quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Alcolumbre usou avião da FAB para apoiar campanha eleitoral de irmão

 Entre os dias 9 de outubro e 18 de dezembro, Alcolumbre percorreu 14 vezes os 1.792 km que separam Brasília de Macapá

ATUALIZADO 24/12/2020 14:39

Davi AlcolumbreJEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para apoiar a campanha eleitoral de seu irmão Josiel, candidato do DEM à prefeitura de Macapá. Apesar do esforço do senador, Josiel perdeu a eleição no domingo passado, para Dr. Furlan (Cidadania). O Estadão apurou que entre os dias 9 de outubro e 18 de dezembro, Alcolumbre percorreu 14 vezes, em aviões da Aeronáutica, os 1.792 quilômetros que separam Brasília de Macapá.

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Registros dos voos oficiais indicam que as viagens eram sempre feitas na companhia de seguranças do Senado. Em setembro, período da pré-campanha, Alcolumbre não realizou nenhuma viagem ao Amapá, seu Estado natal, utilizando aviões da FAB. Josiel havia largado bem nas pesquisas, mas viu a candidatura ruir após a explosão de transformadores que deixaram o Amapá às escuras por mais de duas semanas, em novembro.

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Diante de “sinais de convulsão social” e risco para a segurança dos eleitores, por causa do apagão, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, decidiu adiar as eleições em Macapá. Com o novo calendário, o primeiro turno ficou marcado para o dia 6 deste mês. A segunda rodada foi realizada domingo passado.

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Com o prolongamento do apagão e a queda de Josiel nas pesquisas, as viagens de Alcolumbre com aviões da FAB se tornaram mais frequentes. Os deslocamentos ocorreram principalmente em meados de novembro, quando seu irmão intensificou a campanha de rua, apesar da pandemia do novo coronavírus.

As regras da Aeronáutica não permitem que aviões da FAB sejam usados para fins particulares. No dia 6 de março, o presidente Jair Bolsonaro publicou um decreto que alterou normas de transporte de autoridades nessas aeronaves. Agora são exigidas justificativas e comprovações que atestem a necessidade do uso dos aviões, autorizado em três situações: emergência médica, motivo de segurança e viagem a serviço.

A medida foi tomada por Bolsonaro após pressão de seus apoiadores. Em janeiro, o presidente demitiu José Vicente Santini do cargo de secretário executivo da Casa Civil por utilizar um avião da FAB em viagem ao exterior. Santini ocupava interinamente a chefia da Casa Civil. Após a publicação do decreto, apoiadores de Bolsonaro comemoraram nas redes sociais o fim da “farra” no uso de aeronaves militares por parte de autoridades.

Roteiro

A primeira viagem de Alcolumbre, no período eleitoral, ocorreu em 9 de outubro, quando ele partiu de Brasília, às 11h14, em direção a Macapá. O retorno, também em avião da FAB, ocorreu quase uma semana depois, no dia 15. Vinte assentos foram reservados, na ida e na volta, para a equipe do presidente do Senado.

Naquela semana, Alcolumbre cuidou pessoalmente da campanha do irmão. Apelou a políticos aliados para que reforçassem o apoio a Josiel, posou para fotos e participou de caminhadas nas ruas, pedindo votos. No dia 14, por exemplo, o candidato a vereador da coligação de Josiel, Zezé Nunes, postou uma foto ao lado do senador e de Silvana, vice na chapa, durante ato nas ruas da cidade. “Zezé 43123. Nosso grande Senador e Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, junto com nossa futura Vice-prefeita Silvana”, escreveu Nunes, em legenda no Instagram. A foto foi compartilhada na rede social do então candidato a prefeito.

No dia seguinte, 15 de outubro, Alcolumbre também fez selfies ao lado de outros candidatos a vereador pela coligação de seu irmão Um deles, Cláudio (DEM), usou a foto para pedir votos no Instagram. “Aqui é parceria forte por Macapá! Cláudio + Davi + Josiel!”, disse o concorrente, destacando que a imagem havia sido feita durante reunião para discutir um “projeto coletivo pela cidade que queremos ser nos próximos quatro anos”.

O Estadão procurou Alcolumbre, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

Em Macapá, senador focou na articulação

Nos períodos de estadia em Macapá, em viagens com aviões da FAB, Alcolumbre preferiu cuidar da articulação política e evitar exposição excessiva na mídia. Ajudava, ainda, no corpo a corpo com os eleitores. Em 1.º de novembro, no entanto, o próprio Josiel postou uma foto ao lado do irmão, que estava na cidade, para pedir votos no Facebook.

“Ter um amapaense ocupando a cadeira de Presidente do Senado trouxe recursos como nunca antes para nosso Estado. Vamos manter o diálogo com Brasília e seguir aproveitando todas as oportunidades, trazendo obras e gerando mais empregos em Macapá”, escreveu Josiel.

Às 18h15 daquele mesmo dia, Alcolumbre embarcou com sua equipe, também em avião da FAB, em mais um retorno para Brasília durante a campanha. O senador e seus seguranças estavam em Macapá desde 23 de outubro e só voltaram naquele 1.º de novembro. Os dois voos da FAB foram reservados para embarque e desembarque de 14 pessoas.

Alcolumbre regressou a Macapá seis dias depois, em 7 de novembro O presidente do Senado e sua equipe embarcaram de novo em avião da FAB, com destino à capital. Ao chegar, Alcolumbre concedeu entrevistas a veículos locais, demonstrando apoio ao irmão.

“O maior atingido desse apagão chama-se Josiel Alcolumbre, que ia ganhar a eleição no primeiro turno, que estava caminhando para ganhar em primeiro turno a eleição”, afirmou ele à rádio Diário FM, em 12 de novembro. O empenho de Alcolumbre na campanha o levou a pedir que o presidente Jair Bolsonaro gravasse um vídeo em apoio ao irmão. Não adiantou e Josiel saiu derrotado da disputa.

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