polêmicas. Em nota, a instituição comunicou que o ex-chefe do departamento de
doenças infecciosas e tropicais do hospital Raymond-Poincaré em Garches
(Hauts-de-Seine) foi afastado de suas funções por “comentários considerados
inadequados para a função que exerce”.
“Ao sugerir que a pandemia era uma emergência fabricada para
beneficiar as empresas farmacêuticas, Perronne se tornou um autor líder em
vendas e uma referência no círculo antivacina”, destaca o canal France24, outro
veículo de mídia a abordar as ações do médico. A reportagem aponta que esse
tipo de atuação se tornou um desafio para as autoridades de saúde da França.
Em abril de 2021, a revista semanal L’Express publicou uma
reportagem afirmando que Perronne já havia sido “marginalizado entre os
especialistas em doenças infecciosas” antes do surgimento do novo coronavírus
“devido às suas posições heterodoxas sobre a doença de Lyme”. A pandemia de
covid-19 teria “exposto a tendência de Christian Perronne para teorias
pseudocientíficas e até conspiratórias”.
O boato analisado pelo Comprova também circulou em formato
de vídeo. Um homem que apresenta um canal chamado Marcão News faz a leitura do
texto do America’s Frontline Doctors. Esse é o apelido de Marcos Antonio De
Oliveira Santos, um ex-candidato a vereador de São Paulo pelo PRTB, em 2020.
Quem são os outros médicos citados na publicação
No conteúdo aqui verificado, o texto é finalizado citando
oito nomes de supostos médicos a fim de conferir credibilidade às alegações
apresentadas. Todos eles, entretanto, já foram alvo de checagem de veículos
nacionais e internacionais, ou do Comprova, por desinformação relacionada à covid-19.
Ryan Cole é um dermatologista norte-americano especializado
em patologia. Em agosto, o Comprova classificou como enganoso um vídeo em que o
médico sugeria o aumento de casos de câncer de endométrio como consequência da
vacinação.
Antes, ele já havia questionado a segurança e eficácia da
vacina, alegação que foi contestada pelo FactCheck.Org.
Cole integra a Associação de Médicos Independentes do estado
de Idaho, grupo formado em 2013 por profissionais que possuem suas próprias
práticas médicas, com “liberdade de diagnosticar e tratar sem sobrecarga de
interesses potencialmente conflitantes”, segundo define o site da organização.
Já Luc Montagnier é um médico francês, laureado com o Nobel
de Medicina em 2008 por suas descobertas referentes ao HIV, mas posicionamentos
recentes sobre a covid-19 têm se mostrado polêmicos e já foram refutados, como
demonstrou o Estadão Verifica em maio.
Naquela ocasião, Montagnier havia afirmado, em um vídeo, que
a vacina produzia novas variantes e seria responsável pelo agravamento da
pandemia. O filme foi excluído das plataformas de compartilhamento de vídeo por
se tratar de conteúdo de desinformação.
O francês também já havia sido citado em uma verificação do
Comprova, que negava a contaminação por HIV de pessoas vacinadas na Austrália.
A afirmação não foi feita por Montagnier, porém ele era referenciado pelo autor
da publicação. A checagem foi realizada em dezembro passado e, naquele período,
o médico fez inúmeras conjecturas sobre o surgimento do Sars-Cov-2, inclusive que
teria sido criado em laboratório na tentativa de descobrir a vacina para a
Aids. O conteúdo foi desmentido.
Em seu perfil, a norte-americana Carrie Madej se apresenta
como osteopata – vertente de medicina alternativa. As declarações sobre a
covid-19 já foram contestadas em diversas situações, como a publicação da AFP
esclarecendo que imagens de um suposto “objeto estranho com tentáculos” em
frasco de vacina não tinham valor científico.
O G1 e a BBC, por sua vez, classificaram como falso, em
julho do ano passado, um conteúdo em que Carrie alegava que as vacinas poderiam
gerar seres geneticamente modificados.
Mais recentemente, a médica voltou a aparecer com seu
discurso antivacina. No início de novembro, passou a circular um vídeo em que
ela ensinava um banho para “desintoxicação” daquelas pessoas que se sentiram
obrigadas a tomar o imunizante contra a covid-19. Publicação da NBC News aponta
que “os ingredientes do banho geralmente não são prejudiciais, embora os
supostos benefícios associados a eles sejam inteiramente fictícios.”
