Da Redação
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Família aluga casa e encontra a dona enterrada no jardim - TNOnline
Família aluga casa e encontra a dona enterrada no jardim
Caso aconteceu em Ubatuba, litoral norte paulista. Mulher
estava desaparecida desde 2013 e foi encontrada enterrada em jardim.
Ossada de mulher foi encontrada em jardim de casa em Ubatuba.
Foto por Arquivo pessoal
Ossada de mulher foi encontrada em jardim de casa em
Ubatuba.Escrito por Da RedaçãoPublicado em 27.07.2021, 16:05:34 Editado em
27.07.2021, 20:35:59Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade,
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A família escolheu o imóvel por ser aconchegante e espaçoso
e ter um aluguel mais barato do que outros do bairro.
Antes de se mudar, eles souberam que a dona da casa, que já
tinha morado ali, estava sumida desde agosto de 2013. A família estranhou, mas
não desistiu de alugar a residência.
Nos primeiros meses, os filhos do casal faziam piada dizendo
que a dona do imóvel estava enterrada ali. "Era brincadeira de molecada,
sabe?", diz Roberto à BBC News Brasil.
Em janeiro deste ano, a família descobriu que era verdade.
Roberto e o filho mais velho mexiam no jardim quando viram um tecido enterrado.
Cavaram ali e encontraram a ossada de Luzia.
A descoberta apavorou a família e levou à reabertura da
investigação do desaparecimento da proprietária.CONTINUA APÓS PUBLICIDADE
A casa em Ubatuba
Há cinco anos, Fátima e Roberto decidiram se mudar com os filhos para Ubatuba. Depois de morarem em um apartamento e uma casa, eles foram em busca de um imóvel mais espaçoso.
O casal visitou a casa de Luzia e foi informado do sumiço
dela. "Achei estranho e não gostei muito. Mas a corretora insistia muito,
porque acho que ninguém queria morar ali", comenta Fátima, ao G1.
"A princípio, a gente até pensou que ela estivesse viva
em algum lugar e perdida", relembra Roberto.
O casal concluiu que a residência de Luzia era a melhor
opção, porque "casava com as necessidades" da família.
O responsável pela casa é um irmão da mulher desaparecida.
Ele assumiu o imóvel, que ficou abandonado após o sumiço de Luzia.
O aluguel da propriedade estava a cargo de uma imobiliária,
e, antes de Fátima e Roberto, outra família já tinha vivido ali.
Nas primeiras semanas na nova casa, a Fátima e sua família
souberam um pouco mais sobre a antiga proprietária.
"Muitos conhecidos perguntaram se tínhamos notícias
dela. Quando a gente explicava que não a conhecia, eles começavam a contar
coisas sobre a Luzia", diz Fátima.
"Falaram que ela gostava muito de animais e tinha
gatos, que era solitária, tinha depressão e tomava remédios", relembra
Fátima. Com o passar dos meses, os comentários dos vizinhos diminuíram.
Os novos moradores foram se convencendo de que tinham feito
uma boa escolha. "Não é uma construção nova, mas é muito espaçosa, e a
localização é boa", diz Fátima.
Mas duas coisas incomodavam: a sombra em alguns cômodos e o
excesso de umidade no corredor. Roberto explica que o motivo disso eram as
plantas do jardim, que estavam ali muito antes da chegada da família.
"Eram altas, subiam até o telhado", diz ele.
"Às vezes, eu tentava puxar ou cortar, mas não dava
muito certo", comenta Fátima.
O jardim tem cerca de 45 centímetros de largura e fica em
uma área estreita, ao lado do muro, no corredor lateral da casa.
O trecho final do jardim, no fundo do terreno, tinha uma
particularidade: em pouco mais de um metro de comprimento, havia alguns lírio
da paz e tijolos para separar a área das plantas da parte cimentada do
corredor.
Após mais de dois anos na casa, Roberto e o filho mais velho
retiraram todas as plantas. Em seguida, limparam o local e encomendaram grama
para colocar em toda a extensão.
"A princípio, a gente não queria mexer no jardim porque
a casa não é nossa, e as plantas até eram bonitas. Mas decidimos fazer isso
porque nosso cachorrinho ficava rolando na terra do jardim e entrava em casa
cheirando muito mal. Além disso, a gente ficava incomodado porque ali reunia
bastante caramujo", diz Fátima.
