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Nota de pesar
Swift: saiba por que expulsar a Rússia é em grande
parte um ato simbólico
Se a intenção for bloquear os pagamentos do gás russo, a ferramenta não
é o Swift, mas sim as sanções à Gazprom (maior companhia russa de energia) e as
suas instalações bancárias
• 01/03/2022 • 09:41
• Leia em 6 min
A invasão da Ucrânia pela Rússia é um ato horrível. Os líderes ocidentais, temendo uma guerra mais ampla, respondem principalmente com sanções econômicas. Uma delas, bastante relevante, foi a exclusão da Rússia do Swift (literalmente Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), o sistema de mensagens entre bancos de diferentes países que permite a realização de transferências financeiras. Trata-se de uma medida poderosa para minar a economia russa.
Mas, para um especialista em pagamentos como eu,
isso é um mito. Sim, os sistemas de mensagens Swift são fundamentais na
atividade econômica internacional. Desenvolvidos ao longo de cinco décadas,
esses sistemas oferecem comunicações extremamente seguras e encaixam-se nas
mais variadas operações de transações comerciais dos bancos. Os sistemas Swift
poderiam ser um alvo principal em qualquer guerra cibernética, mas felizmente
são bem seguros.
A realidade, no entanto, é que limitar o acesso ao
Swift é menos efetivo na prática do que vem sendo divulgado em boa parte da
mídia. É verdade que a medida é um símbolo importante de repúdio global ao uso
da força militar por parte da Rússia, mas não muito mais do que isso. Outras
medidas contribuem para minar a confiança no rublo, como impedir o Banco Central
da Federação Russa de realizar transações internacionais.
Para entender o efeito prático limitado da exclusão
da Rússia do Swift, vale à pena observar o que aconteceu no caso do Irã. Desde
1987, os Estados Unidos aplicaram e periodicamente reforçaram sanções
comerciais contra o Irã. Isso culminou na ordem executiva de Barack Obama, em
fevereiro de 2011, de congelar todos os ativos dos EUA do governo iraniano, do
Banco Central e das instituições financeiras. Os bancos do Irã foram excluídos
do Swift depois, em março de 2012. Essa medida foi complementar a restrições
diretas a empresas iranianas e intermediários financeiros.
Mas bancos iranianos podiam realizar pagamentos
dentro e fora do Irã, e ainda o fazem, utilizando instituições financeiras de
outros países que estavam dispostos a obter uma margem nessas transações. Isso
nunca foi fácil. Autoridades norte-americanas estabeleceram multas (que
totalizam US$ 5 bilhões) a bancos europeus por proverem este tipo de serviço ao
Irã. A exclusão do Swift não impediu o país de realizar pagamentos.
Então, para que serve exatamente o sistema Swift?
Como o Swift funciona
O Swift foi criado em 1973 como uma forma de
comunicação segura para pagamentos internacionais. É uma cooperativa belga com
cerca de 11 mil bancos membros de 200 países e territórios. O Swift fornece
sistemas de mensagens para instruir e monitorar pagamentos interbancários e
financiamento comercial integrados aos sistemas de processamento dos bancos em
todo o mundo.
O acrônimo Swift é apropriado, já que a velocidade
é uma parte fundamental no processo de pagamentos. Mas as origens da sigla
estão refletidas em uma versão bastante arcaica: Sociedade de Telecomunicações
Financeiras Interbancárias Mundiais. Hoje em dia, no entanto, essas
comunicações são evidentemente baseadas na internet.
Hoje, o Swift lida com cerca de 40 milhões de
mensagens diárias de pagamentos. Se considerarmos que sem esse sistema de
mensagem cada pagamento levaria algumas horas para ser processado por um
funcionário de banco, a economia poderia chegar a US$ 100 por transação. Isso
significaria que o Swift agregaria à economia global um valor de US$ 4 bilhões
por dia, ou US$ 1 trilhão por ano.
