Nas Américas, só as economias de Argentina e Haiti devem encolher em 2024
As políticas econômicas e os cortes estatais feitos pelo
presidente argentino, Javier Milei, estão aumentando as taxas de pobreza e o
número de argentinos que não conseguem pagar o aluguel e se encontram em
situação de rua.
A pobreza na Argentina aumentou exponencialmente nos últimos seis meses. De acordo com a Universidade Católica da Argentina, a taxa de pobreza subiu de 44,7% no final de 2023 para 55,5% em junho deste ano, enquanto a indigência dobrou nos últimos seis meses para 17,5%, o que significa que quase oito milhões de argentinos estão em estado de extrema pobreza e não têm renda suficiente para sustentar uma dieta básica.
"Esses números têm nomes e sobrenomes, têm apelidos, vida própria, rostos, lágrimas, têm felicidade. Portanto, é um momento muito cruel o que vivemos hoje", diz Omar Giuliani, responsável pelo lar de crianças e pela escola comunitária Ruca Hueney.
“Ousaria dizer que, em alguns setores, estamos falando de um genocídio social, que é o desaparecimento de uma geração de crianças", diz Giuliani. "Todos sabemos que há questões de nossa intelectualidade, de nosso corpo que se desenvolvem nos primeiros anos de vida e, se nesses primeiros anos de vida você não tem o alimento necessário, e estou falando do alimento da barriga e do alimento do abraço, é muito difícil se recuperar e suas perspectivas futuras são destruídas.
Recessão
Entre os muitos fatores que empurram os argentinos para a pobreza está a paralisação da economia. De acordo com os números oficiais, o
PIB caiu 5% no primeiro mês do ano, a atividade industrial caiu quase 20% em comparação com o ano passado e a construção civil caiu 37,5% em abril, em relação ao ano anterior.
A recessão, aliada à perda de poder aquisitivo da população em decorrência da inflação e da desvalorização da moeda, resultou em cada vez menos dinheiro em circulação, no fechamento de lojas, na queda das oportunidades de emprego e na redução dos trabalhos informais, como pintura, jardinagem e vendedores ambulantes.
"Há dias em que não há vendas. Vende-se muito menos, muito menos, porque as pessoas estão pensando em comida", diz uma mulher de 60 anos que preferiu manter seu nome em sigilo e que vende cobertores e ponchos em uma avenida central de Buenos Aires. Ela também ressalta que, enquanto sua renda está diminuindo, o quarto do hotel onde mora voltou a subir de preço: "Eles dobram o preço e não dá para pagar. Agora eles aumentaram o preço e todo mês aumentam novamente. No mês passado eu paguei 60 mil, este mês eles aumentaram para 80 mil e me disseram que no próximo mês vão aumentar novamente, para 115 mil."
A rua está muito mais próxima
Ignacio, estudante e trabalhador da Universidade de San Martín, que deixou seu apartamento alugado e voltou para a casa da mãe por não poder mais pagar, vive situação semelhante: "Tudo toma mais do meu salário do que antes. E acrescente a isso à inflação na Argentina, que também significa que os alimentos custem mais do que antes, as roupas custam mais do que antes. Então chega um momento em que os salários se deterioraram tanto, caíram tanto em relação ao custo de tudo, que se torna inviável sustentar os custos da moradia e o compromisso de um contrato de aluguel por um ano ou dois anos".
A perda de valor dos salários e o desemprego se refletem na crescente expulsão de grandes setores da classe média. Um estudo recente da da consultora Quiddity
revela que nove em cada dez argentinos se dizem preocupados com a situação atual e veem um futuro ameaçado por várias preocupações. As finanças pessoais estão à deriva: 63% dos argentinos pararam de economizar, enquanto 57% usam suas economias para pagar as despesas mensais. A maioria da população, 95%, define a situação atual como regular a ruim.
Tamara Lescano é representante da Inquilinos Agrupados, organização que defende direitos daqueles que alugam uma casa, indica um aumento significativo no número de famílias que acabam em quartos porque não podem pagar uma residência e acabam sendo despejadas.