Na tarde de 13 de janeiro deste ano, Roberto e o primogênito
preparavam o solo para a grama quando viram um pedaço de tecido saindo da
terra, na parte final do jardim, onde haviam acabado de retirar os lírios da
paz.
Ossada humana no jardim
A princípio, pai e filho pensaram que pudesse ser um pedaço
de pano deixado no local anos atrás. "Mas puxei e vi que era algo pesado",
relembra Roberto.
Os dois começaram a retirar a terra com uma enxada. Logo
notaram que era maior do que o esperado. "Sabe quando dá aquele frio na
espinha? Olhei pro meu filho e falei: 'será que enterraram algum animal
aqui?'", diz Roberto.
Quando terminaram de cavar, viram um edredom enterrado.
"Peguei uma ponta, e meu filho, outra. Estava bem pesado. A gente tirou do
buraco, e quando abri, saiu toda a ossada", conta Roberto.
"Na hora, falei: achamos a dona da casa. Fiquei sem
reação. Foi horrível, você não quer acreditar que aquilo tá acontecendo
contigo. Parece que o tempo congela. Passa um milhão de coisas na cabeça. Perde
o chão", diz Roberto.
"Parecia um filme. Fiquei em choque", diz o filho
mais velho do casal.
Fátima, que chegava do trabalho no momento, lembra:
"Fiquei pensando: o que será que aconteceu aqui? Será que cortaram ela
dentro de casa? Não sei o que aconteceu aqui dentro, e vivemos em um lugar
desses".
A polícia foi chamada. Uma representante da imobiliária foi
ao local e comunicou parentes de Luzia do fato. A notícia se espalhou.
Um item junto à ossada apontava se tratar de Luzia: uma
prótese metálica para a coluna — que a idosa usava desde que passou por uma
cirurgia, segundo uma amiga dela.
Depois, uma análise da arcada dentária confirmou que era
realmente a antiga dona da casa.
A investigação do crime
Segundo a polícia, até então não havia qualquer suspeita de
que Luzia pudesse estar enterrada no quintal da própria casa.
Os lírio da paz e tijolos deixados especificamente onde ela
estava enterrada deixam a impressão em quem acompanha o caso de que foram uma
tentativa de dificultar a localização do restos mortais da idosa.
Fátima e Roberto acreditam que se não fizessem a mudança no
jardim, a ossada de Luzia ficaria enterrada ali por muito mais tempo ou talvez
nunca fosse achada.
A Polícia Civil de Ubatuba instaurou um inquérito sobre o
material encontrado no jardim. Após a confirmação de que se tratava de Luzia, a
investigação sobre o desaparecimento dela, aberta em 2013, foi desarquivada, e
os dois procedimentos passaram a ser conduzidos em conjunto.
A apuração sobre o desaparecimento de Luzia começou em
agosto de 2013. Os vizinhos haviam estranhado o sumiço da mulher, não
conseguiram contato com ela e acionaram a polícia, que começou as buscas e
abriu um inquérito para investigar o caso.
Uma das pistas encontradas na época foi o carro de Luzia,
localizado em um outro bairro. No veículo, que tinha sido abandonado após uma
batida, estavam objetos pessoais de Luzia.
Na época, policiais foram à casa em busca de pistas, sem
sucesso. Os familiares, que moram em outras partes do país, acompanharam a
investigação a distância.
Vizinhos e conhecidos prestaram depoimento. Eles disseram
que Luzia era simpática e querida por muitas pessoas.
Professora aposentada, ela era solteira, não tinha filhos e
morava sozinha. Uma das suas paixões eram os gatos.
Em sua conta no Facebook, ela compartilhava várias fotos dos
animais e demonstrava ser apaixonada por dança e pelo mar. O perfil também
mostra como seu desaparecimento causou preocupação.
"Cadê você?", escreveu uma mulher, em 2013. As
mensagens continuariam a chegar nos anos seguintes. "Onde quer que você
esteja, muita paz. Olhe por nós", escreveu outra amiga da aposentada em
2014.
"Muitas saudades. Uma amiga inesquecível. Alguém teria
alguma notícia dela?", perguntou outra mulher em 2015.
"Esta é Luzia*, está desaparecida, seu carro foi
roubado e encontrado batido. Se alguém souber algo, por favor comunique à
polícia", compartilhou uma outra mulher em 2016.
