O DEM foi celebrado como um dos grandes vencedores das eleições municipais de 2020. Governava 268 cidades. Arrancou das urnas 464 prefeituras. Projetou-se um futuro radioso para Rodrigo Maia, principal tecelão da legenda. Seria reeleito presidente da Câmara, levaria a pauta do governo Bolsonaro na coleira por dois anos e iria à bolsa de apostas de 2022 no mínimo como alternativa de vice. Deu chabu. Maia arrisca-se a virar xepa na feira em que se converteu a sucessão na Câmara.
Predileto de Bolsonaro na corrida pelo comando da Câmara, o líder do centrão Arthur Lira abriu uma banca para disputar a clientela de deputados com o líder do MDB Baleia Rossi, o preferido de Maia. Lira exibe berinjelas extraídas da horta do Planalto. No crediário, entrega verbas orçamentárias e ministérios. À vista, vende cargos federais de escalões intermediários. O Planalto desaloja apaniguados de Baleia e Cia., para entregar cargos a partidários de Lira.
As berinjelas oferecidas por Arthur Lira têm enorme saída. Arrastaram para a banca governista dissidentes a granel, incluindo pelo menos 13 deputados do DEM. Se amealhar mais três adesões, Lira ganha o direito de inscrever o DEM no seu bloco. Para desassossego do governador paulista João Doria, estrela do ninho do PSDB, Lira pode levar de troco os votos de meia dúzia de deputados tucanos.
Rodrigo Maia acusou o golpe. Zonzo, fez dois telefonemas. Num, queixou-se em tom inamistoso ao general Luiz Eduardo Ramos, coordenador político de Bolsonaro. Soou como se tramasse um revide. Noutro telefonema, reproduziu para o presidente do seu partido, ACM Netto, um insulto que disse ter ouvido de um empresário: o DEM está na bica de ganhar as manchetes como "partido da boquinha".
Se virar xepa, Maia não poderá colocar a culpa em ninguém. Cavou seu próprio caminho para o inferno. Cavalgando o segundo mandato como presidente da Câmara, disse aos correligionários que não reivindicaria a re-reeleição. Colocou quatro aliados para brigar pelo posto: Além de Baleia (MDB-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcelo Ramos (PL-AM) e Elmar Nascimento (DEM-BA). Embromou-os a mais não poder.
Impedido pelo Supremo Tribunal Federal de concorrer ao terceiro mandato, Rodrigo Maia optou por Baleia. Aborrecidos, Marcelo Ramos e Elmar Nascimento migraram para o bloco de Arthur Lira. Ramos concorre à primeira vice-presidência. Elmar lidera a dissidência do DEM.
Em política, quem não ambiciona o poder erra o alvo. Quem só ambiciona o poder, como fez Rodrigo Maia, vira o alvo. A troca de comando na Câmara ocorrerá na segunda-feira. O tecelão do DEM tem três dias para levar à feira mercadoria mais vistosa do que as berinjelas de Bolsonaro. O capitão consolida-se como mais um presidente que se une ao centrão não pelos laços do matrimônio, mas do patrimônio.
Ironicamente, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, outro cacique do DEM, está animado com a perspectiva de eleger o seu sucessor. Entre os senadores, desfila como favorito Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Deve-se o favoritismo ao apoio de Bolsonaro. As arcas governamentais continuam exercendo enorme poder de sedução no Legislativo.
Operação liberta 11 trabalhadores em condições análogas à
escravidão no RN
A Operação Resgate, anunciada nesta quinta-feira (28),
resgatou até o momento 140 trabalhadores de condições análogas à escravidão em
todo o país, com a retirada de 11 trabalhadores de condições degradantes de
trabalho na extração do caulim na divisa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba.
Houve fiscalizações em 23 Unidades da Federação.
A operação teve início no dia 13 de janeiro e é maior
força-tarefa de combate ao trabalho escravo já realizada no Brasil. Integram a
operação o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Polícia Federal (PF), a
Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério da Economia, o
Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU)
“É lamentável que em pleno século XXI os trabalhadores sejam
jogados à própria sorte, em situações de grave risco de vida, e sejam
submetidos a condições completamente degradantes, que violam a própria noção de
dignidade humana”, declarou Marcos Antonio Ferreira Almeida, procurador do MPT
na Paraíba que participou da operação que apurou condições degradantes na
extração do caulim.
“Amarrados e presos por cordas em um carretel artesenal,
esses trabalhadores descem às banquetas de caulim, que são buracos cavados na
terra, a mais de 10 metros de profundidade, em condições absolutamente
precárias, com risco eminente de acidente, soterramento e morte”, explicou o
procurador.
Os trabalhadores foram resgatados da situação constatada
pela fiscalização e receberam as indenizações devidas: dano moral individual,
verbas rescisórias decorrentes da extinção do contrato de trabalho e acesso ao
seguro desemprego por um período de até três meses, até que possam conseguir
uma nova oportunidade de trabalho.
Ação nacional – Além do resgate dos trabalhadores, a ação
integrada tem como objetivo verificar o cumprimento das regras de proteção ao
trabalho, a coleta de provas para garantir a responsabilização criminal
daqueles que lucram com a exploração e a reparação dos danos individuais e
coletivos causados aos resgatados. Ao todo, foram realizadas até o momento 64
ações fiscais, lavrados 360 autos de infração e identificados 486 trabalhadores
sem registro na carteira de trabalho. Serão destinados cerca de R$ 500 mil em
verbas rescisórias aos trabalhadores flagrados em condições análogas à
escravidão e cada um deles terá direito a três parcelas do seguro-desemprego.
Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (28), no
Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília, as
instituições destacaram o perfil variado das vítimas. Entre elas, estão
trabalhadores do meio urbano e rural, bem como indígenas, adolescentes,
trabalhadoras domésticas, migrantes estrangeiros, pessoas com deficiência e
idosos.
Para o procurador-geral do MPT, Alberto Balazeiro, a
Operação Resgate é um marco interinstitucional por ser a maior equipe já
formada em uma única operação de combate ao trabalho escravo. Balazeiro
destacou que os números expressivos e a abrangência nacional das fiscalizações
demonstram que ainda há muito trabalho a ser feito. “As atividades em que
ocorre trabalho escravo são múltiplas, desde as oficinas de costura até a
atividade rural, doméstica e garimpo, que provam que ainda há um cenário muito
duro a ser combatido”, afirmou.
O procurador-geral do MPT disse ainda que a instituição tem
muito a contribuir para combater essa chaga por meio de sua Coordenadoria
Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfretamento ao Tráfico de
Pessoas (Conaete).
O subsecretário de Inspeção do Trabalho do Ministério da
Economia, Rômulo Machado e Silva, destacou a parceria institucional
desenvolvida nos últimos 25 anos com a Polícia Federal, o Ministério Público do
Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública da União e com a Polícia
Rodoviária Federal (PRF) e outras instituições. “A reflexão que a gente traz é
que a atuação conjunta do Estado na repressão desse terrível crime tem tido
avanços. Precisamos trabalhar cada vez mais estrategicamente e proativamente
para que de fato a gente consiga eliminar essa que é a pior forma de trabalho
do nosso país”, ressaltou.
Também participaram da entrevista coletiva o diretor de
Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF, Igor Romário de Paula, o
coordenador-geral de Repressão a Crimes contra Direitos Humanos e Cidadania da
PF, José Roberto Peres, e o defensor público federal Murillo Ribeiro Martins.
AGORA RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário