Denúncia publicada pelo Estadão traz novas informações para o inquérito que está no STF e que apura suposta interferência de Bolsonaro na operação da PF
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a propina da negociação deveria ser em dinheiro vivo e escondida na roda de uma caminhonete que transportaria o valor de Belém (PA) até Goiânia (GO), sede da igreja dos religiosos.
De acordo com o jornal, a denúncia traz novas informações para o inquérito que está no STF (Supremo Tribunal Federal) e que apura suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) na operação da PF (Polícia Federal) contra Ribeiro. No dia 22 de junho, o ex-ministro, Gilmar e Arilton foram presos em ação que apurava indícios de pagamento de propina e atuação de lobistas no processo de liberação de verbas do ministério a municípios que funcionavam como um "gabinete paralelo".
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, o empresário — que é a 12ª pessoa a denunciar esquema de corrupção na pasta — declarou que ouviu de Ribeiro, no dia 13 de janeiro de 2021, que obras públicas estariam garantidas para a empresa do candidato. Ao jornal, o empresário declarou que Ribeiro também falou que precisaria "em troca" das obras garantidas de "ajuda" na igreja dos religiosos.
A definição do acordo, aponta o denunciante, teria sido feito pelo pastor Gilmar, que teria cobrado o repasse de R$ 5 milhões em dinheiro em espécie.
"Funcionou assim: o ministro fez uma reunião com todos os prefeitos [no prédio do MEC, dia 13 de janeiro de 2021]. Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro", disse o empresário.
"Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: 'Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso", acrescentou.
A propina seria repassada através de um contrato falso entre a igreja de Gilmar e a empresa de Ailson. O empresário responde por estelionato após acusações de praticar golpes por prometer liberar empréstimos a beneficiários do Bolsa Família. Ele diz que nunca foi intimado judicialmente e por isso não recorreu.
"Eles falaram: 'existe uma proposta para tu fazer isso [as obras]. Aí eu disse: 'que proposta?'. 'Bom, a gente está precisando reformar umas igrejas e estamos precisando também construir alguns templos, no Maranhão, no Pará, e também outros lugares. Então estamos precisando de R$ 100 milhões para fazer isso'. Aí eu falei: 'mas o que que eu vou ganhar em troca? Como é que vai acontecer? A igreja vai contratar minha empresa?' 'Não, a gente faz um contrato, entendeu? Faz o contrato com a empresa, a igreja contrata a tua empresa e eu consigo articular para tua empresa fazer as obras do governo federal'", afirmou Ailson à reportagem do Estado de S.Paulo.
O jornal apontou que as datas citadas pelo empresário na denúncia coincidem com o registro de entrada dele no ministério para a reunião, com fotos publicadas nas redes sociais e com a agenda de Milton e dos pastores na data. Segundo o denunciante, o repasse dos R$ 5 milhões deveria ser imediato.
ESCÂNDALO
Depois da divulgação da denúncia do "gabinete paralelo" pelo jornal, Ailson disse que ligou para o pastor Arilton Moura para pedir para não ter o nome divulgado, já que não concluiu a sua participação no esquema irregular. O print da ligação entre ambos foi mostrada pelo empresário à reportagem, porém o conteúdo da conversa não foi gravado.
Milton Ribeiro teria avisado à filha, em ligação grampeada pela PF, que o presidente o alertou sobre ele ser alvo da operação em junho. Segundo Ailson, o pastor Arilton também sabia da chegada dos agentes.
"Eu liguei para ele. Perguntei o que estava acontecendo, 'tá teu nome aí', 'como é que vai ficar, se vocês não vão falar nada da minha empresa?'. [Arilton teria respondido:] 'Não se preocupe que a gente não vai falar nada, tá? Já combinamos com o presidente e o ministro já, tá?', que era Milton, né?. 'O ministro já está providenciando tudo e a gente vai ficar calado, aí eu tô aguardando que a Polícia Federal a qualquer momento vem na minha casa, mas tá tudo já? tudo resolvido, tá tudo esquematizado'", disse o empresário.
DEFESA DE RIBEIRO NEGA AS ACUSAÇÕES
Ao Estadão, a defesa do ex-ministro disse "negar absolutamente esse tipo de acusação, leviana, mentirosa e feita com intuito e interesse eleitoreiro".
A reportagem tenta contato com a defesa de Milton. Também tentamos encontrar o contato dos advogados dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. O espaço segue aberto para as manifestações dos citados. A matéria será atualizada em caso de retorno.
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