Durante seu tempo de fala na tarde dessa quarta-feira, no plenário da Câmara dos Deputados, um dos advogados da deputada federal cassada Flordelis dos Santos de Souza (PSD-RJ) fez acusações contra o marido da pastora, Anderson do Carmo, assassinado a tiros em junho de 2019. Jader Marques, que assumiu a defesa de Flordelis há cerca de dois meses, afirmou que a vítima abusava sexualmente de filhas e netas. O advogado chamou Anderson de estuprador e mau caráter, chegando a afirmar ter fotos comprovando que ele teria traído Flordelis. Jader falou durante 25 minutos, antes da votação da cassação do mandato de sua cliente pelo plenário. O advogado da família de Anderson do Carmo rebate as declarações de Marques.
— Flordelis tem ouvido de sua defesa, dia após dia, informações do processo que muitas vezes a levam a médicos e (tomar) remédios. Não é possível que o homem que eu amava era um estuprador, abusador de crianças, ela pensa. Mas isso vai ser provado, deputados e deputadas. Este homem acariciava as filhas dela durante a noite de maneira sub-reptícia, nojenta, asquerosa — afirmou Marques.
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Já em outro momento de sua fala, o advogado afirmou que Anderson do Carmo agarrava as netas e alegou ter provas ainda de supostas traições. Marques afirmou que essa tese defensiva será levada ao processo criminal respondido por Flordelis, acusada pelo Ministério Público de ser mandante da morte de Anderson.
O advogado Angelo Máximo, que representa o pai de Anderson do Carmo no processo criminal,repudia as acusações contra a vítima.
— As acusações são levianas, sem prova nenhuma para imutar crimes tão graves a quem não está mais aqui para se defender. Se o crime acontecia, por que Flordelis não noticiou nada? E se isso acontecia, ela era conivente, ou até coautora porque ela tinha conhecimento e não comunicava à polícia. Se é verdade o que Flordelis fala, tentando se defender, cabe à polícia apurar isso e investigar Flordelis também — rebateu.
A versão de supostos abusos cometidos pela vítima foi trazida pela filha biológica de Flordelis, Simone dos Santos de Souza, em seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados em abril deste ano. Também acusada de envolvimento no assassinato e presa, Simone disse ter sido violentada sexualmente por Anderson e ainda apontou que uma menor de idade tinha sido vítima do padrasto. Simone admitiu participação no plano para matar Anderson e disse ter sido motivada pelos episódios de abuso.
No entanto, em seu interrogatório na Justiça, três meses antes, Simone tinha dado uma versão diferente. Ela admitiu ter planejado a morte do padrasto, mas citou “investidas sexuais” da vítima, sem detalhar episódios de abuso ou outras vítimas.
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Em seus dois depoimentos, Simone nunca citou a atuação de seu irmão, Flávio dos Santos, no plano para matar Anderson. O rapaz está preso, acusado de ser o executor do padrasto. A filha de Flordelis alegou, nas duas oportunidades em que foi ouvida, ter dado R$ 5 mil para uma irmã afetiva, Marzy, contratar alguém para cometer o crime. Simone afirmou não saber se a contratação havia ocorrido de fato.
Logo após ter sido preso, em junho de 2019, Flávio chegou a confessar ter sido autor dos disparos. No entanto, em seu interrogatório na Justiça, em setembro de 2020, ele voltou atrás e passou a negar a confissão.
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Durante sua fala no plenário da Câmara, na tarde dessa quarta-feira, Jader Marques admitiu que um filho de Flordelis executou o pastor, mas não citou a quem se referia. O advogado alegou que a deputada havia percebido, dentro de sua própria casa, “que a filha que confessa, junto com o filho que aceita o mando, aceita a execução e executa”.
O próprio Flávio foi o primeiro a falar à polícia sobre supostos abusos cometidos por Anderson. Em seu depoimento dias após o crime, no qual confessou ter sido o executor do padrasto, o rapaz alegou ter ficado sabendo pela irmã, Simone, que Anderson teria "passado a mão" nela e em uma de suas filhas enquanto dormia. Flávio disse ter ficado “tomado por ódio” do padrasto. No entanto, a versão acabou não sendo confirmada por nenhuma das testemunhas ouvidas durante as investigações. Além de Flávio, nenhum outro integrante da família, incluindo Simone e suas filhas, citaram abusos. Uma delas, inclusive, negou tal fato.
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Durante a sessão de cassação, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que é pastor evangélico, saiu em defesa de Anderson.
— Senhor presidente, eu não aguentei. Anderson era meu irmão. Subir nessa tribuna para falar contra a honra de um morto. Subir nessa tribuna para acusar Anderson de pedofilia, de violência sexual. Se a deputada Flordelis sabia que convivia com um pedófilo, com um abusador, por que não denunciou isso antes? — questionou Otoni, alegando que sua manifestação acontecia “em nome da memória do Anderson”.
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