Delegado considera que liberdade de militar aposentado é um risco para a integridade de familiares da vítima e testemunhas do crime
atualizado 20/05/2022 19:54
Goiânia – A Polícia Civil de Goiás pediu esta semana a prisão preventiva do coronel da reserva que matou um engenheiro com um tiro no pescoço. O crime foi na manhã de 16 de abril passado em uma rua de Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital goiana.
Para o delegado Rogério Bicalho, o coronel da reserva da
Polícia Militar de Goiás (PMGO) Clovis de Sousa e Silva, de 62 anos, tem um
comportamento agressivo. E, por ter porte de armas, a liberdade dele é um risco
para a integridade física de familiares da vítima e testemunhas.
engenheiro morto coronel aparecida de goiania goiania (3)
Engenheiro morreu logo após ser baleado em Aparecida de
GoiâniaReprodução
Segundo a apuração da Polícia Civil, Erceli era uma pessoa
querida e respeitada na região da Vila Brasília, onde morava há anos. Ele
deixou a esposa, com quem era casado há 16 anos, e dois filhos adolescentes.
Manhã do crime
Erceli desceu de casa a pé para comprar pão, quando se
deparou com o coronel Clovis, vestido de preto e de boné. Era manhã de sábado.
Imagens de câmeras de monitoramento mostraram que Clovis e Erceli conversaram
durante três minutos na esquina.
Outra câmera mostra que o engenheiro voltava para casa e na
frente do portão foi baleado no pescoço pelo coronel, a curta distância. Ele
perdeu muito sangue e morreu rapidamente no local, após lesões em “vasos
cervicais”, segundo perícia. O oficial aposentado deixou o local andando.
Veja o vídeo:
Clovis chegou a se apresentar na delegacia e confessou o
crime, mas alegou que a vítima o teria empurrado e que na verdade queria atirar
para cima, mas o tiro pegou no pescoço. As imagens das câmeras de monitoramento
mostram outra realidade. Na verdade, foi o coronel que empurrou o engenheiro,
que só tentou se desvencilhar para entrar em casa, antes de ser morto, segundo
a Polícia Civil.|
“Diferente do que (o coronel) narrou em seu interrogatório,
não houve agressão física por parte da vítima em Clovis, e este, saca a arma e
aponta diretamente para o rosto de Erceli, não para cima como dito em sua
narrativa”, escreveu o delegado Rogério Bicalho no relatório policial.
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Ameaça
Antes do crime, o engenheiro construiu uma casa para o
coronel, que ficou insatisfeito com o resultado porque teria “defeitos
estruturais”. Já a família da vítima alega que o oficial aposentado “passou a
ver defeitos exagerados na obra” e “exigia produtos caros na obra, mesmo não
sendo o combinado”. O caso foi parar na Justiça.
Enquanto isso, o coronel Clovis ameaçou o engenheiro e sua
família, de acordo com as investigações. Isso ficou demonstrado em áudios e
mensagens do celular de Erceli, segundo a Polícia Civil.
O coronel chegou a mandar uma foto da vítima e sua esposa em
uma loja de materiais de construção, “deixando a entender que Clovis estava
seguindo Erceli”, concluiu a Polícia Civil. Na mesma ocasião, o engenheiro
relatou para um amigo estar sendo ameaçado pelo coronel. O amigo alertou: “Esse
cara é doido, Erceli toma cuidado, acho que você vai ter que fazer um BO
(boletim de ocorrência)”.
Evangélico fervoroso, o engenheiro não fez o BO e disse em áudio
na época que ia “pregar para Clovis”, pois “a Lei de Deus são duas coisas:
‘amar a Deus em primeiro lugar e amar o próximo como a si mesmo’”.
Arma e defesa
Em interrogatório, o coronel Clovis disse para a polícia que
jogou a arma usada no crime em um matagal próximo do Terminal Padre Pelágio.
Ele não explicou exatamente onde a arma estava e o objeto não foi localizado. A
perícia não conseguiu precisar o calibre do projétil encontrado no corpo da
vítima.
A defesa do militar aposentado defendeu que ele não deve ser
preso, pois estaria ajudando nas investigações, tanto que teria se apresentado
na delegacia dois dias depois do crime, mesmo estando com atestado médico por
transtorno afetivo bipolar.
O atestado foi dado pela médica Laura Augusta Justino Borba
no dia 17 de abril, um dia depois do coronel matar o engenheiro. A defesa do
oficial também alegou que ele é medicado com Quetiapina e Carbolitium.
Advogado do coronel, Matheus Moreira Borges refutou o pedido
de prisão nesta quinta-feira (19/5), um dia depois do delegado remeter o
inquérito ao judiciário com o pedido da preventiva. A defesa alega que o
coronel é um idoso de 63 anos e que o homicídio do engenheiro foi um “fato
isolado na vida dele”.
Além disso, o advogado lembra que o oficial aposentado não
tem nenhuma punição nos quase 30 anos que serviu a PMGO. Ele defendeu que o
risco do coronel praticar outro delito é nulo. A prisão ou não do coronel depende
de decisão da 4ª Vara Criminal da Comarca de Aparecida de Goiânia. A reportagem
entrou em contato com Clovis e sua esposa, mas não obteve retorno até a
publicação desta matéria.
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