De acordo com a Polícia Federal, o criminoso do Complexo do Alemão é um dos principais compradores de armas junto a intermediários da fronteira do Brasil com o Paraguai.
Por Marco Antônio Martins, g1 Rio
06/12/2023
A Polícia Federal descobriu que o traficante Fhillip da Silva Gregório, de 36 anos, conhecido como Professor, é o grande comprador de armas para a facção criminosa Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
É com fuzis e pistolas produzidas na Turquia, República Tcheca, Eslovênia e Croácia que o bando protagoniza confrontos em diferentes pontos do RJ para garantir o domínio de territórios.
As armas, de acordo com a investigação que resultou na operação Dakovo, nome de uma cidade da Croácia, eram adquiridas legalmente pelo argentino Diego Hernan Dirísio, repassadas a intermediários em Ciudad del Leste, na fronteira com o Brasil, e de lá vendida para facções no RJ e em São Paulo.
O braço carioca do tráfico de armas era controlado pelo
Professor. Criminoso que, nos últimos cinco anos, ganhou espaço na facção: é
apontado como o grande fornecedor de armas e drogas da quadrilha e uma espécie
de "dono" da favela da Fazendinha, no interior do Complexo do Alemão.
No linguajar do crime é o 'matuto'.
Traficante Fhillip da Silva Gregório, o Professor — Foto:
Reprodução
As investigações da PF mostram que Professor não deixa a região do Complexo há três anos. No interior das favelas, ele faz tratamento dentário, implante de cabelo, lipoaspiração. Tudo para não ser preso novamente.
Aliás, foi a PF que prendeu o Professor em 2015, em Seropédica. Nessa época, investigações da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE) mostravam que ele já trazia drogas para a facção.
Mas a história de Fhilip no mundo do crime começou há cerca de dez anos.
Em 2012, Fhilip foi preso em flagrante carregando comprovantes de depósitos bancários com valores significativos feitos a favor do tráfico da Nova Brasília, uma das comunidades do Complexo do Alemão. Em sua casa, a polícia encontrou ainda anotações contábeis e nominais em cadernos.
Nos registros policiais, Fhillip da Silva Gregório, passa a responder por lavagem de dinheiro e ocultação de bens.
É a primeira vez que o jovem aparece em um Boletim de Ocorrência.
Para alguns investigadores, ele é uma espécie de sucessor de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, preso em 2000, na Colômbia; e capaz de carregar o apelido de um dos fundadores do Comando Vermelho no fim dos anos 1970: William da Silva, até alguns anos atrás o único "Professor" na quadrilha.
Uma década no crime
A partir da prisão em flagrante, Fhillip também passa a responder por uma ameaça feita à mulher, na Lei Maria da Penha.
Em março de 2015, ele é preso pela Polícia Federal em um sítio em Seropédica. O local era utilizado para receber drogas, armas e munições adquiridas pela quadrilha e de lá serem distribuídas para as comunidades ligadas ao grupo.
Em um dos cômodos da casa, os policiais federais encontraram 100 quilos de cocaína. As investigações então descobriram que ele negociava a compra de um outro sítio e de uma carreta para conduzir a droga adquirida.
Interceptações telefônicas, com autorização judicial, mostram que em 15 dias, Professor chegou a movimentar R$ 1 milhão ao negociar drogas ou armas.
Preso, o criminoso foi levado para Bangu 3 onde ficou até 20 de julho de 2018. De lá seguiu para o Instituto Moniz Sodré sendo transferido em 18 de setembro daquele ano para o Edgard Costa. Dez dias depois, em 28 de setembro, Professor fugiu e não foi mais recapturado.
A partir de 2020, seu nome passa a ser ouvido como participante nos confrontos com a polícia. O criminoso mantém o papel de matuto mas diferente daqueles que atuam como fornecedores de drogas ou armas, o criminoso passa a ser reconhecido pelos policiais entre traficantes nas trocas de tiros.
Fhillip da Silva Gregório, o Professor, fornecedor de drogas, armas e munições de traficantes do RJ — Foto: Reprodução
Em 2021, o traficante passa a responder por um homicídio. Um homem chamado de Bilidim foi morto no baile funk da Fazendinha após urinar em uma criança.
O amigo da vítima, Rogério, foi até à favela saber o paradeiro do rapaz. Foi pego pelos traficantes e agredido até a morte. No relatório de indiciamento, o delegado justifica por que Professor passa a responsável pelo crime:
"Certo que o executor por hora não foi identificado, porém, o procedimento pode ser encerrado pois conforme apurou-se e vem sendo apurado no decorrer de diversos procedimentos desta especializada, as execuções quando praticadas dentro de comunidades dominadas pelo tráfico, só ocorrem com aquiescência ou determinação por parte daqueles que se intitulam "donos".
Um vídeo circulou em redes sociais, em 2021, em que mostrava
fuzis com o nome "Professor", chamando a atenção de policiais e
mostrando o poderio do traficante na facção.
Investigações da polícia dão conta ainda de que ele não sai
da favela para não ser preso. Essa prática dificulta qualquer ação policial.
Chegar até o seu esconderijo significaria intenso confronto e risco para a vida
de moradores e até de policiais.
Passar os dias dentro da comunidade não impede que a cada dia Professor aumente o poder de influência na facção.
Em 2022, durante a operação, em que 18 pessoas morreram, Professor era um dos chefes do CV que era procurado pelos policiais. Não foi encontrado.
Nesta terça-feira (5), o mandado contra o Professor não poderia ser cumprido por ser uma ação arriscada.
Nas investigações, em interceptações telefônicas, o Professor reclama com os intermediários sobre a qualidade das armas adquiridas pela facção criminosa:
"Trabalhar assim fica difícil, meu amigão. Poxa, antes vinha um negócio bonitão. Agora, cada vez tá vindo uma peça (arma) inferior"
Entenda o caminho realizado para o contrabando de 43 mil armas entregues às facções brasileiras — Foto: Arte g1
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