Com 212 milhões de habitantes, o Brasil registrou mais mortes por covid-19 no espaço de uma semana do que outros 63 países juntos ao longo da pandemia inteira — esse grupo de nações soma 634 milhões de habitantes.
Entre 14 e 20 de dezembro, 5.233 pessoas morreram no Brasil em decorrência da doença. Foi o número mais alto desde setembro, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Esse total é superior à soma de mortes registradas desde janeiro em 63 países juntos, entre eles Tailândia, Islândia, Vietnã, Uruguai, Taiwan, Cuba, Botswana, Gabão, Nova Zelândia, Cingapura e Estônia.
O mais populoso deles, o Vietnã, tem 97 milhões de habitantes e 35 mortes por covid-19 em 2020. O Brasil tem 212 milhões de habitantes e 189 mil mortes pela doença em 2020.
As 5.233 mortes no Brasil em uma semana representam quase o dobro do que o Japão registrou durante a pandemia inteira (2.877). O país asiático tem 126 milhões de habitantes.
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É possível também comparar o número de casos registrados, mas esse dado pode ter distorções porque nem todos os países realizam testes em massa na população. O Brasil, aliás, é um exemplo internacional da falta de exames.
Em uma semana, o país registrou 333 mil casos, um recorde desde o início da pandemia. Essa cifra é superior à soma de casos notificados desde janeiro em 76 países.
Brasil é o 2º em número de mortes
Até agora, o Brasil registrou 189.220 mortes por covid-19 neste ano. Isso coloca o país em segundo na lista de países com mais óbitos até agora, atrás apenas dos Estados Unidos, com 328 milhões de habitantes e 326.217 mortos.
Nenhum dos dois países adotou medidas severas de distanciamento social, como os lockdowns (bloqueios quase totais à circulação de pessoas e fechamento de lojas, restaurantes etc.).
Logo em seguida aparece a Índia, que tem 1,35 bilhão de habitantes e 146.756 mortes por covid-19.
Se a comparação levar em conta o tamanho da população, o Brasil tem a 19º maior taxa, com 89,9 mortes a cada 100 mil habitantes. Os EUA têm 98,65 e a Índia, 10,83.
1 milhão de pessoas internadas
Levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que neste ano mais de 1 milhão de pessoas foram internadas com casos confirmados ou suspeitos de covid-19.
A título de comparação, o número mais alto dos últimos anos havia sido registrado na pandemia da gripe H1N1, em 2009, com 202 mil hospitalizados com uma doença respiratória grave.
Atualmente, mais de 31 mil pessoas ocupam leitos de hospitais no Brasil, e a situação tem piorado em diversos lugares. Na região Sul do país, o número diário de infecções já superou o primeiro pico da doença, no primeiro semestre.
Ao todo, 18 Estados e o Distrito Federal têm alguma região com tendência de aumento nos casos.
Férias e festas de fim de ano
O avanço da pandemia no país não dá sinais de desaceleração, e há dois fatores relevantes que podem piorar bastante a situação.
O primeiro é a “sincronia” entre a pandemia no interior e nos grandes centros urbanos do país. O segundo são as festas de fim de ano.
No dia 8/12, a Fiocruz alertou para o risco do sistema de saúde do país entrar em colapso com o possível agravamento da alta de casos de covid-19 após o fim do ano.
Reportagem da BBC News Brasil explicou que isso se deve ao estágio da pandemia no país. Se antes as epidemias nos grandes centros e nas cidades menores tinham intensidades diferentes e inversas, o que permitiu atender a população por meio da redistribuição de pacientes, o mesmo não ocorre agora.
E o agravante aqui é o período de festas de fim de ano. No Brasil, embora não haja recomendações oficiais específicas para as datas festivas, infectologistas se preparam para a possibilidade de, poucas semanas após as festas, o país se ver diante de novos aumentos de casos e mortes.
"Se fossemos reproduzir os encontros natalinos da forma que tradicionalmente ocorrem, neste momento epidemiológico (de alta dos casos), o que espero é um repique brutal no número de casos, devido à contaminação que vai ocorrer neste momento", disse à BBC News Brasil Jaques Sztajnbok, supervisor da UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, sugerindo que as pessoas evitem festas de fim de ano em 2020.
No resto do mundo, diversos países têm emitido advertências contra aglomerações e deslocamentos nos períodos festivos.
E a mensagem dos médicos é clara em todos esses lugares: qualquer encontro, por mais cuidado que se tenha, representa um risco de transmitir e contrair coronavírus, principalmente para os idosos.
A BBC News Brasil entrevistou infectologistas e outros especialistas para explicar as medidas que podem tornar os encontros menos inseguros — embora eles destaquem que não é possível eliminar os riscos, apenas contê-los:
1. Minimizar a quantidade de pessoas (e de residências envolvidas)
2. Muita ventilação
3. Reduzir a duração
4. Uso de máscara e distanciamento sempre que possível
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