Bolsonaro durante encontro com prefeitos de cidades de Minas Gerais. Na foto, ele aparece entre Braga Netto (PL), à esquerda, seu candidato a vice, e Romeu Zema (Novo), governador mineiroImagem: 14.out.2022 - Gilson Junio/Estadão Conteúdo
O governador mineiro Romeu Zema (Novo) tenta criar uma agenda positiva para a última passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo estado. Ontem à tarde, ele assinou a ordem de serviço para a reforma do Hospital Regional de Teófilo Otoni (MG). Na manhã de hoje, Zema recebe o presidente em comício na cidade.
O palanque de Bolsonaro também contará com o governador à tarde, quando a dupla participará de um comício em Uberlândia (MG). Crescer em Minas Gerais e reverter a derrota de 563 mil votos em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno é considerado crucial para o presidente ter chance de vitória na votação de domingo.
Por que Bolsonaro está em Teófilo Otoni? O discurso de Zema para tentar fazer eleitores de Lula virarem votos e escolherem Bolsonaro no segundo turno é de que o candidato petista é do mesmo partido do ex-governador Fernando Pimentel (PT), que governou Minas Gerais de 2015 a 2019. Pimentel enfrentou uma crise financeira que levou a atrasos de salários de servidores e greves.
Teófilo Otoni tem um prefeito petista, Daniel Sucupira, que encarou uma paralisação de servidores que durou 89 dias. A ideia é associação entre as duas situações. As obras do hospital, que teve a ordem de serviço assinada ontem, estavam paradas desde 2016, quando Minas Gerais era administrada por Pimentel.
Além de todos estes fatores que combinam com o discurso das dupla Zema e Bolsonaro, a escolha de Teófilo Otoni ocorreu por causa da margem reduzida de diferença de votos na cidade entre os dois candidatos no primeiro turno —Lula 48,74% e Bolsonaro 45,34%.
Por fim, Teófilo Otoni fica no Vale do Mucuri, e as cidades da região têm prefeitos alinhados com o presidente. A agenda de Bolsonaro no município começa com um encontro com eles e outras lideranças às 8h50 e termina com o comício na Praça Tiradentes.
Zema aposta em região natal. Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a situação é diferente. O presidente venceu o primeiro turno —fez 46,37% dos votos contra 44,69% de Lula— e visita a cidade para ampliar a vantagem. Trata-se da segunda maior cidade de Minas Gerais e o discurso será o mesmo: vincular o adversário ao ex-governador petista que administrou o estado durante a crise financeira.
Zema também escolheu o município apostando em suas raízes. Ele nasceu em Araxá, que fica no Triângulo Mineiro, e acredita que a identificação local ajuda a angariar votos. A previsão do governador é voltar à região na sexta-feira para fechar a campanha pelo presidente.
O prefeito de Uberlândia é aliado de Bolsonaro e muitas cidades da região também. O presidente se encontra com eles e vai pedir para trabalharem para as pessoas irem votar no próximo domingo. Em um local em que tem maioria, o comparecimento substancial às urnas ajuda no esforço eleitoral
A equipe do governador acrescenta que não há garantias de uma virada, mas, no pior cenário projetado, haveria pelo menos uma redução da desvantagem em relação a Lula em Minas Gerais. Essa diferença estaria no intervalo daquilo que se chama de empate técnico.
Mostrando que o esforço em Minas Gerais é máximo, na última hora Bolsonaro incluiu Governador Valadares no giro pelo estado. A visita foi anunciada na noite do dia anterior.
Uberlândia experimenta a polarização. Uberlândia também é exemplo do quanto uma corrida presidencial tão acirrada e agressiva contamina diferentes setores da sociedade. O prefeito Odelmo Leão (PP) determinou a suspensão do empréstimo de equipamentos esportivos que haviam sido cedidos para a Olimpíada Universitária UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
A medida ocorreu depois que surgiram vídeos nas redes sociais mostrando que os estudantes fizeram a letra "L" de Lula durante a execução do Hino Nacional na cerimônia de abertura das competições, ocorrida em 14 de outubro. A administração municipal alegou que foram desrespeitadas normas que proíbem fogos de artifício, confetes, pirotecnia, fitas e outros objetos que sujem os espaços cedidos. Não foi explicado qual material sujou as quadras.
A universidade informou que foi surpreendida com uma ligação avisando sobre a suspensão do empréstimo dos equipamentos esportivos. O telefonema ocorreu na manhã seguinte à cerimônia de abertura.
Bolsonaro-Guedes quer acabar com descontos no Imposto de Renda e taxar o PIX
Como desgraça pouca é bobagem, o ministro da Economia Paulo Guedes, que deve continuar na pasta caso Jair Bolsonaro (PP) seja reeleito, quer acabar com os descontos de gastos com saúde e educação no Imposto de Renda.
A tática atinge em cheio a classe média brasileira, um dos setores que mais tem sentido o impacto da perda de poder de compra nos últimos anos.
