À Polícia Civil do DF (PCDF), os PMs disseram que Jaqueline ainda respirava, com dificuldade, quando conseguiram render Ricardo
ATUALIZADO 11/12/2020 12:21

Um dos vizinhos de Ricardo Silva Souza, 35 anos, preso na manhã desta sexta-feira (11/12) ao ser flagrado desferindo diversas facadas contra Maria Jaqueline de Souza, 34 anos, filmou, em detalhes, o assassinato. Nas imagens, as quais o Metrópoles teve acesso, é possível ver claramente o homem esfaqueando a mulher, repetidamente.
Com uma grande quantidade de sangue nas mãos, o acusado gritava “Filho de Deus! Filho de Deus!”, enquanto cravava a lâmina no corpo da vítima insistentemente. O vídeo não será publicado, em respeito aos leitores e aos familiares de Maria Jaqueline.
Autor e vítima haviam, aparentemente, iniciado um relacionamento há pouco tempo. Segundo consta no boletim de ocorrência, registrado na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam II) de Ceilândia, foi um vizinho quem chamou a polícia. Após acionar os militares, o homem iniciou a gravação com o próprio celular, feita da janela da casa onde ocorreu o crime.
Sentado sobre o corpo de Maria Jaqueline, Ricardo dizia frases desconexas, todas ligadas à religião. “Jesus. Filho de Deus. Filho de Deus. Só o Senhor Jeová. Só o Senhor Jeová”, gritava o homem, esbaforido, enquanto matava a namorada.
O crime aconteceu na casa do acusado, na Chácara 151 do Trecho 1, no Sol Nascente. No local, foram encontradas substâncias identificadas até o momento como cocaína. Policiais militares que atenderam à ocorrência disseram que Ricardo aparentava estar em surto psicótico e sob efeito do entorpecente.
Na tentativa de tirar o homem de cima da vítima, os militares usaram arma de choque e precisaram efetuar dois disparos de arma de fogo contra Souza: um no braço esquerdo e outro na altura da clavícula esquerda. Mesmo assim, ele demorou a esmorecer.
À Polícia Civil do DF (PCDF), os PMs disseram que Jaqueline ainda respirava, com dificuldade, quando conseguiram render Ricardo. Porém, em poucos minutos, a mulher faleceu.
Ricardo Silva Souza foi detido e levado ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde recebeu atendimento médico.
A delegada chefe da Deam II, Adriana Romana, contou detalhes do brutal feminicídio. “Apesar do relacionamento deles, ao que tudo indica, ser breve, o crime se enquadra como feminicídio”, explica a delegada. Às autoridades, vizinhos contaram que foi a primeira vez que viram a vítima no local. Maria Jaqueline deixa quatro filhos, dois deles de um relacionamento anterior, finalizado há cerca de um ano.
Veja o vídeo da delegada Adriana Romana:
O desaparecimento de Marco Aurélio no Pico dos Marins 28
POR PEDRO HAUCK - EQUIPE AM EM 30 DE NOVEMBRO DE
2020HISTÓRIA
O chamado caso Marco Aurélio é o mais famoso, controverso e
misterioso caso de desaparecimento de uma pessoa em uma montanha brasileira.
Conheça melhor esta história e suas polêmicas
Em 1985, Marco Aurélio Simon, então com 15 anos de idade, se
preparava para subir pela primeira vez uma grande montanha. Ele era um dos
integrantes do Grupo de Escoteiros Olivetano de São Paulo-SP, da qual o
espanhol Juan Bernabeu Céspedes era um dos chefes. Destacado no escotismo, Céspedes
escolheu o Pico dos Marins por sua bela paisagem, grande altitude,
representatividade e dificuldade que estaria na medida para sua tropa. Seria
uma atividade motivante e desafiadora para os garotos adolescentes, dentre eles
Marco Aurélio que passaria para categoria Sênior da tropa.
Marco Aurélio com seu uniforme de escoteiro.
