segunda-feira, 25 de março de 2019

Bolsonaro entrega a Base de Alcântara e presta contas à CIA




Encontro não fazia parte da agenda

Bajulação sem limites: mata Programa Espacial brasileiro, fere soberania
Jair Bolsonaro desapareceu na manhã desta segunda-feira (18) nos Estados Unidos. Nenhum de seus assessores tinha informações sobre o paradeiro do presidente. Depois soube-se que ele estava numa reunião não agendada na sede da CIA, a agência de espionagem norte-americana. 
A reunião era clandestina. Não foi incluída na agenda oficial. Apenas Eduardo Bolsonaro, seu filho, sabia da agenda secreta, e foi ele quem deu a informação, através de seu twitter: “Será uma excelente oportunidade de conversar sobre temas internacionais da região com técnicos e peritos do mais alto gabarito”, disse ele.
No jantar do domingo, Bolsonaro já dava a entender que seria capaz de dar essa demonstração de capachismo explícito no dia seguinte. Ser o único presidente da República de um outro país do mundo, inclusive já atingido por ações da agência, a visitar o antro de assassinos da CIA e, além disso, colocar seu filho para elogiá-los.
O órgão é conhecido pelos escândalos e assassinatos de lideranças políticas e presidentes na América Latina e no resto do mundo. Sua especialidade sempre foi derrubar governos “rebeldes” que defendem o uso de suas riquezas em benefício de seus povos. 
Os elogios de Eduardo Bolsonaro a seus integrantes e o fato do presidente prestigiar a agência de espionagem americana, antes de visitar a própria ABIN, a agência de segurança brasileira, causou mal-estar entre os militares brasileiros. O diretor-geral da ABIN, Janér Tesch, nem mesmo na comitiva presidencial estava.
Bolsonaro fez questão de destacar, durante sua fala no jantar, o seu lema da campanha eleitoral: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Coincidentemente este é o mesmo lema oficial da CIA, que ele visitaria no dia seguinte. Provavelmente a lembrança do “lema” era uma espécie de senha para a reunião secreta com os espiões. O encontro na manhã desta segunda-feira na CIA não passou de uma prestação de contas de seus planos entreguistas, antes da audiência com o “chefe”, na terça. 
Diante da repercussão negativa da reunião clandestina, o Planalto divulgou nota justificando que “o motivo da visita está ligado à importância que o presidente confere ao combate ao crime organizado e ao narcotráfico, bem como à necessidade de fortalecer ações da área de inteligência que abrangem o Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao Gabinete de Segurança Institucional, entre outros órgãos”. Realmente, muito importante. A CIA tem uma grande experiência em “crime organizado”. E também é profundamente conhecedora de “crimes organizados e encobertos”. 
Bolsonaro na verdade está nos Estados Unidos para informar ao presidente Trump que está à sua inteira disposição. Tanto que ele disse no jantar com a direita americana que sempre teve uma grande admiração pelos Estados Unidos e que a visita é para “unir forças com Trump”. ‘Unir essa força’ com Trump é levar na bagagem a entrega da Base de Alcântara, no Maranhão. A estrutura é considerada melhor base de lançamento de foguetes do mundo, por estar muito próximo da Linha do Equador. Entregar a base poderá inviabilizar o programa espacial brasileiro. 
Já as conversas reservadas com a CIA, provavelmente eram para dizer a eles que não precisam mais se preocupar com o Programa Espacial brasileiro. Este mesmo programa, que, apesar de um grande esforço de seus técnicos, cientistas e engenheiros, não conseguiu se viabilizar por conta de grandes pressões exercidas pelo governo americano. O projeto viveu as estranhas experiências de duas grandes explosões em suas instalações, até hoje não esclarecidas. 
Desde a última delas, ocorrida em 2003, o Programa Espacial Brasileiro enfrenta dificuldade de ser retomado. Naquela ocasião, uma ignição prematura e incomum de um dos motores resultou na explosão do protótipo de 21 metros de altura e na morte de 21 tecnologistas do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Depois desses “desastres” nas plataformas de lançamento, o governo americano intensificou o lobby para se apoderar da Base de Alcântara. 
Os EUA não só fizeram lobby, como, ao não conseguirem seus intentos no governo FHC, retaliaram o Brasil, proibindo qualquer empresa americana de vender produtos para o programa espacial brasileiro, para uso em Alcântara. Quando o Brasil fez um acordo de transferência de tecnologia com a Ucrânia, os EUA, como se poderá ver mais adiante, intensificaram a sabotagem. 
O Senado Federal havia barrado a tentativa do governo brasileiro de entregar a Base de Alcântara ao controle norte-americano no final do governo Fernando Henrique. Os parlamentares da época e os militares consideraram uma afronta à soberania nacional as cláusulas que designavam áreas inteiras da base para uso dos Estados Unidos, proibindo que brasileiros tivessem acesso a elas. 
