Comentário foi feito durante sessão ordinária da Assembleia Legislativa, na terça-feira (20), enquanto se discutia a aprovação da CPI da Covid
Historicamente a cooptação, pelo Executivo, de apoio no parlamento sempre foi rodeado de negociatas, favores e benefícios pessoais ou partidários. Essa é a característica do fisiologismo, um vício da política que isola os interesses públicos do foco principal da atuação por parte de quem deveria proteger o coletivo. Foi exatamente esse fisiologismo que foi denunciado durante esta semana na Assembleia Legislativa do RN pela deputada Eudiane Macedo (Republicanos).
Durante sessão ordinária da Assembleia Legislativa do RN, na última terça-feira (20), em discussão sobre a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, a deputada deu uma forte declaração que repercutiu imediatamente no plenário e continua ecoando nos bastidores da política no Rio Grande do Norte.
Em seu discurso, a parlamentar comentou sobre a tranquilidade da governadora Fátima Bezerra (PT) com relação à abertura da CPI da Covid, e para justificar a serenidade da petista, fez uma fala que chamou a atenção, mostrando que se quisesse, Fátima conseguiria impedir a instalação da comissão.
“Essa CPI só foi aprovada porque a governadora Fátima não aceitou negociar, não aceitou se sentar com nenhum deputado da oposição. Tenho certeza que, se ela tivesse acatado ou aceito sentar com dois, três deputados, essa CPI não teria sido aprovada. Isso mostra que a governadora está muito tranquila diante de todos os acontecimentos”, disse a deputada Eudiane Macedo.
Imediatamente após a fala dela, ainda no plenário da Casa, deputados oposicionistas reagiram, ao que chamaram de uma acusação grave e pedindo que ela desse nome aos parlamentares que teriam ido em busca de um acordo com a governadora Fátima.
“É muito grave o que a deputada [Eudiane Macedo] disse. Agride os parlamentares de oposição coletivamente. Eu pediria que ela nominasse os parlamentares que foram à Governadoria ou se comunicaram com a governadoria, se oferecendo para transacionar o voto no sentido de ‘matar’ a CPI da Covid”, disse o deputado Getúlio Rêgo (DEM), membro da bancada de oposição e indicado para a formação titular da CPI da Covid.
Dois dias depois, na sessão ordinária de quinta-feira (22), o deputado Nelter Queiroz voltou ao tema, e foi ainda mais incisivo na tentativa de ter os nomes dos parlamentares que possivelmente procuraram o governo. “Eu quero requerer ao presidente da CPI que convoque a deputada Eudiane, no primeiro dia, para depor e confirmar o nome dos deputados que estavam conversando com alguém do governo para se vender ao governo da professora Fátima Bezerra”, disse o deputado Nelter.
Procurada pela reportagem do NOVO, a deputada Eudiane Macedo diz que está tranquila com relação ao assunto, e esclarece que não acusou ninguém de cometer crime e nem ultrapassou os limites parlamentares. Ela atribui a reação dos colegas deputados à sua condição de mulher: “Existe machismo em muitas reações e colocações. Porque a reação e a indignação são muito seletivas”.
Membro da bancada de oposição, o deputado Gustavo Carvalho (PSDB), considera a declaração de Eudiane “extremamente infeliz”, e diz que não entende a defesa que ela faz do governo, mesmo tendo declarado recentemente que seu candidato a governador em 2022 será Benes Leocádio. Gustavo fala ainda sobre a possível convocação de Eudiane para depor na CPI da Covid e acha incabível isso acontecer.
“Se o deputado Nelter fizer esse requerimento, ele deverá estar como membro da comissão. Ele poderá fazer desde que caiba na investigação das verbas da saúde esse tipo de coisa. Eu acho que isso estaria mais bem estruturado se fosse para a Comissão de Ética”, diz o deputado Gustavo Carvalho.
O secretário do Gabinete Civil do Governo do RN, Raimundo Alves, também comentou a repercussão da declaração de Eudiane Macedo, negou que o governo foi procurado por parlamentares e foi enfático ao dizer que não aceitaria esse tipo de negociação. O secretário negou ainda que o governo tenha tentado barrar a CPI, mas acha que a comissão nasce em meio a “muitos problemas”, e entre eles lembra a intervenção do ex-governador Robinson Faria no PSD, onde ele teria conseguido transformar a minoria em maioria.
“O mais grave problema foi político, quando a oposição conseguiu através de manobras externas ao parlamento, inverter a matemática ao transformar maioria em minoria. Primeiro o ex-governador Robinson Faria reafirmando a sua vocação coronelista, destituiu os direitos parlamentares de dois deputados, transformando-os em “liderados” do terceiro, ou seja, transformou um em três”, diz o secretário Raimundo Alves.
Declaração de deputada gera acusações e desconfiança nos bastidores da CPI da Covid | NOVO Notícias
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