Esta atividade, no entanto, quase não aconteceu. O grupo foi
diminuindo com sucessivas desistências, até que no dia combinado juntou-se
apenas 4 escoteiros e o chefe Juan, que dormiu a noite do dia 5 para o dia 6 de
junho na casa da família do adolescente e neste dia, uma quinta feira, foi
levado por Ivo Simon até a estação de metrô Tatuapé, onde se encontrou com os
outros membros que participariam da aventura: Ricardo Salvati, Ramatis Rohm e
Osvaldo Lobeiro, todos com a mesma idade de Marco Aurélio. Juan Céspedes, tinha
36 anos, e era intimo da família de Marco Antônio e chegou a passar um natal juntos.
O grupo seguiu de ônibus da rodoviária do Tietê até Piquete,
onde foram recepcionados pelo chefe dos escoteiros local, Sebastião Augusto
Ramos, o “Gugu”, que designou o chefe de tropa Paulo Roberto “Paulinho” para
levar o grupo em sua Kombi até um sítio no começo da trilha que leva ao cume do
Pico do Marins, que na época era habitado pela família de Afonso Xavier, grande
conhecedor da região. O grupo acampou no quintal do sítio, no mesmo local onde
hoje é o estacionamento do Marins, administrado pela filha de Afonso, a Dora e
seu marido Dito.
Na sexta feita, dia 7 de junho, o grupo de escoteiros
desempenharam atividades educativas, como limpeza da louça do jantar da noite
anterior e também coleta de madeira para fazer o “fogo do conselho”, um evento
que daria a qualificação de escoteiro sênior a Marco Aurélio.
No sábado, dia 8 de junho, o grupo acordou cedo e começou os
preparativos para a ascensão à montanha. Às 7 da manhã, um grupo com três
escoteiros de Piquete passou pelo acampamento e convidou o grupo Olivetano a se
juntar a eles, mas Juan negou o convite. O anfitrião Sr. Afonso, tinha a
expectativa de subir junto com o grupo, porém às 8 da manhã Juan também
declinou da ajuda do experiente mateiro e subiu sozinho com seu grupo de 4
garotos.
Apesar de conhecer o Marins, Juan errou uma das trilhas e
fez um caminho diferente, mais difícil e longo. Eles se perdem pela trilha e
levam mais tempo que o habitual. Às 14 horas, Osvaldo tropeça num buraco e
golpeia um de seus joelhos com força, o jovem escoteiro chora e é acudido pelos
demais. Machucado, não tinha como Osvaldo continuar e Juan não teve opção senão
cancelar a ascensão e iniciar um plano para descer o grupo junto com o
escoteiro acidentado.
Usando seus conhecimentos de escoteiro, Juan corta um
arbusto e tenta construir uma maca com um minguado galho. Porém Osvaldo, era
muito pesado e a tentativa de improvisar uma maca foi infrutífera. Sem
ferramentas, o chefe Juan começa a escorar o adolescente em seus ombros com a
ajuda de Ricardo. Ramatis se encarrega de levar as mochilas do grupo. A
estratégia de Juan era subir e descer de ataque, ou seja, ir leve para voltar
rápido e por isso eles não levavam muitos equipamentos. Marco Aurélio, chefe da
patrulha, ia guiando o grupo, orientando por onde deveria descer.
O local onde Osvaldo se machucou fica na base do Pico rochoso no fundo da foto.
O acidente com Osvaldo se deu na altitude de 2060 metros num
ponto da trilha em que ela desvia para a esquerda contornando um um sub cume
que se destaca na crista por onde passa a trilha normal da montanha. Ou seja,
após Juan ter errado a trilha mais fácil diversas vezes, o acidente com Osvaldo
se deu num ponto da trilha mais fácil que leva ao cume do Marins. Porém este
trecho é o mais acidentado, pois lá há muitas rochas e é preciso desviar delas.
A trilha se desenvolve por entre as pedras e em cima de lajedos rochosos
limitados por touceiras de capim elefante. O subir e descer das rochas em si
não é tão complicado, ainda mais quando se está com mochilas leves. Porém
encontrar a trilha toda vez que sai e entra de um lajedo, cruzando a região dos
capins elefantes, é um exercício de interpretação de caminhos e exige
experiência e perícia em navegação.