Além disso, o acordo com os americanos, que Bolsonaro, agora quer reeditar, em sua bajulação a Trump, proibia que os recursos obtidos com o uso da base fossem reinvestidos no Programa Espacial brasileiro. Ou seja, o objetivo, além do domínio territorial brasileiro, era claramente impedir o desenvolvimento pelo Brasil da tecnologia aeroespacial. 
Bolsonaro vai simplesmente informar ao governo americano que, sob seu governo, a Base de Alcântara poderá ser usada por eles, como eles quiserem, ou seja, com as “salvaguardas” que o Senado havia rejeitado. 
E mais, Bolsonaro, na verdade, vai dizer a Trump que o país vai abrir mão de desenvolver seu projeto de criar uma base de lançamento de foguetes. Trump certamente vai agradecer a gentileza, afinal esse era o grande objetivo do governo dos EUA, como revelaram os telegramas divulgados pelo WikiLeaks. 
Em 2011, a divulgação feita pelo site WikiLeaks de telegramas diplomáticos entre a embaixada dos EUA e a Casa Branca mostrou que o objetivo do governo americano era impedir que o Brasil obtivesse tecnologia própria no setor aeroespacial. Isto ficou claro depois que o Brasil assinou em 2006 um acordo com a Ucrânia, no Programa Cyclone 4, de construção de uma plataforma de lançamento de satélites.
O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão.
O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro de 2009, relatava que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. 
A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não querem” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.
“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.
Se oferecendo de forma escancarada, Bolsonaro ainda se meteu a ensinar o padre nosso aos vigários da direita americana. Ele disse, durante o jantar, que “nós sabemos que quando a diplomacia não dá muito certo, na retaguarda tem as Forças Armadas”. Como se esse tipo de ação fosse desconhecido dessa gente. 
Os EUA já fizeram centenas de invasões de países que ousaram defender as suas riquezas. Não precisa o capacho dizer o que eles têm que fazer para roubar as riquezas dos povos. Só para refrescar a memória, seguem abaixo algumas das atividades dos “peritos do mais alto gabarito” da CIA pelo mundo afora.
Em 1953, a CIA trabalhou com o Reino Unido para derrubar o governo democraticamente eleito de Irã liderado pelo primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, que havia tentado nacionalizar a indústria de petróleo do Irã, ameaçando os lucros da Anglo-Persian Oil Company. 
A CIA armou uma insurreição anti-comunista, durante décadas, para se opor a que o Tibete continuasse na República Popular da China. 
O maior e mais complicado esforço para um golpe, aprovado na Casa Branca, foi a operação da Baía dos Porcos. De acordo com as iniciativas das administrações Eisenhower e Kennedy, a CIA treinou exilados e refugiados cubanos anti-comunistas para desembarcar em Cuba na tentativa de derrubar o governo de Fidel Castro. 
Em 1960, a Bélgica foi obrigada a conceder independência ao seu território mais valioso, o Congo Belga. Um líder da luta anti-colonial bem sucedido, Patrice Lumumba foi eleito para ser o primeiro primeiro-ministro do país após sua independência do domínio colonial.
Logo após a eleição, durante a Crise do Congo, a CIA e o governo belga orquestraram um golpe militar para derrubar o governo de Lumumba do poder. Lumumba foi posteriormente assassinado na prisão.
A CIA apoiou a derrubada de Rafael Trujillo, da República Dominicana, em 30 de maio de 1961. Em um relatório ao Procurador Geral Adjunto dos Estados Unidos, oficiais da CIA descreveram a agência como tendo “nenhuma parte ativa” no assassinato e somente uma “conexão fraca” com os grupos que planejaram o assassinato, mas uma investigação interna da CIA, por seu Inspetor Geral, revelou um “envolvimento bastante extenso da agência com os conspiradores”. 
Em 1962, a agência avisou o serviço de inteligência da África do Sul sobre onde Nelson Mandela estava. Isso o levou à prisão por 27 anos. A CIA depôs um presidente guatemalteco em 1954. O governante foi eleito democraticamente e, no seu lugar, entrou um ditador. 
João Goulart, presidente democraticamente eleito, foi derrubado por um golpe militar apoiado pela CIA em março de 1964. Em 30 de março, o adido militar estadunidense no Brasil, coronel Vernon A. Walters, telegrafou à Casa Branca confirmando que havia se encontrado com o general Ulhoa Cintra naquela madrugada. Todo o apoio foi dado ao golpe. 
Em um programa chamado “operação Fênix” da CIA no Vietnã do Sul, executou-se secretamente, sem julgamento pelo menos 20.000 civis. Isso porque eles eram suspeitos de pertencerem ao Partido Comunista.
A empresa já possuiu uma corporação fictícia chamada “Air America”. Esta operava como uma companhia aérea civil, mas era usada para conduzir operações militares. Durante a “Guerra Secreta”, a CIA recrutou 50% da população Hmong para a Guerra do Vietnã. 
Esses são apenas alguns exemplos da atuação dos “excelentes peritos” que se reuniram com Bolsonaro.

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