quarta-feira, 17 de julho de 2024

Mulher que trabalhou anos em situação análoga à escravidão foi atacada por patroa com um balde de água fervente

 Fátima Aparecida Ribeiro, de 54 anos, chegou na casa onde foi resgatada, em Belo Horizonte, quando era uma adolescente órfã de pai e mãe. A promessa da família era dar oportunidade de estudo, mas, na prática, Fátima virou uma empregada, só que sem salário.

Por Profissão Repórter

00:05/03:39

Após anos de exploração, empregadas domésticas são resgatadas em MG

O Profissão Repórter desta terça-feira (16) foi até uma casa em Uberlândia que virou alternativa para receber empregadas domésticas que foram resgatadas pelo Ministério do Trabalho.

 

Fátima Aparecida Ribeiro, de 54 anos, chegou na casa onde foi resgatada, em Belo Horizonte, quando era uma adolescente órfã de pai e mãe. A promessa da família era dar oportunidade de estudo, mas, na prática, Fátima virou uma empregada, só que sem salário.

“Nunca tive quarto, não. Deitava no chão da sala em um forrinho. Demorei para acostumar com a cama. Também não tinha pasta de dente. Para escovar, eu passava o dedo nos dentes com sabão”, conta.

Fátima mostra as marcas de queimadura que sofreu na casa da patroa quando arrumava a cozinha.

"Ela pegou uma bacia de água e jogou nas minhas duas penas. A água estava fervendo, até borbulhando.”

Paulo Gonçalves Velozo, procurador do Trabalho em Minas Gerais, destaca a prática de alguns empregadores que usam o pretexto de tratar suas trabalhadoras domésticas como membros da família para negar direitos básicos.

“Há um discurso por parte da família empregadora, de que essas mulheres são como se fossem da família e, com o pretexto desse discurso, sonega dessas trabalhadoras direitos trabalhistas básicos, mas quando se observa, elas não vivem como um membro da família, estão alojadas em quartos precários, com condições precárias de subsistência”, diz Paulo Gonçalves Velozo, procurador do Trabalho/MG.

Denúncia e Justiça

Foram os vizinhos que denunciaram a situação de Fátima para o Ministério do trabalho. No caso da Fátima, a família de Belo Horizonte que a escravizou, além de não pagar salário durante 4 anos, ainda recebeu do INSS, em nome dela, um salário-mínimo por mês. Era o benefício de prestação continuada, o BPC loas, que é pago a pessoas carentes com deficiência.

“A vizinha um dia foi falar comigo assim: 'Ué, dona Fátima, eu acho que você tem dinheiro lá no banco, porque eu vi a mãe e a filha dela, tirando o seu dinheiro com o seu documento'. A filha dela pegou e falou assim: 'Não, ela tem dinheiro porque ela é meio doida, e a gente estava recebendo para ela e a gente estava dando para ela o dinheiro'. Eu nem sabia que eu estava recebendo esse dinheiro”, conta Fátima.

A Justiça já determinou que Fátima receba os salários que nunca foram pagos, além de indenização por todas as situações degradantes e de violência a que foi submetida. Os antigos patrões morreram, e os advogados da família recorreram e aguardam um novo julgamento.

Respostas da família

A reportagem procurou a família da antiga patroa de Fátima, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.


https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2024/07/17/mulher-que-trabalhou-anos-em-situacao-analoga-a-escravidao-foi-atacada-por-patroa-com-um-balde-de-agua-fervente.ghtml

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