Os amigos e familiares conviviam com a falta de respostas
sobre o desaparecimento. A investigação não conseguiu concluir se ela tinha
sido assassinada ou deixado sua casa por vontade própria.
A polícia apurou desavenças que a idosa tinha. Algumas
pessoas chegaram a ser investigadas porque "poderiam ter algum motivo para
prejudicá-la", segundo o Ministério Público de São Paulo, mas sem nenhuma
prova conclusiva.
Foi apurada a possibilidade de a idosa ter sido vítima de um
latrocínio — quando uma pessoa é morta em razão de um roubo —, mas a suspeita
não foi comprovada.
Em janeiro de 2020, o Ministério Público pediu o
arquivamento do inquérito porque não havia, até então, "vestígios
materiais que permitissem inferir com segurança que ela teria sido alvo de um
ataque".
Ninguém foi preso, e o desaparecimento seguiu como um
mistério até janeiro passado. Após a localização da ossada, o Ministério
Público pediu o desarquivamento da investigação, e novas testemunhas foram
ouvidas.
"Depois que o corpo foi encontrado, foi possível
esclarecer mais coisas", diz o delegado Bruno de Azevedo Aragão, atual
responsável.
A perícia na ossada não apontou indícios de que Luzia tenha
sido assassinada a tiros ou facadas. A suspeita é de que tenha sido
estrangulada e, depois, enterrada no jardim.
"Havia a esperança de identificar que ela foi vítima de
estrangulamento, porque normalmente há fratura no pescoço. Mas a perícia não
conseguiu chegar a essa conclusão, por causa da esqueletização (fase avançada
da decomposição dos restos mortais)", diz o delegado.
"Como não foi detectada marca de bala ou faca, eu ainda
acredito em estrangulamento. Porém, não é um diagnóstico fechado, até porque
não conseguimos isso com a perícia por conta do tempo (que ela permaneceu
enterrada)", acrescenta Aragão.
A ossada foi encaminhada para os familiares de Luzia, que
foi cremada. A reportagem entrou em contato com parentes dela, que não quiseram
conceder entrevista.
Por meio de um advogado, disseram que têm acompanhado a
investigação e acreditam que logo haverá punição a quem cometeu o crime.
Até o momento, a polícia não sabe se o crime foi praticado
por uma única pessoa ou se envolveu mais gente.
A previsão é de que a investigação seja concluída em,
aproximadamente, um mês. O delegado diz que pretende então esclarecer os
detalhes do crime e indiciar os envolvidos.
'Se colocou luz em uma situação que estava nas trevas'
Para a família de Fátima e Roberto, a descoberta foi
perturbadora. "Depois, a gente ficou imaginando ela sendo morta e
arrastada para o quintal", diz a mulher.
Ela conta que passou a evitar o local em que a ossada foi
encontrada. "Às vezes, ainda olho para o lugar e fico imaginando como tudo
ocorreu. Não gosto de ficar pensando nisso, não", diz Fátima.
"Ficamos bem assustados, mas vamos seguindo,
trabalhando e na correria da vida vamos levando", diz Roberto.
Hoje, os pais acham que as piadas que os filhos faziam sobre
a possibilidade de Luzia estar enterrada no local foi uma espécie de
"intuição de criança".
A forma como os filhos do casal enxergam a residência mudou.
"A mais nova é a que tem mais medo. Por ela, teríamos saído dessa casa em
janeiro", comenta Fátima.
A família cogitou se mudar, mas desistiu da ideia. "Mas
a gente não ficou em paz aqui, não", desabafa Fátima.
Fátima e Roberto torcem para que a morte de Luzia seja
esclarecida. Para os dois, a história da mulher sempre fará parte das
lembranças deles e dos filhos. "É algo trágico e marcante, que irá nos
acompanhar", diz Roberto.
No entanto, o casal, que é católico, conversou com um padre
e diz que passou a enxergar a situação como um "propósito de Deus".
"O corpo dessa mulher estava escondido e indigno. Não
teve nem sepultamento, e a família não tinha certeza se ela estava viva ou
morta. Essa descoberta colocou luz em uma situação que estava nas trevas",
afirma Roberto.
Roberto conta que plantou duas orquídeas onde Luzia havia
sido enterrada. Menos de uma semana depois, uma delas floriu. Para a família,
foi uma espécie de agradecimento.
*Nomes alterados para proteger as identidades dos membros da
família e da proprietária da casa.
Com informações: G1
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