22/04/2021 - 17:08 - Fonte: Gazeta de Araçuai
Há 14 anos se arrasta na Justiça em Araçuai, processo que discute a propriedade do casarão de meados do século 20.
Casarão corre o risco de desabar
Anos de abandono e uma longa batalha judicial que se arrasta desde 2007, colocam em risco um dos mais imponentes prédios históricos da praça Waldomiro Silva ( antiga praça das Lojas) em Araçuai, no Vale do Jequitinhonha.
O imóvel, tombado há 14 anos, abrigou o Clube Iguaçu na décadas de 40 a 50. Serviu ainda como casa comercial ( Casa Mineira ) e Loja Maçônica. Hoje, encontra-se em péssimo estado de conservação e com risco de desabamento.
O jogo de empurra-empurra começou em maio de 2007, quando ele foi declarado de utilidade pública através de decreto municipal. Neste mesmo ano, a prefeitura propôs uma Ação de Desapropriação para fins de restauração, e dar ao prédio uma destinação sócio-cultural para a comunidade.
Para garantir a posse do imóvel, depositou em juízo R$ 12 mil destinados aos quatro herdeiros legítimos. O Poder Judiciário concedeu ao município a imissão provisória na posse do imóvel, mas a decisão foi revogada pelo Ministério Público em dezembro de 2008, tendo em vista que a propriedade do casarão estava sendo discutida em juízo por meio de uma Ação de Usucapião movida pela aposentada Maria de Fátima Couto do Nascimento que ocupava o imóvel junto com uma irmã idosa. Elas alegaram que tinham a posse do imóvel desde 1984.
Os anos se passaram. Com as chuvas do final de ano de 2011, a aposentada foi retirada do imóvel, junto com a irmã, por conta do perigo de desabamento . Ela foi levada para uma casa, cujo aluguel passou a ser pago pela administração municipal, até a mesma alugar um outro imóvel.
DEPREDAÇÃO
Desde então, a pendenga judicial se arrasta sem solução. Por conta disso, o prédio se transformou em alvo de vândalos e criminosos, que furtaram portas e janelas e todo o madeiramento interno, que se transformou em mesas e bancos, vendidos a preço de banana pelas ruas das cidade. A ação do tempo, também colaborou com a deteriorização. Hoje, toda a parte dos fundos do prédio, está práticamente destruída.
O processo ainda tramita na Justiça, para decidir quem de fato é o dono do imóvel. Algumas interferências foram feitas, como lacrar as entradas para evitar mais destruições.
No entendimento de alguns moradores da cidade, o Poder Judiciário é o responsável pela degradação da construção em estilo eclético, que data de meados do século 20. A demora nas decisões sobre os inúmeros recursos impetrados tanto pela administração municipal, quanto pela defesa da aposentada, resultaram na destruição gradativa do imóvel.
Tapumes
Nesta quinta-feira (22), a prefeitura, através da Diretoria de Patrimônio Histórico, instalou tapumes em volta do prédio, atendendo pedidos do Ministério Público. No entanto, uma outra batalha deverá ser iniciada, em busca de recursos para a restauração, que deverá ficar em torno de R$ 2 milhões.
Com tapumes ou sem tapumes, o prédio continua deslumbrante aos olhos de quem passa pelo local. Apesar do estado de degradação, trata-se de uma das construções mais imponentes da região, projetadas para aquela época.
Triste final
Enquanto pedestres seguiam indiferentes seus caminhos na manhã desta quinta-feira (22), alguns deles não resistiam em mirar, ainda que rapidamente, os tapumes que agora encobrem a parte do imóvel. Observavam um esqueleto com jeito de mal-assombrado, com janelas quebradas e inúmeras rachaduras que reforçava o alerta: melhor não se aproximar.
— Não sei o que era essa casa, mas é bem bonita... Se fosse restaurada, né? Daria para preservar as memórias — refletia uma aposentada de 68 anos, que circulava a passos lentos e semblante pesaroso pelo trecho.
O descaso com a construção foi tão cruel que só permitia defini-la com um adjetivo: — É feia. Nunca foi cuidada, está suja e tem muitas rachaduras. Talvez até tenha uma história, vale a pena recuperar. - observou a mulher.
— É uma casa bem antiga... Já era para estar no chão . Querem para patrimônio histórico, mas agora já está deteriorado — comentou um vigilante noturno, que trabalhou por anos em comércios nas imediações.
À noite, o silêncio impera por ali. No passado, o casarão reinava como sede do Clube Iguaçu— Nos fervilhantes anos 40 e 50, o movimento de moças e rapazes da época, davam brilho ao local, ao som das valsas, boleros e fox trote. No fechar das cortinas, a ação do tempo destruiu as luzes e o glamour que ele provocava.
Com o abandono, o prédio passou a abrigar outros frequentadores: Usuários de drogas e moradores de rua. Uma mulher chegou a ser espancada dentro dele.
Muita gente entende que patrimônio é coisa de poeta e de saudosistas, mas é a historia de gerações que está contada nesses bens.
Araçuaí tem um acervo riquíssimo, que está se perdendo por falta de cuidado e preservação. Que empresários e poder público se unam para salvar o casarão e o que ainda resta do nosso patrimônio histórico.
Sérgio Vasconcelos
Repórter
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