sexta-feira, 23 de abril de 2021

Caso João Luiz: 5 coisas para nunca dizer a quem tem cabelos crespos

 Recentemente, no BBB21, o black power do professor de Geografia foi comparado a uma peruca pré-histórica. Caso gerou grande repercussão

atualizado 06/04/2021 21:07

@petitabel/Instagram

Se reality shows como o Big Brother Brasil trazem um recorde da sociedade, é natural que temas como homofobia e racismo venham à tona, sobretudo no Brasil, um dos países que mais mata LGBTs e pessoas negras no mundo.

A última pauta sobre preconceito levantada no programa da Rede Globo, já em sua vigésima primeira edição, girou em torno do cabelo crespo de João Luiz. O professor de Geografia teve seu black power comparado a uma peruca pré-histórica. O responsável pela ofensa foi Rodolffo, cantor de sertanejo autodenominado “chucro”.

“Isso para mim tocou num ponto muito específico”, lamentou João Luiz, com lágrimas nos olhos, ao falar sobre o ocorrido no episódio ao vivo dessa segunda-feira (5/4).


Ao ver a reação do professor, Rodolffo alegou que não teve intenção de ofender com o comentário. Ele ainda afirmou ter parentes negros que não ligam para esse tipo de brincadeira.

O sertanejo chegou a pedir desculpas a João, mas apenas após ser pressionado por outros colegas de confinamento. “É muito complicado o ‘mimimi’ hoje em dia”, queixou-se.

No momento da fala polêmica, proferida no último sábado (3/4), Juliette estava presente e chegou a concordar com Rodolffo. A paraibana, no entanto, fez alguns adendos e parece não ter ofendido tanto o docente.

João Luiz foi acolhido não apenas por alguns participantes do jogo, mas por muitos telespectadores, famosos e anônimos. Gaby Amarantos, Ludmilla (que fez show na casa recentemente e aproveitou para falar sobre o assunto), Luciano Huck e Taís Araújo foram apenas algumas das celebridades que demonstraram apoio a ele.

“Respeita o nosso cabelo”

Para a historiadora e ativista Marjorie Chaves, Coordenadora do Observatório da Política de Saúde Integral da População Negra da Universidade de Brasília (Nesp/Ceam-UnB), brincadeiras sobre cabelo afro, antes tão naturalizadas, não são mais aceitáveis.

“O cabelo crespo é um dos marcadores mais fortes da negritude, junto à pele escura e o formato do nariz. Por muito tempo, a população negra esteve condicionada ao uso contido desse cabelo (bem curto para os homens e alisado para as mulheres) e aceitava apelidos duvidosos, socialmente naturalizados à época. Atualmente, porém, a evolução do debate racial fez com que a gente desnaturalizasse tudo isso”, analisa.

Ela condena a fala de Rodolffo e se alegra ao ver o tema racismo em pauta no horário nobre da Globo. “Não podemos mais dizer que existe inocência em comportamentos preconceituosos, o que existe é a conivência. E conivência também é racismo”, esclarece.

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Apesar do longo caminho percorrido, a estudiosa diz que os fios crespos ainda são considerados sujos e primitivos por parte da população, e que esse preconceito afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas negras.

“Acredito que a opressão social por um padrão estético europeizado em uma sociedade racista como a nossa produziu graves efeitos na nossa autoestima. Mesmo com toda a mudança recente na forma de manipulação do cabelo crespo como resgate de uma história que nos foi negada, ainda é persistente a ideia de que o cabelo crespo volumoso, com tranças ou dreadlocks é ‘primitivo’, sujo. As representações negativas sobre o corpo negro e o cabelo crespo extrapola o âmbito do imaginário social e produz desigualdades como desemprego, baixos salários e limitações no acesso à bens e serviços”, conclui.

Cinco coisas para nunca dizer a quem tem cabelos crespos

A pedido do Metrópoles, o especialista em madeixas afro Mateus Kili, conhecido no Distrito Federal como Barbeiro da Favela, selecionou cinco outras frases e comparações inapropriadas sobre cabelos crespos.

1. Você está de peruca?
2. Seu cabelo é muito difícil de lavar, né? Não deve nem entrar água direito.
3. Suas madeixas parecem Bombril!
4. Raspa essa cabeça!
5. Alisa seu cabelo. Ficará bem mais bonito!

Lembre-se que suas palavras podem perpetuar preconceitos e ferir, mesmo que não intencionalmente.

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