“Há cada vez mais pessoas sem-abrigo que vêm de sectores de trabalhadores e talvez da classe média, com a amplitude que isso significa. E essa é a realidade. Está acontecendo e é muito terrível e apenas 6 meses se passaram desde esta situação. E por isso a preocupação é quando se consegue vislumbrar para onde estamos indo”, disse ao Brasil de Fato.
Enquanto isso, as previsões não são nada animadoras. O Banco Mundial prevê uma queda de 3,5% no produto interno bruto da Argentina em 2024, e a CEPAL aponta que a Argentina, juntamente com o Haiti, serão os únicos países latino-americanos cujas economias encolherão este ano.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
MG: escrivã da Polícia Civil perde o cargo e é condenada a 9 anos de prisão
Ex-servidora da instituição em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, tentou interferir em caso de estupro de adolescente em que o sobrinho dela era investigado
A escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) Normelia Lopes Gama, de 54 anos, foi condenada a nove anos e dois meses de prisão após interferir em várias investigações, inserindo dados falsos em sistemas informatizados da polícia e coagindo servidores com o intuito de manipular procedimentos investigatórios nos quais os suspeitos eram seus parentes ou amigos. A então servidora era lotada na delegacia de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.
As investigações foram conduzidas pela própria Polícia Civil (PCMG). Depois de receber os indiciamentos da instituição policial, a Justiça determinou, em julho de 2023, o afastamento da escrivã de suas funções até a conclusão das apurações e da fase de instrução da ação penal.
Agora, ao condenar Normelia, o juiz Nilton José Gomes Junior, da 1ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Criminais da Comarca de Araçuaí, decretou também a perda do cargo público, conforme consta na sentença assinada em 18 de junho. O magistrado ainda determinou que a agora ex-servidora da PCMG poderá recorrer em liberdade. Desde o início do processo, ela não chegou a ser presa.
Em um dos casos relatados na sentença é informado que, em agosto de 2022, um homem foi acusado de estuprar uma adolescente, à época com 17 anos. Normelia, amiga da família do então investigado, retirou o caso da posse de uma escrivã e passou para outra profissional que costumeiramente acatava as ordens dela. No entanto, segundo o juiz, mesmo com a manobra, Normelia não conseguiu alterar o curso das diligências policiais.
“A interferência da denunciada para inovação artificiosa de investigação policial para favorecer o amigo investigado não se consumou pelo fato de a conduta haver sido informada ao delegado de polícia responsável, que cuidou de garantir a lisura da persecução penal”, pontua o juiz.
Em outra situação, também em 2022, durante a tramitação dos autos de uma investigação contra um sobrinho dela, Normelia pediu para ler no sistema eletrônico da PCMG e solicitou que a escrivã alterasse as declarações do rapaz. “Ocorre que a denunciada, por ela ou por interposta pessoa não identificada, efetivamente, alterou dados nos sistemas informatizados da Polícia Civil com o fim de obter vantagem para o sobrinho”, narra a sentença, sem mencionar o crime cometido pelo rapaz. A então denunciada também determinou que a escrivã não intimasse o jovem.
Proibida de manter contato com as testemunhas, a ex-servidora as teria ameaçado. O Ministério Público chegou a pedir a prisão preventiva dela, o que foi negado pela Justiça.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Normelia Lopes Gama. Os advogados que constam no processo não possuem telefones para contato junto ao Cadastro Nacional dos Advogados (CNA). O espaço segue aberto para manifestações.
Também procurada pelo Estado de Minas para obter outros detalhes das investigações, a Polícia Civil de Minas Gerais disse que “não se pronuncia sobre inquéritos concluídos ou decisões judiciais”.
https://www.em.com.br/gerais/2024/06/6886982-mg-escriva-da-policia-civil-perde-o-cargo-e-e-condenada-a-9-anos-de-prisao.html
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