Outro médico norte-americano que aparece na lista para
validar o conteúdo aqui verificado é Robert Malone. Ele tem uma página pessoal
na internet em que, entre outras afirmações, defende o tratamento precoce e o
uso de ivermectina contra a covid-19, antiparasitário que, até o momento, não
tem comprovação de eficácia para pacientes infectados pelo coronavírus. Nesse
site, o médico demonstra ainda apoio a um movimento nacional contra a vacinação
de crianças.
Em seu perfil, Malone se apresenta como o inventor da vacina
de RNA mensageiro, tecnologia utilizada em imunizantes como o Comirnaty, da
Pfizer, porém o conteúdo foi considerado enganoso em uma checagem do jornal
Sapo, de Portugal.
A IstoÉ Dinheiro também apresentou uma reportagem da AFP,
indicando que estudos científicos equivocados alimentam a desinformação sobre a
covid-19. Entre os artigos avaliados está um de Malone que havia sido publicado
em uma revista médica, que depois se retratou porque havia“vários erros que
afetam fundamentalmente a interpretação das conclusões”.
Nesse grupo de médicos encontra-se também a brasileira Maria
Emília Gadelha, otorrinolaringologista que, por diversas vezes, teve conteúdos
analisados pela equipe do Comprova.
No mais recente, vários boatos foram divulgados pela médica
durante o 2° Congresso Conservador Liberdade e Democracia, realizado em São
José, na Região Metropolitana de Florianópolis, no dia 14 de novembro. No vídeo
gravado durante o evento, ela afirmava que a vacina contra a covid-19 aumenta
casos de AVC entre pilotos de avião e também de aborto espontâneo, o que é
falso.
Outra manifestação de Maria Emília alegava que as vacinas
são experimentais, o que não é verdade. A médica já teve conteúdos retirados
das redes sociais por compartilhar desinformação.
Embora seja reconhecida como Dr Jane Ruby, a norte-americana
não é médica. Numa checagem da PolitiFact, ela é descrita como economista da
saúde e “analista política da Nova Direita” com doutorado em psicologia. O
conteúdo verificado foi classificado como falso por afirmar que a vacina
despeja milhões de perigosas proteínas no corpo humano.
Em outra publicação, Jane foi desmentida pelo First Draft
News devido a falsas alegações sobre vacinas magnéticas, enquanto a Reuters
sustenta que é falso vídeo alertando sobre supostas anomalias no sangue depois
da vacinação. A participação de Jane neste caso, segundo a Reuters, é em um
debate com outra pessoa de perfil antivacina, espalhando a desinformação.
Na relação dos que avalizam o conteúdo, tem ainda o
cientista britânico Michael Yeadon. Em dezembro passado, ele afirmava que a
pandemia tinha acabado e que as vacinas não seriam necessárias, conforme
checagem da AFP. Nessa publicação, é traçado o perfil de Yeadon, que se
apresenta como ex-dirigente da Pfizer. A farmacêutica confirmou que ele foi
funcionário da empresa, mas não ocupou cargos de alto escalão.
Outro que nega a pandemia e está na lista é Roger Hodkinson,
médico registrado no estado de Alberta, no Canadá. Suas declarações já
estiveram na mira da Associated Press, bem como do Comprova, que definiu como
falso um tuíte que usava afirmações de Roger.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos
sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de
viralização.
Desde o início da crise sanitária, conteúdos de
desinformação circulam para minimizar os efeitos e riscos do contágio por
coronavírus, promover medicamentos sem eficácia para a covid-19 e desacreditar
a vacina. Todo esse movimento é prejudicial porque causa dúvidas na população
que, por essas alegações, pode deixar de se proteger e ficar mais vulnerável à
doença.
Assim como os médicos citados nesta checagem, não é raro o
Comprova verificar conteúdos enganosos ou falsos compartilhados por profissionais
da saúde que se mostram antivacina, a exemplo do que sugere erroneamente que a
vacinação em massa amplia a taxa de mortalidade por covid-19 ou que o órgão
sanitário dos Estados Unidos supostamente comprovou que não vacinados e
reinfectados não seriam capazes de transmitir a doença.
Lupa e AFP desmentiram esse mesmo boato em novembro.
Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha
sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo
deliberado para espalhar uma mentira.
Esta investigação foi feita por Estadão e A Gazeta. A
checagem da investigação foi realizada por Correio de Carajás, Rádio Band News,
UOL, Gaúcha Zero Hora e Correio.
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