O grupo descer unido por cerca de 250 metros, que diante da
dificuldade do terreno, levou um tempo que causou preocupação no grupo. Diante
da dificuldade de descer o amigo, Marco Aurélio se voluntariou em descer até a
base da montanha e pedir ajuda. Juan tomou a pior decisão de sua vida
permitindo que o garoto inexperiente descesse aquela montanha sozinho. Ele até
se precaveu para o caso de Marco Aurélio se perder nesta missão, dando a ele um
pedaço de giz para marcar o caminho e auxiliar nas buscas caso se perdesse.
Porém foi a última vez que Marco Aurélio foi visto.
O Pico dos Marins
Pico dos Marins. Foto Pedro Hauck
Com 2420 metros de altitude, o Pico do Marins é uma das
montanhas mais altas da Mantiqueira. Ascendendo pela trilha normal, chegar ao
cume do Marins pode não ser muito difícil, com apenas um ou outro trecho de
“trepa pedra” onde é necessário corda apenas para efeito psicológico. Em outras
vertentes, no entanto, a história é outra. O Marins é uma montanha escarpada e
com grandes paredes rochosas com vias de escalada desafiadoras raramente
repetidas.
A parte alta do Pico dos Marins tem uma cobertura vegetal
campestre, mas a paisagem é predominantemente rochosa. Nestes trechos a trilha
é demarcada com sinais pintados nas rochas ou com totens formados por calhaus
de rocha empilhados. Não é raro alguém se confundir e ter que corrigir seu
caminho, ainda mais porque quando chove, a água escoa pelas rochas e ao chegar
na região com vegetação, a enxurrada abre uma trilha que depois que a água
perde energia, a trilha de enxurrada desaparece.
O clima na montanha é sempre frio por causa da altitude e
chuvoso por causa da orografia. O inverno, época de estiagens, é a época mais
apropriada, mas em contra partida os dias são mais curtos e as temperaturas
geladíssimas, sendo comum ter geadas. Nevoeiros também são comuns e eles são a
causa número 1 em ocasionar a desorientação dos montanhistas, que acabam
tomando caminhos errados, que são muitos!
Além destas características, a montanha tem muitas falhas
geológicas que formam fendas enormes que são ocultadas pela vegetação. Estas
falhas não podem ser vistas da trilha normal, mas fora dela, elas são muitas.
O grupo de Escoteiros de Piquete
No dia 8 de junho, um grupo de escoteiros de Piquete passou
pelo grupo Olivetano e os convidou para subir o Marins juntos, convite negado
pelo chefe Juan. Este grupo era composto do chefe Mário Lúcio Magalhães de 24
anos e dos escoteiros Cláudio Roberto Peixoto, de 15 anos e de Gláucio Luiz
Magalhães, de apenas 10.
Gláucio presenciou um estranho fato. Em determinado momento
da subida, ele se afastou de seus colegas e neste momento cruzou pela trilha
com um sujeito que ocasionou um grande susto. Este homem, vestido com roupas
marrons, apenas cumprimentou e continuou seu caminho de descida. Perguntando
aos demais se haviam visto este homem, os colegas de Gláucio disseram que não.
O grupo regressou ao sítio do seu Afonso às 15 horas. No
caminho, tanto na subida quanto na descida eles se depararam com uma
caminhonete Rural Willys, com placa de Lorena e uma barraca sem ocupantes no
Morro do Careca.
O desaparecimento
Após Marco Aurélio se separar, o grupo foi descendo
lentamente pela trilha até chegar num local onde havia duas pedras com uma
passagem estreita entre elas. Lá ele marcou com giz o número 240, que era o
número do grupo Olivetano. Juan acha que o caminho por onde Marco desceu era
muito difícil para passar com uma pessoa machucada e decide tomar um caminho
para a direita, achando que ambos caminhos se juntassem mais à frente. Se
enganou mais uma vez.
O vão estreito entre as pedras por onde Marco Aurélio passou
tem até nome hoje em dia, se chama “Portal”. Para quem sobe marca o início do
trecho de trepa pedras, mas para quem desce, que é o caso do grupo em 1985,
marca o local onde a trilha fica mais fácil e os grupos de montanhistas, sem
precisar usar as mãos tiram os bastões de trekking das mochilas e a caminhada
fica mais fluida. Dali até o Morro do Careca, onde na época se chegava de
carro, leva-se apenas 1 hora de descida em condições normais!
