Poderes saem em férias mesmo com incertezas com segunda onda da covid, começo da vacinação e falta de opção para auxílio emergencial
A marcação do tempo em calendários - com dias, meses e anos - é dessas invenções/convenções que melhoram a experiência humana. A ideia de que um período acaba para dar lugar a outro é boa porque renova as esperanças e a crença de que o futuro nos reserva algo melhor.
Que o ano de 2021 seja muito bem-vindo e promissor para o país - a despeito da carga inédita de incertezas que traz junto com o seu advento.
Uma delas é o que será da economia brasileira com o fim do pagamento auxílio emergencial encerrado hoje.
O que o governo Bolsonaro vai colocar em seu lugar para evitar que 60 milhões de brasileiros pulem da pobreza já quase extrema para a miséria em grau máximo – quando não se tem segurança, por exemplo, sobre a próxima refeição.
O país terá a vacina contra o coronavírus, mas para quando, se países bem menos significantes que o Brasil no tabuleiro das nações já começaram a imunizar seus nacionais?
TENHO NADA COM ISSO
Para piorar, o presidente da República parece se esforçar diuturnamente para espalhar sandices e incentivar a população a evitar a vacina – especialmente com essa conversa sem propósito de que não vai tomar a proteção nem se responsabiliza por seus efeitos colaterais.
De volta ao auxilio emergencial, a medida foi pensada para enfrentar os efeitos econômicos gerados pela pandemia do Sars-CoV-2 no país e é consenso entre os economistas de que os quase R$ 300 bilhões distribuídos para cerca de 68 milhões de pessoas efetivamente evitou que o PIB do país tivesse um tombo em 2020 do qual teria dificuldade de levantar.
Hoje a Caixa Econômica para a última parcela no valor de 300 reais aos trabalhadores informais.
A virada do calendário para 2021 não garante nenhum milagre para esses 60 milhões de brasileiros que, tudo indica, serão jogados à própria sorte.
MILHO AOS POMBOS
Não bastasse esse fato, grave de per si, temos ainda o que já é considerado a segunda onda da covid-19, que ameaça dar novo tranco na atividade econômica que só iniciava a recuperação em ‘V’ ou seja lá que letra do alfabeto se queira usar.
Responsável pela agendad de reformas que parar o estouro fiscal, o ministro Paulo Guedes (Economia) tira férias por duas semanas.
No comando de postos executivos na iniciativa privada, ultraliberais da estirpe de Guedes vivem se gabando de que não precisam de férias - que isso é coisa de gente preguiçosa.
Tudo isso acontecendo e o que fazem os políticos? Quando não se concedem aumento de salários, caso do prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), ou viajam para Miami como fez o governador de São Paulo João Dória, quando percebeu que a vacina chinesa não iria chegar no prazo anunciado, o que fazem os políticos?: Correm para temporadas de veraneio – como acaba de fazer Bolsonaro duas vezes só neste mês.
De suas estadias nas praias dentro e fora do país, deputados e senadores estão preocupados com o fim do auxílio? Nada. Só conseguem pensar na eleição para renovação das mesas do Senado e da Câmara prevista para fevereiro. Sem falar que sequer votaram o orçamento federal para 2021.
PULA PRA 2022
Bolsonaro também só pensa em eleição e parece determinado a pular o ano-calendário de 2021 para cair de paraquedas na sucessão presidencial de 2022 - quando espera ser reconduzido para novo mandato..
O presidente está envolvido ainda - contra todos os conselhos em contrário - com a eleição para as presidências das casas congressuais previstas para 1º de fevereiro.
O argumento é de que precisa de aliados - pouco importa o preço - no comando do Senado e Câmara dos Deputados.
O país quebrou e precisa pagar um trilhão de reais agora em 2021, mas o que faz o presidente? Anuncia que sua prioridade é aprovar o excludente de ilicitude (a licença para que uma das polícias que mais mata – e morre – no mundo possa atirar a esmo).
Além disso, Bolsonaro quer passar no Congresso um projeto de lei que gira a roda do país rumo ao atraso da impressão dos recibos de votação na urna eletrônica.
SEM LIMITE
Como diz um ditado popular muito comum em Portugal, é a mutuca que tira o boi do mato. O mundo político, em parceria com o Judiciário, parece apostar que a paciência do brasileiro não tem qualquer tipo de limite.
Devagar com o andor, senhores. O momento é de parar tudo e tentar resolver a crise-monstro em que nos metemos.
Projetos pessoais precisam ser deixados de lado em nome da conserto do Brasil. Faltam lideranças capazes de chamar uma consertação que vai ditar a mudança de rumos.
Do jeito que a coisa anda, a aposta parece ser no caos e no fim do Brasil - e só depois, quando se estourar de vez a costura social que nos mantém de pé, é vai se começar a reação.
Um dia o caldo entorna e essa turma vai precisar ser cutucada para ver se finalmente resolve sair da moita da inércia e do descaso com a vida e os rumos do país.
Quem sabe a sociedade civil e novas lideranças conduzam o povo novamente no caminho dessa utopia.
É preciso que as mutucas da vox populi atormente os ouvidos dessa parcela do país que parece não encargar nossa marcha rumo ao abismo.
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