Embora as tragédias de Mariana, em 2015, envolvendo a Samarco, e de Brumadinho, em 2019, em instalações da Vale, tenham causado estragos irreparáveis, em diversos aspectos, ao setor de mineração, sobretudo em Minas, a atividade tem reassumido a olhos vistos seu papel de destaque no panorama econômico do Estado.

Uma das provas disso está no volume de investimentos previstos pelo segmento para o quinquênio 2021/2025. Se de 2017 a 2021 foram US$ 18 bilhões estimados para aplicação em diversos projetos, no país e em Minas, no período atual o valor mais que dobrou: são US$ 38 bilhões em aporte para operações no Brasil, sendo que mais de um terço desse montante (US$ 13 bilhões) destinam-se a plantas mineiras.

Outro indicador da retomada é a oferta de empregos pelas empresas da área. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Estado, os setores de extração mineral e não mineral e de apoio a essas atividades – embora com resultado bem inferior ao de outros segmentos industriais como Construção Civil e Transformação – gerou saldo positivo de 1.897 vagas entre janeiro e março deste ano, ante 364 no mesmo período de 2020. Ou seja, houve crescimento de 400%.

Retomada se deve à conclusão de obras em barragens da Vale e ao efeito Samarco, com reativação das operações da empresa

Vale lembrar, segundo o diretor do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais (Sindiextra-MG), Cristiano Parreiras, que cada vaga direta em uma mineradora gera 11 postos de trabalho em empresas pertencentes à cadeia produtiva do segmento.

Nesse sentido, poderia-se estimar que as quase 2 mil vagas diretas de saldo entre demissões e contratações, mostradas pelo Caged no primeiro trimestre deste ano, significariam, na verdade, mais de 20 mil trabalhadores empregados. “Isso sem falar em inúmeros empregos criados quando mineradoras fazem alterações em suas estruturas, como as realizadas em complexos espalhados pelo Estado após o acidente de Brumadinho”, diz Parreiras.

Motivos

Para o economista Izak Izak Carlos Silva, da Fiemg, a recuperação do setor existe, mas não pode se falar em “boom” da atividade, na medida em que os preços do minério no mercado internacional, ao qual se destina 85% da produção mineira, vêm de altas seguidas, já há bastante tempo, favorecendo as empresas do Estado.

Também não se poderia atribuir a retomada à pandemia, já que a China, principal compradora dos produtos brasileiros, retraiu sua economia menos que outras potências e, de alguns meses para cá, tem aumentado o volume de compras de minério de ferro.

“A recuperação do setor mineral, em Minas, tem mais a ver com outros dois fatores: a conclusão de obras em barragens da Vale, que precisaram ser modificadas após Brumadinho, como o complexo Brucutu, sendo que algumas ficaram prontas e permitiram alto nível de retomada, e o efeito Samarco, que consiste na reativação das operações da empresa no ano passado”, afirma Silva.

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