O Portal, na esquerda da foto e o vale, na direita, por onde
Juan desceu com os escoteiros.
O autor no vão das pedras chamadas de Portal, por onde Marco
Aurélio passou e deixou registrado a insígnia 240 com giz.
Todos tinham a expectativa de encontrar Marco Aurélio no
sitio do Sr. Afonso, mas para surpresa de todos, ele não estava lá.
O primeiro fato misterioso do desaparecimento de Marco
Aurélio se deu na chegada ao sítio de Sr. Afonso. A barraca dos escoteiros
estava remexida, a mochila de Marco estava na parte fora, aberta. Apesar disso
nada havia desaparecido.
Sabendo de sua responsabilidade, o chefe de escoteiros
descansou por uma hora e as 6 da manhã partiu sozinho em busca do escoteiro
desaparecido, regressando às 10 da manhã sem ter encontrado nenhum sinal de
Marco Aurélio. Por que Juan não pediu ajuda ao experiente Afonso Xavier de
novo? Muitos questionam esta decisão, concluindo que o chefe de escoteiros
tivesse a intenção de ocultar algo.
Juan Bernabeu com a polícia em 1985.
Um pouco antes do espanhol retornar das buscas, Paulinho
chegou no sitio com sua Kombi e se deparou com os fatos, indo avisar o chefe
Gugu do desaparecimento do jovem. O chefe de escoteiros de Piquete, por sua
vez, conseguiu mais 4 voluntários e sem muitos recursos se juntaram a Juan para
realizar uma segunda busca que não resultou em nada.
Casa de Afonso Xavier, onde hoje é uma igreja.
O grupo voltou ao sítio de seu Afonso e no cair da noite,
enquanto jantavam, o grupo ouviu um grito. Todos ficaram em silencio e
novamente ouviram o grito novamente seguido por um apito. Neste momento todos
saem da casa e no quintal eles observam uma forte luz azul, que os deixou
atônitos. Juan se embrenhou no mato gritando por Marco Aurélio, mas nada mais
encontraram.
O incidente com as luzes azuis foi presenciado por todos e
até hoje os presentes descrevem o ocorrido. Seu Afonso, antes de morrer,
defendeu que a luz veio de um vizinho. No entanto o sitio fica num local muito
isolado e no meio da mata. Algumas pessoas afirmam que a luz foi de um carro
que passou pela estrada Piquete x Marmelópolis. No entanto, tal estrada fica
distante e não há como um faixo de luz refletir na copa das árvores. Esta luz
levou a grupos de ufologia creditar o desaparecimento de Marco Aurélio a um
evento de abdução extra terrestre, aumentando a polêmica em relação ao caso.
Quando Marco Aurélio partiu, ele tinha apenas as roupas do
corpo, mas sempre carregava um apito para chamar atenção em caso de se perder.
Todos os presentes na cena acham até hoje que os gritos e o apito fossem do
escoteiro.
Após o incidente, o grupo retornou a Piquete, onde se
instalaram na casa de Sebastião Augusto Ramos que providenciou um médico para
atender Osvaldo. O médio constatou que o garoto não tinha nenhum machucado
grave no joelho e podia andar normalmente, o que aumentou a suspeita contra o
chefe de escoteiros e um possível complô com Osvaldo.
No dia seguinte as crianças foram para São Paulo, mas Juan
ficou em Piquete para esclarecer os fatos na delegacia. Entra em cena o
delegado Izidro Ferraz, que neste momento agrupa alguns policiais e o
experiente guia Carlos Viera e numa Kombi se dirigem até o local do
desaparecimento de Marco Aurélio.
Questionado, Juan conta que passou por uma cruz de ferro,
local que Carlos Vieira diz fazer parte de uma trilha antiga que ele mesmo
havia desabilitado por ser muito perigosa. Naquele dia nada mais puderam fazer,
porém esta aproximação motivou Carlos Vieira a retornar no dia seguinte,
acompanhado de outro experiente guia, Ronaldo Nunes até a tal cruz de ferro.
