Atleta carrega tocha olímpica na abertura das Olimpíadas de Tóquio de 1964
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André Bernardo
Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
26 julho 2021
Atleta carrega tocha olímpica na abertura das Olimpíadas de Tóquio de 1964 CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Milhares de espectadores presentes no Estádio Nacional de
Tóquio se emocionaram ao ver o atleta Yoshinori Sakai (1945-2014) carregar a
tocha na cerimônia de abertura dos Jogos
Os relógios em Hiroshima marcavam 8h15 quando, na manhã de 6
de agosto de 1945, o avião Enola Gay, pilotado por Paul Tibbets (1915-2007),
lançou uma bomba atômica sobre a província japonesa.
O artefato bélico, apelidado de "Little Boy",
explodiu no ar, a 600 metros do solo, e matou, segundo estimativas, cerca de
140 mil pessoas. Dezenove minutos depois, nascia, na cidade de Miyoshi,
distante 57 km de Hiroshima, o pequeno Yoshinori Sakai (1945-2014).
E dezenove anos depois do ataque, no dia 10 de outubro de
1964, os 75 mil espectadores presentes no Estádio Nacional de Tóquio se
emocionaram ao ver o atleta carregar a tocha na cerimônia de abertura dos
Jogos. A homenagem ao jovem mundialmente conhecido como "Bebê de Hiroshima"
mereceu aplausos inclusive do imperador japonês Hirohito (1901-1989), sentado
na tribuna de honra.
Como Brasil ajudou Japão a planejar recorde de medalhas em
Tóquio
"A edição de Tóquio 1964 foi uma grande demonstração da
reconstrução de um país arruinado pela guerra. A festa começou com um
sobrevivente da bomba atômica acendendo a pira olímpica. Isso por si só já diz
ao mundo que, mesmo diante de toda e qualquer catástrofe, é possível fazer a
vida seguir adiante", afirma Kátia Rubio, coordenadora do Grupo de Estudos
Olímpicos (GEO) da USP e autora do livro Atletas Olímpicos Brasileiros (2015).
Era a primeira vez que um país do continente asiático
sediava o mais importante evento esportivo do planeta. A princípio, os Jogos
Olímpicos de Tóquio seriam realizados em 1940, mas foram cancelados por causa
da Segunda Guerra Mundial (1939-45).
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Em 1959, quando foi escolhida cidade-sede dos Jogos de 1964,
Tóquio derrotou Detroit, Bruxelas e Viena. O Japão sediou a mais cara Olimpíada
até então: foram investidos US$ 3 bilhões na construção de modernos complexos
esportivos e na melhoria do sistema de transporte, com a inauguração do
Shinkansen, o primeiro trem-bala do mundo, no dia 1º de outubro de 1964, nove
dias antes da abertura dos Jogos.
Transmissão via satélite
Era a primeira vez, também, que uma Olimpíada era
transmitida ao vivo, graças ao satélite Syncom 3, para outros continentes.
"Em Roma 1960, as competições eram filmadas em película e, em seguida, os
rolos eram despachados em aviões para a Europa Ocidental e Estados Unidos. O
público assistia às competições com um dia de atraso", explica o
jornalista e historiador Adalberto Leister Filho, coautor de 2016 Histórias que
Fizeram 120 Anos de Olimpíadas (2016).
Entre outras inovações, o piso sintético substituiu o solo
de carvão nas pistas de atletismo e a vara de bambu, mais flexível que a de
madeira, cedeu lugar à vara de fibra de vidro nas provas de salto. Tem mais.
Pela primeira vez, foi adotada a cronometragem eletrônica em substituição à
manual.
"Com o novo instrumento, foi possível certificar a
medalha de bronze do nadador alemão Hans-Joachim Klein nos 100m livre",
explica o jornalista Marcelo Duarte, de O Guia dos Curiosos - Jogos Olímpicos
(2004). "Ele foi um centésimo mais rápido que o americano Gary
Ilman."
Olimpíada de Tóquio 2020: as imagens da abertura dos Jogos
Na 18ª edição dos Jogos, 5.151 atletas de 93 países
disputaram 163 provas. Deste total, 4.473 eram homens e 678, mulheres. Duas das
25 modalidades foram disputadas pela primeira vez: o vôlei e o judô.
Das 7h às 15h30, as jogadoras da seleção feminina de vôlei
trabalhavam em uma fábrica e, das 16h à meia-noite, treinavam saques, passes e
cortadas. "O método de trabalho do treinador era um tanto draconiano.
Hirofumi Daimatsu insultava as atletas e, por vezes, batia nelas. Hoje em dia,
seria processado (no mínimo) por assédio moral", observa Adalberto Leister
Filho.
