50 postos de combustíveis são suspeitos de terem sido usados
para lavagem de dinheiro de facção, diz PF
Segundo a Polícia Federal, PCC lavava dinheiro
principalmente por meio de postos e distribuidora de combustíveis, movimentando
R$ 30 bilhões. Justiça determinou bloqueio de R$ 730 milhões e interdição de 70
empresas. 13 pessoas foram presas em operação nesta quarta (30).
Por Kleber Tomaz, Lívia Machado e Isabela Leite, G1 SP, TV
Globo e GloboNews — São Paulo
30/09/2020 13h00
Atualizado há 2 anos
Veja o luxo e riqueza apreendida de facção criminosa
Cerca de 50 postos de uma rede de combustíveis são
investigados como suspeitos de terem sido usados pelo Primeiro Comando da
Capital (PCC), facção que atua dentro e fora dos presídios do país, para
lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, segundo a Polícia Federal (PF).
"O que nós percebemos? Foi a utilização de uma grande
quantidade de pessoas jurídicas vinculadas a uma rede. Eu não quero dizer que
essa rede, ela é envolvida, mas ela tem algo em torno de 110 postos. De 110, eu
acredito que algo em torno de 40 a 50 que nós identificamos", disse o
delegado federal Rodrigo Costa durante coletiva à imprensa na sede da PF em São
Paulo, sobre a Operação Rei do Crime.
A ação teve o objetivo de desarticular o esquema e ocorreu
em quatro estados do Brasil. A rede de postos Boxter foi um dos principais
alvos da operação. A reportagem tentou contato com a empresa, mas não obteve
retorno. A PF não informou onde estão localizados os postos suspeitos.
"Ou seja, é uma marca sólida no mercado, são
empresários que se envolvem em atividade ilícita, mas em meio a atividade
ilícita você tem a atividade lícita. Só o que acontece: a atividade lícita
quando envolvida, ela se permeia dentro da atividade ilícita. E isso é muito
difícil de ser identificado”, completou o delegado da PF.
Para não quebrar a empresa e evitar a depreciação, a PF
pediu - e a Justiça autorizou - que sejam nomeados administradores, que vão
tocar o negócio até o fim do processo..
PF de São Paulo deflagra operação contra lavagem de dinheiro de facção criminosa
4 estados
A operação foi deflagrada no Paraná, em Santa Catarina e na
Bahia. Foram cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão e sequestro de
bens usados pela quadrilha, como iates, motos-aquáticas, helicópteros, carros e
relógios de luxo, além de dinheiro, joias e bebidas importadas.
A facção movimentou ao menos R$ 30 bilhões com a lavagem de
dinheiro, segundo a PF. Ao todo, 13 pessoas foram presas. Quatro delas em um
hotel em Salvador e nove na capital paulista.
Entre os presos está um homem conhecido como Alemão,
principal alvo da operação, detido em São Paulo. A família dele é dona de cerca
de 50 postos de combustíveis.
As investigações apontam o envolvimento dele com os
assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, e
Fabiano Alves de Souza, o Paca, em 2018, no Ceará. Os dois mortos eram
importantes membros da facção, sendo que Gegê era um dos chefes.
Foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão em
apartamentos de luxo e empresas. No estado de São Paulo, a operação ocorreu nas
cidades de Bauru, Igaratá, Mongaguá, Guarujá e Tremembé. Também são cumpridos
mandados em Londrina e Curitiba, no Paraná; em Balneário Camboriú, Santa
Catarina; e Salvador, na Bahia.
Dentre os presos em São Paulo está Antônio Carlos Martins
Vieira, conhecido como “Tonhão”. Segundo a investigação, ele foi identificado
como responsável por parte das empresas usadas na lavagem de dinheiro.
Vídeo da PF mostra propriedade alvo de operação contra lavagem de dinheiro de facção
Empresários do setor de combustíveis e uma pessoa que foi
condenada pelo envolvimento no furto ao Banco Central do Brasil, ocorrido em
Fortaleza, em 2005, também foram alvos.
Mais de 70 empresas são investigadas e foram interditadas.
A Justiça determinou bloqueio de R$ 730 milhões de contas
bancárias suspeitas. Também foi determinado o bloqueio de 32 automóveis, nove
motocicletas, dois helicópteros, um iate, três motos aquáticas, 58 caminhões e
42 reboques e semirreboques, com valor aproximado de R$ 32 milhões.
Bens e imóveis apreendidos em operação da PF contra o
tráfico de drogas — Foto: Divulgação/PF
Dinheiro e joias apreendidas pela PF em operação contra o
tráfico de drogas — Foto: Divulgação/PF
Crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro
Ao todo, 20 pessoas foram indiciadas. Eles responderão pelos
crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A Polícia Federal pediu à Justiça que as 73 empresas usadas
para lavagem sigam em funcionamento e passem a ser administradas pela Secretaria
Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça – medida que era
inédita até aqui, de acordo com a corporação.
A rede de postos Boxter é o alvo principal da operação, que
foi nomeada "Rei do Crime". A reportagem tentou contato com a rede,
mas não obteve retorno.
A investigação foi realizada pelo Grupo de Investigações
Sensíveis, unidade de inteligência que compõe a Delegacia de Repressão a
Entorpecentes.
Facção e postos
Não é a primeira vez que a facção criminosa usa postos de
combustíveis para lavagem de dinheiro obtido do tráfico de drogas e outros
crimes. O Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE-SP) tem inúmeras
investigações nesse sentido.
Alguns fatores justificam essa opção do PCC por lavar
dinheiro com a participação de postos, segundo o promotor Arthur Pinto de Lemos
Júnior. "Tais estabelecimentos comerciais têm como característica o uso
constante de dinheiro em espécie, o que favorece a liquidez e a ocultação da
origem dos valores", disse nesta quarta ao G1.
"De outro lado, a constituição de postos de
combustíveis é precedida de diversos formalidades legais e tributárias, as
quais são vencidas por meio da prática da corrupção", falou Arthur.
Segundo o Ministério Público Estadual, o nicho dos postos de
combustíveis está principalmente na capital paulista e tem sido infestado por
valores de procedência ilícita.
"Já há algum tempo lavadores de dinheiro assumem a
propriedade de tais estabelecimentos comerciais, com o amparo de forte e
sofisticada organizações criminosas", explicou o promotor.
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/09/30/50-postos-de-combustiveis-sao-suspeitos-de-terem-sido-usados-para-lavagem-de-dinheiro-de-faccao-diz-pf.ghtml