Os guias partem cedo, durante a noite uma forte geada pintou
o pico dos Marins de branco. Porém, para surpresa da dupla, ao chegar perto da
cruz eles avistaram pegadas no meio do gelo. Eles até tentaram seguir as pegadas,
porém as mesmas desapareceram. Quem teria subido o Pico dos Marins em plena
terça feira tão cedo?
Neste mesmo dia um incêndio se iniciou na montanha e os
primeiros bombeiros que haviam sido designados para realizar buscas tiveram que
ser realocados para combater as chamas. A polícia então suspeitou que alguém
houvesse provocado o incêndio para atrapalhar nas buscas e todos suspeitavam de
Juan. Será que ele havia algo a esconder?
Neste mesmo dia, Carlos e Ronaldo passaram a observar a
revoada de urubus, pensando que, se Marco Aurélio tivesse morrido, logo os
urubus encontrariam seu corpo. Com este pensamento, eles acharam um boi morto,
mas nada do escoteiro perdido.
Grande cobertura da mídia
Os pais de Marco Aurélio chegaram em Piquete na segunda feira,
dia 10 de junho. A Polícia achou que, como eles não tinham experiência em
montanha, seria inútil subirem até o local das buscas. Com isso, Ivo Simon, que
era jornalista, começou a usar seus contatos e logo a notícia do
desaparecimento de seu estava estampada nos principais jornais do país, assim
como era televisionada nos principais canais de TV. Este fato fez que muita
gente soubesse do ocorrido e não demorou para surgissem boatos que só
atrapalharam as buscas.
busca no pico dos marins – foto de Ramphis Zeltune -12 jun 85
Inúmeras vezes pessoas ligaram dizendo ter encontrado Marco
Aurélio. Assim como inúmeras foram as interpretações para o sumiço do rapaz.
Algumas pessoas começaram a achar que o jovem havia fugido. Outras passaram a
achar que ele havia sido assassinado pelo guia. Destas suspeitas, algumas
pessoas diziam que Juan havia abusado de Marco Aurélio e depois deu um jeito de
matar e sumir com o corpo do rapaz. Estas versões vieram a se somar com a que o
escoteiro teria sido abduzido por extra terrestres.
Indiferente dos boatos, uma coisa é fato. Com a exposição na
mídia não faltou voluntários para ajudar nas buscas. No total, calcula-se que
mais de 300 pessoas, ajudaram e procurar por Marco Aurélio. As buscas contaram
com a ajuda de cães farejadores, dois helicópteros, dois aviões, montanhistas e
espeleólogos. No entanto, no final da operação do Marins, após um mês de
buscas, nada, absolutamente nada remetido a Marco Aurélio foi encontrado.
Chefe de escoteiros torturado
Juan sendo entrevistado pela Globo na época.
No dia seguinte a este fato, o jovem Osvaldo, que era
suspeito de ser cumplice por Zaborski, foi encaminhado de camburão de São Paulo
à Piquete para interrogatório. Ricardo e Ramatis também foram, porém com o pai
do último, que era policial militar.
As crianças foram colocadas em salas separadas e foram
forçadas a denunciar Juan pelo crime de ter matado Marco Aurélio. Horrorizadas,
as crianças se negam a assinar a denúncia. Sem paciência, Edmundo aponta uma
arma a eles, porém eles não assinam e são assediadas moralmente pelo policial.
Osvaldo foi colocado numa sala junto com Juan e o escoteiro
defendeu seu chefe o tempo todo, até que Zaborski perdeu a paciência e espancou
Juan na frente da criança. Apesar das ameaças, da agressão e tortura, todos
escoteiros isentaram Juan da culpa pelo desaparecimento de Marco Aurélio e o
chefe de escoteiros foi liberado.
A liberdade de Juan durou pouco tempo. Um dia depois ele foi
conduzido coercitivamente até Piquete de helicóptero. A população da cidade
ficou sabendo e foi recepcionar o chefe de escoteiros espanhol no local do
pouso, afim de lincha-lo. A polícia fez um cordão de isolamento, mas do
helicóptero até a viatura ele levou muitos socos e pontapés. Em coro a
população o chamava de assassino.
Apesar da suspeição, Juan nunca foi incriminado. Pelo
contrário, os escoteiros sempre o defenderam, assim como os pais de Marco
Aurélio que nunca acreditaram nas teorias de conspiração que diziam que o chefe
de escoteiro havia matado e ocultado o corpo do menino.