O ponto chave é que o Swift efetua as mensagens,
possui a tecnologia e padrões de apoio, mas não tem nenhum papel na execução do
pagamento. Imaginemos que um banco de Londres queira enviar fundos para um
outro em Moscou. A instituição londrina pode utilizar a mensagem Swift para
comunicar o pagamento, mas não para executá-lo. O pagamento em si pode ser
feito de várias maneiras: usando rublos mantidos como saldos pré-existentes com
o banco na Rússia; ou adquirir rublos ao vender libras esterlinas no mercado de
câmbio, ou de ativos em rublos, como títulos do governo russo.
Nada disso depende do Sistema Swift. Não há nenhum
problema fundamental com a transferência de fundos utilizando algum outro
sistema seguro de mensagens. Os bancos russos podem, por exemplo, realizar
pagamentos por meio do SPFS, o sistema de transferência de mensagens
financeiras criado pelo BC russo após a invasão da Crimeia em 2014. Esse
sistema é utilizado atualmente por bancos internacionais na Alemanha e na Suíça
que mantêm relações com bancos russos.
A Rússia poderia usar também a rede CIPS, criada
pelo Banco do Povo da China, o BC chinês, com o objetivo de realizar pagamentos
transfronteiriços em renminbi com participantes indiretos em muitos países. Os
russos poderiam até mesmo utilizar o WhatsApp para instruir as transações
necessárias.
Os pagamentos para exportadores de energia russos,
como por exemplo a Gazprom (maior companhia de energia russa), são ainda menos
dependentes do Swift. Quando os operadores compram petróleo ou gás da Gazprom,
efetuam o pagamento em euros ou dólares americanos em contas bancárias mantidas
pela empresa de energia russa. Portanto, se a intenção é bloquear os pagamentos
do gás russo, a ferramenta não é o Swift, mas sim as sanções à Gazprom e as
suas instalações bancárias.
Nada disso é para dizer que expulsar os bancos
russos do Swift não terá impacto econômico. Essa medida afetará pagamentos de
menor valor, como aqueles relacionados a cadeias de suprimentos de pequenas
empresas, já que o Swift garante um processamento de pagamentos barato e fácil.
Quando você multiplica a economia por muitos milhares de pagamentos, há um
aumento claro, mas isso não muda o jogo, ou seja, não chega nem perto de
representar um divisor de águas.
Caminho longo
O fato desconfortável permanece sendo o de que se
as sanções econômicas devem ser mais do que simbólicas, necessariamente vão
representar custos para os dois lados e deverão ser impostas a longo prazo. A
Rússia se preparou por uma década para a atual guerra e para quaisquer sanções
econômicas.
Moscou investiu imensamente em suas forças armadas
e reprimiu a discussão política interna para conseguir eliminar a oposição à
guerra. As suas operações militares não são dependentes nem de financiamentos
ou fornecimentos externos. A Rússia reestruturou a sua economia a um custo
substancial em termos de padrão de vida: transformou-se num país exportador de
comida, sendo que antes era um grande importador de alimentos, e reorientou
muito de seu comércio, por exemplo, com a Índia e com o Egito.
Pressões financeiras e econômicas sobre a economia
russa aumentam rapidamente e afetarão, acima de tudo, a classe média, já que o
rublo cai e as taxas de juros disparam. Outras sanções mais direcionadas
atingem russos ricos.
É plausível que tudo isso possa levar a um rápido
colapso da autocracia de Putin, mas não devemos nos iludir. Sanções econômicas
de grande alcance contra a Rússia podem ser necessárias por um longo período de
tempo. A expulsão do país do Swift é um símbolo desse esforço, mas não é uma
poderosa ferramenta econômica capaz de restringir as ações da Rússia na Ucrânia
e com pouco custo para nós mesmos.
*Alistair Milne, professor de Economia Financeira da Loughborough
University (Inglaterra)
Este artigo foi originalmente publicado em inglês
no The Conversation
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