"Depois de conquistarem o ouro olímpico, as atletas do
vôlei foram recompensadas pelo imperador, que as ajudou a encontrar
namorados", completa o jornalista Armando Freitas, coautor de Almanaque
Olímpico (2008).
Abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964
CRÉDITO,COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO
Legenda da foto,
Na 18ª edição dos Jogos, 5.151 atletas de 93 países
disputaram 163 provas. Deste total, 4.473 eram homens e 678, mulheres
O número de participantes de Tóquio só não foi maior porque
três países não participaram da competição: África do Sul, Indonésia e Coreia
do Norte. A África do Sul foi banida dos Jogos por 28 anos, 1964 a 1992, por
causa do regime de segregação racial do Apartheid. Já Indonésia e Coreia do
Norte foram impedidas porque, em 1963, participaram dos Jogos das Potências
Emergentes, evento promovido pela Indonésia contra a vontade do Comitê Olímpico
Internacional (COI), responsável pelos Jogos Olímpicos.
Terra de gigantes
Três atletas se destacaram em Tóquio: o maratonista etíope
Abebe Bikila (1932-1973), o pugilista americano Joe Frazier (1944-2011) e a
ginasta soviética Larisa Latynina, hoje com 86 anos.
Nos Jogos Olímpicos de 1960, Bikila chamou a atenção do
mundo ao correr descalço pelas ruas de Roma. Em Tóquio, tornou-se o primeiro
atleta a vencer duas maratonas olímpicas. "Dessa vez, usou tênis e
meia", diz o publicitário Marcos Abrucio, autor de Odisseia Olímpica: A
História das Olimpíadas e Seus Heróis (2008).
"Apenas seis semanas antes da prova, ele tinha sido
operado de apendicite". Frazier conquistou o ouro olímpico lutando contra
o pugilista alemão Hans Huber. Detalhe: o futuro campeão mundial de
pesos-pesados entrou no ringue com o polegar esquerdo quebrado.
Um dos grandes nomes de Tóquio foi Larisa Latynina. Nascida
na Ucrânia, a ginasta soviética ganhou, só em 1964, seis medalhas: dois ouros,
duas pratas e dois bronzes. Ao longo de três Olimpíadas (Melbourne 1956, Roma
1960 e Tóquio 1964), totalizou 18 medalhas: nove de ouro, cinco de prata e
quatro de bronze.
Seu recorde só foi quebrado 44 anos depois quando, em
Pequim, Michael Phelps conquistou sua 19ª medalha de ouro. Em cinco edições dos
Jogos (Sydney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016), o
nadador americano colecionou 28 medalhas: 23 ouros, três pratas e dois bronzes.
A história da nadadora australiana Dawn Fraser, de 83 anos,
é daquelas que seria cômica se não fosse trágica. Única nadadora a ganhar a
mesma prova — os 100m livres — em três Jogos consecutivos (Melbourne 1956, Roma
1960 e Tóquio 1964), Fraser teve a infeliz ideia de roubar uma bandeira do
Palácio Imperial de Tóquio para guardar de lembrança.
Resultado: foi presa em flagrante. "O imperador japonês
livrou-a da cadeia e deu-lhe a bandeira de presente", relata Armando
Freitas. Condenada a dez anos de suspensão, encerrou sua carreira em 1965.
O ginasta japonês Takashi Ono
CRÉDITO,COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO
Legenda da foto,
O ginasta japonês Takashi Ono ficou responsável por fazer o
juramento dos atletas na cerimônia de abertura
Heroína solitária
Terminados os Jogos, os soviéticos somaram mais medalhas que
os americanos: 96 contra 90. Mas, contabilizadas só as de ouro, os americanos
levaram a melhor: 36 contra 30. No pódio dos mais premiados, o Japão ficou com
o terceiro lugar: 29 medalhas - 16 de ouro, 5 de prata e 8 de bronze.
Na classificação geral, o Brasil terminou em 35º, empatado
com Gana, Irlanda, Quênia, México, Nigéria e Uruguai. A delegação brasileira
conseguiu uma única medalha de bronze. Na disputa pelo terceiro lugar, a
seleção masculina de basquete venceu Porto Rico por 76 a 60.
Naquele ano, o Brasil mandou 68 atletas para Tóquio. A única
mulher da delegação era a carioca Aída dos Santos, então com 27 anos. Primeira
atleta do país a disputar uma final olímpica, terminou a prova de salto em
altura em quarto lugar, com a marca de 1,74m.
"Por 44 anos, foi o melhor desempenho de uma brasileira
no atletismo", destaca Adalberto Leister Filho. "Só foi superado em Pequim
pela Maurren Maggi no salto em distância (ganhando medalha de ouro)".