Passado um mês de buscas exaustivas, a operação Marins
acabou sem encontrar nenhuma pista do que ocorreu com Marco Aurélio.
Videntes, extra terrestres e sequestradores
Com termino das buscas, a família de Marco Aurélio passou a
se apegar com várias promessas de videntes que diziam onde estaria o garoto.
Evidentemente a ajuda de videntes não resultou em nada. Ivo chegou a consultar
Chico Xavier, mas o mesmo não afirmou que não conseguiria contato com Marco,
pois ele só contatava mortos e não vivos.
Muitos videntes afirmaram que Marco não havia morrido e isso
sustentou a ideia de que Marco Aurélio saiu do Pico dos Marins desorientado e
sem memória e que ele poderia ter sido abrigado por uma família que o criou.
Esta hipótese, na verdade é um pouco difícil de se concretizar, dado a
repercussão do caso, tanto pela TV, quanto na rádio e até mesmo localmente na
região da Mantiqueira. Quem poderia ocultar Marco Aurélio após tanta exposição
na mídia?
A história das luzes azuis levou a ideia de que Marco
Aurélio foi abduzido por ET´s. De fato, muitos ufólogos se intrometeram no caso
e afirmaram esta hipótese. Ivo Simon, pai de Marco Aurélio, chegou a conversar
com um general da aeronáutica que era defensor de teorias sobre Extra
Terrestres. Há que se ter em conta que na década de 1980, teorias de
extraterrestres começaram a se tornar populares, a começar pelo próprio filme
ET de Steven Spielberg, passando por inúmeros casos estranhos como o caça da
FAB que em 1986 perseguiu um objeto voador não identificado, dentre tantas
coisas.
O maior sofrimento, no entanto, veio de ligações anônimas de
pessoas que se diziam sequestradoras e que tinham Marco a seu poder para
extorquir a família. Um deste caso levou a mãe de Marco Aurélio seguir as
informações dos falsos sequestradores. A família fez um empréstimo no banco,
depositou o dinheiro no local orientado pelos golpistas, mas eles não
apareceram para pegar o dinheiro.
35 anos sem pistas do que aconteceu com Marco Aurélio
Talvez o caso Marco Aurélio tenha sido mais conhecido e
polêmico caso de desaparecimento de uma pessoa em uma montanha brasileira por
todas as circunstancias. Se levar em consideração que em 1985 praticar
montanhismo não era uma atividade comum, isso ocasionou um impacto ainda maior
nas pessoas.
Infelizmente tudo o que podemos supor sobre o
desaparecimento do jovem escoteiro não passará de suposições, pois mesmo
passado tanto tempo, nada se concluiu a respeito. A Polícia nunca descobriu o
motivo do incêndio no dia 11 de junho, tão pouco descobriu quem seria o homem
misterioso que cruzou com o escoteiro Gláucio na trilha no dia 8, assim como
quem era o dono da Rural Willys e da barraca no Morro do Careca naquele dia.
O desaparecimento de Marco Aurélio foi um trauma na vida de
todos os envolvidos mais próximos, principalmente para os pais e Juan, que foi
expulso da União dos Escoteiros do Brasil e foi abandonado à mingua, sendo
torturado e sem defesa, condenado e linchado pela opinião pública. Sem falar
nas crianças que sofreram assédio da polícia e da mídia, principalmente para
Osvaldo que durante anos sentiu culpa por ter se machucado naquele dia.
No entanto, olhando para trás, só podemos concluir uma coisa
e tirar uma lição. O grande erro de Juan não foi ter se perdido diversas vezes
na trilha dos Marins, mas sim foi permitir que Marco Aurélio, um jovem
inexperiente em montanhismo e trekking, se separasse do grupo.
Após este desaparecimento, houve outros na região do Marins.
Em 1989, foi a vez do filho de Afonso Xavier, João Carlos Xavier, conhecedor das
trilhas da região que sumiu sem deixar rastros. Em 2018 o experiente corredor
de montanha francês Eric Welterlin desapareceu na montanha. Diferente de Marco
Aurélio e João Carlos, seu corpo foi localizado vinte dias depois e a autópsia
relevou a causa da morte: Hipotermia.