O plano de Guedes foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O documento de dez páginas foi elaborado pela equipe do ministro logo após o primeiro turno e é parte da estratégia de taxar a classe média para garantir minimamente benefícios prometidos por Bolsonaro durante a campanha.
Sem as deduções, conforme aponta o relatório, o governo arrecadaria um montante de aproximadamente R$ 30 bilhões, sendo R$ 24,5 bilhões das despesas médicas e R$ 5 bilhões dos custos com educação, dinheiro que seria usado para pagar as promessas do governo para reeleição.
Bolsonaro tem prometido manter o Auxílio Brasil em R$ 600, pagar um 13º salário para as mulheres que recebem o benefício e ajustar a faixa de correção da tabela do IR. Tudo isso sairia pelo custo de R$ 86 bilhões, dinheiro indisponível na União se levadas em conta as regras do teto de gastos.
Questionado, Guedes negou conhecer o documento revelado pelo Estadão e classificou a medida como “descabida de fundamento”. Depois, ele disse que o documento vazou por ação de “petistas dentro do Ministério”.
Ideia antiga
Como as maldades são reveladas apenas após a eleição, em 2019, em evento do banco BTG Pactual, Guedes já dizia o seguinte:
“Fica todo mundo juntando em casa papelzinho de dentista, papelz inho de médico. (…) Isso é ineficiente. Melhor tirar todas as deduções, abaixa um pouquinho a alíquota, é muito mais simples, não é?”, afirmou na época.
Posteriormente, acrescentou que o sistema atinge quem tem menos renda, já que "o pobre vai na assistência social [e] depois não recebe refunding (reembolso) nenhum".
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) reforça a posição do empresário Eduardo Moreira, qualificando o projeto como uma maldade que "atinge com força a classe média", um artifício do governo já que "não sabem mais de onde tirar dinheiro para repor a farra da reeleição".
Promessas vazias
Em 2018, Bolsonaro se elegeu prometendo Imposto de Renda zero para quem recebe até 5 salários mínimos, o que até agora não cumpriu. Atualmente, quem ganha menos de 2 salários mínimos (R$ 1903) já paga imposto devido desatualização da tabela do IR, que não é corrigida desde 2015, no governo Dilma.
De acordo com levantamento da jornalista especialista em finanças Nathalia Arcuri, do canal Me Poupe, às custas da classe média, o governo arrecadou R$149 bilhões a mais. Isso porque a gestão Bolso-Guedes não corrigiu a tabela do Imposto de Renda, o que também não está previsto para 2023.
Guedes e Bolsonaro já adiantam que um possível próximo tiraria dinheiro de trabalhadores, aposentados e classe média, enquanto manteria as contas bancárias dos mais ricos intactas.
PIX e nova CPMF
Recentemente também veio à tona a intenção do ministro de taxar o PIX, sistema de pagamentos popular justamente por não cobrar transações financeiras.
Em 2020, o ministro disse que ia deixar o tema de lado para não afetar as eleições, como informou a CNN.
Plano Bolsonaro-Guedes para reduzir salários e aposentadorias vem da ditadura; entenda
“Não estamos falando porque as eleições estão chegando. As pessoas têm preocupação de o tema ser explorado nas eleições, de falarem ah, o ministro Paulo Guedes quer um imposto sobre transações financeiras [o que inclui o PIX], quer a CPMF…”, afirmou o ministro numa apresentação em fórum do Bradesco BBI. “Então, não vamos falar sobre isso. Após as eleições, falamos novamente”, complementou.
De acordo com a reportagem, de Eduardo Laguna e Idiana Tomazelli, “Guedes disse que não vai desistir da ideia porque, num país com 40 milhões de pessoas sem emprego, a proposta permitirá desonerar a folha salarial das empresas”.
Proposta de Lula
O modelo de proposta de corrigir a tabela de isenção do Imposto de Renda foi proposto por Lula já em 2018.
Em 2022, o petista retorna com a questão em seu programa econômico, se comprometendo a liberar do imposto quem ganha até R$ 5 mil, além de dar descontos para a classe média.
Para compensar a perda de arrecadação, o governo aplicaria tributações sobre lucros e dividendos, ou seja, aos mais ricos, além de apostar em estratégias de combate à sonegação.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro agora terá como foco reduzir os danos feitos pelas propostas impopulares de sua equipe econômica. Para começar, está disparando uma mentira dizendo que Lula vai acabar com o PIX.
A campanha de Lula assegura que ele vai manter o sistema de pagamentos PIX. Já em agosto Lula desmentiu a informação em seu Twitter:
“Bolsonaro tenta se aproveitar do PIX, mas na realidade ele nem sabia como o sistema funcionava na semana do seu lançamento. E agora até funcionários do Banco Central afirmam que ele mais atrapalhou do que ajudou. Compartilhe!”, escreveu o ex-presidente.
Vanessa Martina Silva | Jornalista, analista política e editora da Revista Diálogos do Sul.
Com a colaboração de Guilherme Ribeiro.
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