Aída dos Santos
CRÉDITO,COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO
Legenda da foto,
Aída dos Santos foi a primeira atleta do país a disputar uma
final olímpica e terminou a prova de salto em altura em quarto lugar, com a
marca de 1,74m
Mesmo assim, Aída não guarda boas recordações de Tóquio.
Durante a competição, não teve técnico, massagista ou intérprete. No hotel, só
conseguiu preencher a data de nascimento na ficha de inscrição porque o
funcionário cantarolou um trecho de Parabéns Pra Você.
Na Vila Olímpica, recorria a mímicas para se comunicar com
atletas de outros países. Não bastasse, ainda tinha que aturar o sarcasmo de
atletas e dirigentes brasileiros: "E aí, turista, tá gostando do
passeio?", perguntavam, aos risos. "Vou mostrar a vocês quem é a
turista aqui!", respondia, baixinho.
A tristeza era tanta que, quando terminou de disputar suas
provas, não quis nem esperar pela cerimônia de encerramento. "Aquilo lá
foi um sofrimento só", resume a ex-atleta, hoje com 83 anos.
"Eu me sentia invisível, sabe? Não tive apoio de
ninguém. Na semana da competição, nem tênis para saltar eu tinha. Torci o pé e
não tinha médico. Fui socorrida por um da delegação cubana. Eu só fazia chorar.
'O que estou fazendo aqui?', vivia me perguntando. Se eu não fosse 'raçuda' e
gostasse de desafios, teria desistido há muito tempo."
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Advogado mexicano Ulrich Richter foi à Justiça para tentar tirar do ar um falso blog sobre si próprio na plataforma Blogger; apesar da vitória dele em primeira instância, a página contestada segue visível na internet.
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Advogado mexicano Ulrich Richter está há seis anos tentando tirar do ar um blog falsamente atribuído a ele — Foto: Arquivo pessoal
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Esta é a história do longo processo judicial encampado por Richter, que foi advogado de figuras conhecidas no México, incluindo personalidades políticas.
"Sou advogado civil e penal e, paralelamente, me envolvi com o ativismo cidadão. Sou autor de um livro chamado Manual del poder ciudadano (Manual do poder cidadão, em tradução livre) e fiz um blog com meu nome no Blogger, plataforma gratuita do Google, no qual discutia meu trabalho.
Em meados de 2014, algumas pessoas me contaram que havia outro blog com endereço parecido com o do meu. Esse, que eu considero ilegal e pirata, chamado 'Ulrich Richter Morales e suas porcarias (feitas) à pátria'.
Minhas filhas, à época menores de idade, me contaram que ouviram na escola que havia informações falsas e desagradáveis sobre mim na internet. Tivemos que ir à escola explicar.
Ao ver esse blog ilegal, vi que estavam usurpando minha identidade e a da minha mulher, postando nossas fotos. (Violaram) também os direitos do meu livro, que aparece na capa do blog com uma capa adulterada com o título (falso) 'Como lavar dinheiro'.
Esse blog dizia que eu estimulava atividades ilícitas, que eu era o rei da lavagem de dinheiro... Então apresentei uma denúncia penal para que isso fosse investigado.
Em 2015, fiz chegar uma carta ao diretor-geral da subsidiária do Google no México, como proprietário da plataforma onde esse blog está alojado, manifestando minha inconformidade porque tudo estava cheio de fake news, usando imagens minhas, adulterando a capa do meu livro e fazendo referência a reportagens de imprensa que não existem.
Enquanto isso, segui com a denúncia penal para descobrir quem havia criado esse blog. O aparato legal do Google no México apresentou um relatório dizendo que estava-se fazendo o possível para rastrear sua origem.
Eu respondi que queria que o blog fosse eliminado, por violar minha dignidade e a da minha mulher, com efeito até sobre minhas filhas. Mas a resposta foi de que o Google não queria remover o blog.
Foi quando eu comecei a preparar uma ação de danos morais, baseando-me especialmente nas políticos do Blogger que dizem que um blog pode ser removido se infringir as normas de uso. E essas normas proíbem a usurpação de identidade e de direitos de autor, a promoção de atividades ilícitas. Tudo isso era infringido no caso."
Detalhei isso no processo. Não via motivo para o Google não aceitar, porque o blog violava suas próprias normas. Mas, até hoje, o blog segue no ar."
O que dizem as regras do Blogger?
- "Não se deve usar este produto para suplantar a identidade de outras pessoas (...) Permitimos a paródia, a sátira e o uso de pseudônimos, sempre quando se evite conteúdo que possa confundir o público sobre a verdadeira identidade dos autores"
- "Não se deve distribuir conteúdo que engane, confunda ou desoriente os usuários"
- "Não se deve usar este produto para participar em atividades ilegais"
- "É nosso dever responder ante denúncias claras de supostas infrações de direitos autorais"
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