domingo, 2 de maio de 2021

‘Meu filho morreu com fome porque não teve coragem de me pedir comida’, diz mãe de homem morto após furtar carne em mercado

Família de Bruno e Yan conta que os dois foram entregues por seguranças do supermercado Atakarejo para traficantes após serem flagrados roubando quatro pacotes de carne.

01/05/2021 09:55 

Tio e sobrinho foram mortos após terem furtado carne em supermercado — Foto: Arquivo pessoal

A dona de casa Dionésia Pereira Barros está revoltada com a morte do filho, Bruno Barros, de 29 anos, e o neto Yan Barros, de 19 anos, que foram assassinados após serem torturados por traficantes.

“Matar meu filho, o que foi que meu filho fez? Meu filho morreu com fome porque não teve coragem de me pedir comida, ele não morava comigo, não. As meninas estão aí de testemunha. ‘Tia, estou com fome’. ‘Vai pedir a sua mãe’. Porque ele não era de comer assim, sabe?”, contou a dona de casa.


A família de Bruno e Yan conta que os dois foram entregues por seguranças do supermercado Atakarejo para traficantes após serem flagrados roubando quatro pacotes de carne. Uma testemunha, que presenciou o fato, contou à TV Bahia, que viu a dupla ser entregue a homens armados no estacionamento do estabelecimento.

“Eu estou passando muito mal, mas eu vou falar. Eu quero perguntar a eles, minha filha, se eles viram alguma escopeta lá junto daquelas carnes. Eu sei que meus filhos erraram, mas eles não eram Deus para entregar meu filho para morte. O segurança do mercado deu meu filho para a morte, deu de bandeja para o Satanás”, disse Dionésia Barros.

A família dos dois homens relata que um deles enviou áudios pedindo dinheiro para pagar carnes que eles teriam furtado de um supermercado. Com o dinheiro, ele pagaria os quatro pacotes de carne de charque que, juntos, custavam R$ 755,60. No supermercado Atakarejo, onde ocorreu o caso, cada pacote com 5 kg custa R$ 188,90.

Elaine Costa Silva, mãe de Yan Barros, conta que o filho e Bruno foram agredidos no supermercado.

“Chegaram a ser agredidos pelos seguranças, tomaram um monte de bicuda [chute], depois ele [Yan Barros] fez uma ligação pelo WhatsApp, o meu filho chorava muito, chorava muito, disse que ele estava tomando muita porrada pelos seguranças”, revelou.

“Chegaram a falar que não ia ter mais chance mais. E aí foi que o tio dele ligou para a irmã de consideração dizendo: ‘Já estou sendo entregue para os marginais’. Então eles já foram já entregando eles dois, então não deu a chance de meu filho ser julgado pela justiça”, disse Elaine Silva.

Segundo ela, Bruno Barros chegou a pedir, por telefone, para que a família chamasse a polícia e que uma denúncia foi feita através do Disk Denúncia, mas os policiais não chegaram a tempo de evitar a morte dos rapazes.

“Bruno pediu para chamar a polícia e aí a irmã dele de consideração chamou, chegou a fazer a ligação, ligando para o Disk Denúncia, denunciando, entendeu? Chamando a polícia, que ele falava: ‘Chame a polícia, irmã, chame a polícia, eu prefiro ser preso, eles vão me matar, eles vão me matar. Eles já estão me entregando já aos marginais, pelo estacionamento’, e aí eles entregaram meu filho”, contou.

Entenda o caso

Na noite de segunda-feira (26), dois homens foram achados mortos na localidade da Polêmica, em Salvador. De acordo com a Polícia Civil, eles foram torturados e atingidos por disparos de arma de fogo. À época, a polícia informou que a motivação do crime estava relacionada ao tráfico de drogas.

Um dia depois, na terça-feira (27), eles foram identificados como Bruno Barros e Yan Barros. Na quinta-feira (29), a mãe de Yan, Elaine Costa Silva, revelou que ele foi morto após ter sido flagrado pelos seguranças do supermercado Atakarejo por furtar carne no estabelecimento.

Segundo ela, o tio de Yan, Bruno, que também foi morto, enviou áudios a uma amiga informando o que tinha acontecido e pedindo ajuda para não ser entregue aos traficantes do Nordeste de Amaralina.

Na sexta-feira (30), parentes e amigos dos dois homens fizeram uma manifestação, na rua onde eles moravam, em Fazenda Coutos, e depois na frente do Atacadão Atakarejo, que fica no mesmo bairro.

O grupo bloqueou a rua próximo à Base Comunitária da Polícia Militar pedindo justiça. Emocionada, a mãe de Bruno Barros, Dionésia Pereira, chegou a passar mal durante o ato. Depois, eles entraram no supermercado e com cartazes fizeram um protesto.

Por meio de nota, o Atakarejo informou que é cumpridor da legislação vigente, e atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais, e que não compactua com qualquer ato em desacordo com a lei.

Disse também que os fatos questionados envolvem segurança pública e que certamente serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente.

Em nota, o Ministério Público da Bahia informou que ao tomar conhecimento do fato envolvendo Bruno Barros e Yan Barros, adotou as providências cabíveis nesta fase preliminar de apuração, autuando uma notícia de crime e encaminhando ao Núcleo do Júri da Capital.

Já a Polícia Militar informou que a 40ª CIPM não foi acionada para atender a ocorrência. No entanto, assim que tomou conhecimento, por meio de populares, de que teria ocorrido de um possível furto no estabelecimento comercial no bairro de Amaralina, a unidade deslocou uma equipe até o local. Quando chegou, funcionários não confirmaram o fato.

A Polícia Civil informou que algumas testemunhas foram ouvidas na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa e as investigações estão avançadas. Segundo o órgão, já há indicativo de autoria. As equipes da unidade realizam diligências e mais detalhes não podem ser divulgados para não interferir no andamento das apurações.

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