Querem direito de usar armas 24 horas
A relação tensa entre agentes penitenciários e presos está produzindo
uma pressão no Congresso Nacional para que esses profissionais consigam
o direito ao porte de arma. O assassinato de pelo menos sete agentes
penitenciários, de agosto a dezembro do ano passado, no país, serve de
combustível para a discussão. Segundo o Sindicato dos Servidores do
Sistema Penal do Rio, dois mil agentes foram assassinados no país na
última década.
Dois projetos de lei tramitam em conjunto no Senado
para conceder a licença aos agentes. Um deles é do deputado federal
Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em paralelo, já houve uma manifestação formal do
Departamento Penitenciário Nacional (Depen), vinculado ao Ministério da
Justiça, pela liberação do porte.
De acordo com o Estatuto do
Desarmamento, de 2003, agentes penitenciários só podem utilizar armas
durante o expediente. Isso significa que, ao contrário de militares,
policiais e bombeiros, eles não têm o direito automático de andarem
armados 24 horas.
— Se falta um sabonete, o presidiário já culpa o
agente penitenciário. Ele é o elemento em visão o tempo todo na prisão —
explica o deputado Jair Bolsonaro.
Na prática, o que acaba
acontecendo é que alguns agentes penitenciários conseguem porte de arma
depois de buscarem a licença por conta própria — assim como outras
pessoas podem conseguir se fizerem cursos e atenderem a requisitos.
Outros agentes andam armados à margem da lei.
O deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) votou contra o projeto, na Câmara. Para ele, a liberação pode gerar mais violência.
—
Liberar o porte para todos os agentes significa colocar um número
enorme de armas em circulação. Aumentam as chances de desvio dessa armas
para prática de crimes e aumenta o risco de vida para os próprios
agentes. Defendo que os agentes utilizem armas só no horário de
trabalho, até para segurança deles — diz Molon.
O presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio, Francisco Rodrigues, defende o porte:
—
É uma questão de necessidade. Tirar a arma da cintura de um pai de
família que trabalha dentro do cárcere carioca, de Minas ou de São Paulo
é tirar a garantia do estado de segurança. É falta de sensibilidade
social.
Seap é a favor da liberação no estado
A
Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) também se
posiciona favoravelmente à liberação do porte. Por meio de nota, a Seap
informou que "entende que há necessidade de liberação do porte, uma vez
que inspetores lidam diretamente com presos, principalmente aqueles de
alta periculosidade, como os detidos em Bangu 1. É inadmissível que esse
inspetor ao sair do serviço esteja exposto, enquanto outras classes que
não têm tanta necessidade utilizam arma".
O projeto de lei que
prevê o porte para os agentes já passou pela Comissão de Segurança
Pública e pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Atualmente
está no Senado, com a Comissão de Relações Exteriores e Defesa. Depois,
seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça dessa casa. Caso o
projeto não sofra emendas por parte dos parlamentares, ele seguirá para a
sanção da presidente Dilma Rousseff. Se ocorrerem modificações no texto
no Senado, o projeto precisará voltar para a Câmara.
Guardas portuários beneficiados
Como
os agentes penitenciários são citados no mesmo inciso do Estatuto do
Desarmamento que os guardas portuários, uma mudança nessa lei concederá
porte de arma para essa última categoria também. Atualmente, para obter o
porte de arma de fogo, é preciso declarar efetiva necessidade.
Além
disso, o governo exige uma comprovação de idoneidade, capacidade
técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma. Também é cobrada
uma prova de que a pessoa tem ocupação lícita e residência.
No
Rio, a utilização de arma de fogo no interior das unidades prisionais
ocorre somente em alguns casos. Mesmo durante o expediente, as armas não
são usadas em tempo integral pelos agentes. O padrão é que eles estejam
armados nas guaritas ou quando realizam a transferência de presos. O
uso de armas também ocorre quando há a necessidade de apoio do
Grupamento de Intervenção Táticas (GIT), em situações extremas.
O
Ministério da Justiça foi questionado sobre a discussão e sobre o debate
que está sendo provocado pelo Depen, mas informou que "não tem
posicionamento sobre o assunto".
http://extra.globo.com/casos-de-policia/projeto-de-lei-inspetores-penitenciarios-querem-direito-de-usar-armas-24-horas-3728393.html
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