A opinião do autor
Tendo 22 anos de experiência no montanhismo, já conto com
inúmeras experiências de ter me perdido em trilhas em serras brasileiras.
Experiências que não quero repetir.
Em nossas montanhas temos muitos caminhos errados. Caminhos
feitos por animais ou por enxurradas que levam a lugar nenhum e é comum
percebermos isso só depois que penetramos mais na mata e a passagem passa a ser
impossível devido ao emaranhado de cipós e bambus, mas nem sempre é assim e
quando damos conta não sabemos mais de onde viemos e aí acontece aquilo que
chamo de “inferno verde”. Misture isso à angustia de saber que está perdido e
imagine a sensação. É por isso que não quero mais ter estas experiências. Você
se perde, fica exausto, abatido e não sabe o que fazer e muitas vezes acaba
tomando decisões que pioram a situação, como varar mato achando que “indo reto
você chega lá”. No entanto na montanha e na mata uma reta nem sempre é a menor
distância entre dois pontos. Saudável e jovem, uma coisa é certa. Marco Aurélio
caminhou muito naquele dia 8 de junho de 1985.
Sem roupas adequadas e lanterna Marco Aurélio deve ter tido
uma noite terrível no dia 8. A não ser que conseguisse achar um local seco e
abrigado. Não faltam mocós, fendas e locais abrigados no Pico dos Marins, porém
locais com estas características secos são raros. Se hoje, com todo o acúmulo
de conhecimento ainda assim há desaparecimentos e dificuldade de buscas,
imagine em 1985 quando montanhismo era algo raro e as equipes de busca pouco
especializadas. Tenho certeza as pessoas que participaram das buscas naquele
ano fizeram o melhor que puderam, mas será que vasculharam tudo mesmo na serra?
Outra coisa também é certa. Nas noites entre os dias 9 e 10 geou na Mantiqueira
e fraco, sem se alimentar adequadamente por mais de 1 dia, e ainda sem roupas
apropriadas, seria muito difícil sobreviver ao frio.
Tenho mais uma indagação. Será mesmo que não encontraram
nenhuma pista de Marco Aurélio? Ao término das investigações muitas pessoas
passaram a contribuir com detalhes que não foram adicionados na investigação.
Muita gente tinha medo de ser considerada suspeita e o que aconteceu com o Juan
é a justificativa para isso. Recém saídos da Ditadura Militar, a polícia
brasileira ainda repetia os métodos do período de repressão. Será que algum
fazendeiro, ou voluntário encontrou alguma pista que levasse à Marco Aurélio,
mas ocultou com medo de ser considerado suspeito?
Passado 35 anos fica apenas a lição. Numa situação como a
enfrentada pelo grupo de escoteiros no dia 8 de junho de 1985, nunca separe o
grupo, deixando uma pessoa inexperiente regressar uma trilha em montanha
confusa sozinha. Se o grupo estivesse junto, talvez eles não levassem mais que
2 horas carregando Osvaldo até o Morro do Careca, se tivessem descido pela
trilha normal. Se tivessem se perdido de novo, pelo caminho usado pelo Juan, na
pior das hipóteses teriam tido uma experiência negativa madrugada adentro, mas
sem mortes. Não adianta inventar métodos de rastreio, como foi o caso do giz,
que não ajudou em nada nas buscas.
Por mais fácil que seja o Pico dos Marins, não se pode ignorar o fato de que sua trilha é confusa. Mesmo trabalhando como guia nesta montanha, a percorro com muito cuidado e mesmo assim tomo caminhos errados. Porém sempre volto e encontro o caminho mais seguro entre os vários existentes. Subir o Marins sempre requer cuidado. Levar roupas adequadas, lanterna, comida e um celular carregado, recurso que não existia em 1985, mas que ajuda muito hoje em dia. Quem se perde deve avisar aos bombeiros e permanecer no local e não caminhar para não se aprofundar em locais perdidos na montanha. Isso vale para todas montanhas brasileiras.
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André Mendonça usou seu perfil no Twitter para demonstrar apoio à cantora gospel sobre sua declaração envolvendo homossexuais
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