De tudo o que tem aparecido até agora com relação às denúncias de
formação de cartel nas licitações do metrô paulista, o mais explosivo e
menos factível é a acusação de que o então governador José Serra sugeriu
um acordo em 2008 entre a Siemens e a CAF espanhola para que a
licitação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) não
atrasasse. Pelo simples fato de que a Siemens entrou na Justiça para
tentar anular a concorrência, que a empresa espanhola venceu, e não
conseguiu mudar o resultado, ficou de fora dessa compra de 40 novos
trens.
Além dessa evidência, o ex-governador afirma ainda que na
data do envio do email do diretor da Siemens Nelson Branco Marchetti, a
licitação já havia se encerrado, “com preços tão baixos que quebraram
paradigmas nacionais e internacionais”, disse Serra, para quem nessa
licitação o que houve foi o “anticartel”.
Isso não quer dizer,
porém, que não houve pagamentos de propinas para diretores da CPTM, em
diversas etapas da construção do metrô paulista, e há diversas
indicações de que tanto a Siemens quanto a francesa Alstom subornaram
funcionários paulistas.
Todas as investigações que ocorreram no
exterior, especialmente na Suiça, já estão bastante adiantadas, e com
relação à ação da Alstom junto à Empresa estatal de energia EPTE, contas
bancárias já bloqueadas no valor de 7,5 milhões de euros, e diversos
funcionários públicos identificados, além de lobistas com empresas de
offshore que teriam sido os intermediários do pagamento de propinas,
através de uma conta conjunta no Banco Safdié em nome de Jorge Fagali
Neto e de José Geraldo Villas Boas.
Fagali é ex-secretário de
Transportes Metropolitanos de SP (1994, gestão de Luiz Antônio Fleury
Filho) e e teve diversos postos na administração federal nos governos do
PSDB. Villas Boas é dono de uma das offshores acusadas de lavar
dinheiro do esquema. Nesse caso da Alstom no setor de energia, a
Polícia Federal indiciou várias pessoas, inclusive o atual vereador
tucano Andrea Matarazzo que era Secretário de Energia estadual na época,
e trata o caso como sendo um crime do partido político PSDB, como
denunciou ontem o jornal Estado de S. Paulo: "esquema de pagamento de
propina a integrantes do governo do Estado de São Paulo e ao PSDB pelo
grupo francês Alstom”.
Os mesmos personagens estão envolvidos em
outras investigações em contratos da Alstom, além do conselheiro do
Tribunal de Contas de São Paulo Robson Marinho, homem de confiança do
ex-governador Mario Covas. Nas investigações sobre a ação da Siemens,
dois ex-diretores da CPTM estão sendo investigados pelo Ministério
Público paulista, além de dois “consultores” que teriam recebido
depósitos em empresas “offshore”.
É nas investigações da Polícia
Federal e do Ministério Público estadual que as questões criminais
deverão ser desvendadas, para que fique esclarecido se as ações de
corrupção ocorreram ao longo dos últimos 20 anos de governos do PSDB, se
foram ações isoladas ou se correspondem a uma ação política do PSDB
para financiar o partido durante esses anos todos de poder estadual.
As
evidências estão se avolumando nas revelações feitas nos últimos dias, e
dificilmente o partido sairá imune desses episódios, mesmo que o
trabalho de investigação tanto do CADE quanto da Polícia Federal tenha
se reduzido a São Paulo e Distrito Federal, sem a abrangência que as
denúncias da Siemens revelam. Outras 5 capitais - Salvador, Recife,
Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte – estão na relação de acordos
denunciados pela empresa alemã, com a participação da estatal federal
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), mas as investigações não
estão sendo feitas.
O PSDB atribui esse direcionamento a um
trabalho político do CADE, mas o fato é que as investigações da Polícia
Federal e do Ministério Público deixam poucas dúvidas de que houve
corrupção em diversas licitações em empresas públicas paulistas nos
últimos governos do PSDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário