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Operação PF na Rocinha. Na foto, movimentação de polícias no interior da comunidade
REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA
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Bolsonaro choca a todos com ataque cruel a órfão de 15 anos;
leia e entenda
Presidente ultrapassa a barreira do inimaginável em termos de covardia, desrespeito e crueldade
Ricardo Kertzman
04/08/2021 07:14 - atualizado 04/08/2021 08:28
'Jair Bolsonaro é claramente um homem insensível e impiedoso'(foto: Marcos Corrêa/PR)
'Jair Bolsonaro é claramente um homem insensível e
impiedoso'
(foto: Marcos Corrêa/PR)
Hoje não irei atacar Jair Bolsonaro. Ao contrário. Irei tratá-lo com o máximo respeito que não me merece. Mas o motivo é justo e o assunto dramático demais para sujá-lo com adjetivos ofensivos, ainda que legítimos e verdadeiros. Assim, espero despertar no leitor o desejo por uma sincera reflexão a respeito de quem nos governa.
Eu não conheço a fundo os princípios do cristianismo em
todas as suas correntes. O que posso dizer se refere a valores humanos
universais, como caridade, compaixão, solidariedade, amor ao próximo...
Sentimentos que são compartilhados por todas as religiões. Bolsonaro se diz
cristão, mas fere de morte todos estes valores acima.
ATAQUE INFAME
Nesta terça-feira (3/8), ao atacar mais uma vez a democracia
brasileira, o presidente, sabe-se lá o porquê, resolveu denegrir a imagem do
ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morto em maio deste ano, após uma dura e
longa batalha contra o câncer. Às portas do Alvorada, disse aos seus fiéis que
lhe aguardavam:
‘É como aquele outro aí, que morreu. Fecha São Paulo e vai
ver Palmeiras e Santos no Maracanã’. Bolsonaro estava se referindo à final da
Copa Libertadores deste ano, ocorrida em janeiro, no Rio. Em meio à pandemia do
novo coronavírus, foi permitido extraordinariamente o acesso de 5 mil
torcedores ao estádio.
DESPEDIDA CRUEL
Covas - santista apaixonado - sabedor do (pouco) tempo de
vida que lhe restava, foi com o filho Tomás, de 15 anos, também um torcedor do
Peixe, não apenas assistir à partida e torcer pelo título do Santos, mas
sobretudo proporcionar a lembrança - que será eterna! - ao garoto, daquele dia
tão importante para ambos.
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O prefeito e o filho, podemos assim dizer, foram se despedir
de um prazer que jamais iriam desfrutar juntos outra vez. Fico imaginando o que
passou na cabeça de ambos; toda a mistura de sentimentos e emoções que viveram
naquele dia: dor, medo, raiva, ansiedade, alegria, tristeza, incerteza,
decepção.
SENTIMENTO PATERNO
Sou um chorão assumido, e enquanto escrevo sinto um nó
torcer a minha garganta. Sou pai de uma adolescente de 15 anos também, e nossa
relação é profundamente amorosa e próxima. A dor que sentiram Covas e Tomás (e
este ainda sente) é a pior que pode existir para pessoas que amam e são amadas.
Jair Bolsonaro é claramente um homem insensível e impiedoso.
Um sujeito incapaz de sentimentos nobres. Sua relação com os filhos mostra o
que os une, e ali não há nada que pareça com amor paternal - e vice-versa. São
políticos que se aproveitam e se alimentam uns dos outros e nada mais; nada
além.
RELAÇÃO FAMILIAR
Que filho amoroso, verdadeiramente preocupado com a saúde do
pai e com medo de o perder, conseguiria tirar uma foto (aquela de Bolsonaro,
supostamente sedado e com a barriga inchada à mostra, na cama do hospital) e
publicar em redes sociais como fizeram seus filhos - ou um deles, acho que o
Carlos?
Que pai, verdadeiramente capaz de amar um filho, declararia:
‘eu prefiro ter um filho morto que um herdeiro gay’. Ou: ‘seria incapaz de amar
um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu
morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí’. Compreendem o meu
ponto?
INCAPAZ DE AMAR
Bolsonaro não conhece o ‘amor’. Aliás, foi mais ou menos
isso que declarou Tomás Covas ao saber da infâmia presidencial ao seu pai: ‘Meu
pai sempre foi um homem sério. Fez questão de me levar ao Maracanã no fim da
sua vida para curtirmos seus últimos momentos juntos. Isso é amor! Bolsonaro
nunca entenderá esse sentimento’.
Eis aí. Não entenderá mesmo. E o sentimento que tem por
Bruno Covas é o mesmo que tem pelos quase 600 mil mortos por Covid-19 no
Brasil. Para o atual presidente todos são ‘o outro aí, que morreu’. Não tinham
nome, rosto, sonhos, história, planos, família. Por isso, expressões como
‘parem de mimimi’ ou ‘vão chorar até quando?’.
CPF CANCELADO
Bolsonaro jamais se importou com as mortes - e jamais se
importará - porque nem sequer se preocupa com a sua própria. Quando fala, ‘se
morrer, morreu’ ou ‘todos irão morrer um dia’, ele demonstra o apreço que tem
pela vida e pela dor de quem perde alguém que ama: simplesmente nenhum! Zero.
Ao receitar remédios que não funcionam; ao incentivar e promover
aglomerações; ao encorajar o enfrentamento ‘de peito aberto’ ao vírus; ao
maldizer o uso de máscaras; ao boicotar as vacinas e tudo mais, no íntimo, o
que Bolsonaro deixa transparecer é que não se importa se um ou milhões
morrerem. Ele mesmo diz: ‘CPF cancelado’.
RECADO DADO
Conforme prometido, caminho para o fim deste texto sem
recorrer, como de costume, a adjetivações pejorativas e/ou outras formas de
contra-ataque. Sim, porque quando ‘ofendo’ o presidente da República, apenas
retribuo suas ofensas iniciais. Quando o ‘ataco’, é em resposta a um ataque
anterior. Desrespeito com desrespeito se paga.
Mas confesso que não estou satisfeito. Meu estilo - e gosto
- é escrever com o fígado e deixar à mostra toda a minha indignação. Porém,
como disse anteriormente, não é um assunto para ser tratado no subsolo da
civilização, sob pena de quem o fizer - no caso seria eu - se igualar a Jair
Messias Bolsonaro, o mito que tanta gente idolatra.
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