11 de fevereiro de 2021
A automedicação é desaconselhada para qualquer doença. Com a disseminação da Covid-19, entretanto, ela ganhou muitos adeptos e pode causar efeitos colaterais bastante perigosos. Um deles é a hepatite medicamentosa, que, em casos extremos, requer transplante de fígado.
Segundo o hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado da Sociedade Brasileira de Hepatologia, 27% das hepatites agudas graves ou fulminantes são medicamentosas. Esse mal pode estar sendo causado em brasileiros pelo uso indiscriminado do vermífugo ivermectina.
O pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), contou no Twitter que avaliou uma paciente jovem que está prestes a precisar de um transplante. Segundo Fernandes, ela teve um quadro leve de Covid-19 e se automedicou com 18mg diárias de ivermectina por uma semana.
O resultado? Uma sobrecarga no fígado. “Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de um transplante por usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio algum”, disse ele na publicação. Depois de expor o caso na plataforma, Fernandes passou a receber ataques virtuais. Decidiu, então, tornar seus perfis inacessíveis nas redes sociais.
Droga contra parasitas
A ivermectina é segura para eliminar parasitas do corpo, desde que tomada sob supervisão médica. O problema foi sua inclusão em uma lista de medicamentos — conhecida como kit covid — que, embora não tenham eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, foi defendida por políticos como solução para a doença.
Mauro Schechter, infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta não se sabe as consequências do uso de longa duração da ivermectina. “A droga só é segura para as indicações que estão bula”, alerta. Segundo ele, 3% dos pacientes têm efeitos colaterais associados ao sistema nervoso central. Além disso, a ivermectina provoca má formação de fetos em diferentes animais, não pode ser usada por grávidas e, em doses mais altas, é letal para camundongos e causa convulsões em cães.
Paulo Bittencourt alerta que as três medicações do kit covid (ivermectina, cloroquina e azitromicina) podem levar à hepatite aguda. Embora a ocorrência seja rara, o que preocupa é o uso em larga escala e sem prescrição para tratar uma doença que já afeta milhões de pessoas. “A complicação pode ter uma frequência maior com o uso exacerbado”, avalia.
O próprio Bittencourt teve um paciente que usava ivermectina a cada 15 dias, por decisão própria, para evitar a Covid-19. Ele passou a ter náuseas depois de adotar o medicamento. “As pessoas dizem: ‘se não faz bem, mal não fará’, mas isso não é de todo real.”
A situação ficou tão fora de controle que a MSD, farmacêutica responsável pela fabricação da ivermectina, publicou um comunicado sobre o medicamento. Segundo a empresa, não há dados que sustentem a eficácia do medicamento contra a Covid-19.
Fonte: O Globo
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