Ana Carolina Nobre Leite reclamou no Instagram que estava perto de dormir quando a paciente deu entrada na unidade. Dois meses depois, advogada da família ainda tenta processar os envolvidos.
Por g1 AL
Ana Carolina Nobre Leite ironizou a morte da paciente Lenilda Nunes nas redes sociais — Foto: Reprodução/Instagram
A estudante de medicina Ana Carolina Nobre Leite, do Centro Universitário Cesmac, usou as redes sociais para ironizar a morte de uma paciente que deu entrada na unidade de saúde em que ela estava trabalhando perto da sua hora de descanso. A paciente faleceu e ela fez um post reclamando que não conseguiu dormir.
O caso é investigado internamente pela instituição de ensino. A família da paciente deu entrada em uma ação de danos morais contra a estudante, o Cesmac e a Prefeitura de Marechal Deodoro, responsável pela unidade de saúde onde aconteceu o caso. Veja abaixo o que se sabe e o que falta esclarecer.Quem é a estudante?
Ana Carolina Nobre Leite cursa o 9º período de medicina do Centro Universitário Cesmac. Ela é presidente e fundadora da Liga Acadêmica de Cirurgia do Trauma (2020) e monitora bolsista do módulo Semiologia I da universidade (2020).
A estudante é fundadora e coordenadora geral da I Jornada de Cirurgia e acompanhava o serviço de cirurgia geral e urgências e emergências traumáticas do Hospital Geral do Estado (HGE).Após a conduta de expor a paciente nas redes sociais, ela foi suspensa da universidade.
O g1 tenta falar com a estudante de medicina desde que o caso ganhou repercussão, mas somente nesta segunda-feira (28) Ana Carolina atendeu a ligação. Ao ser informada de que se tratava de uma reportagem, ela desligou o telefone. Logo em seguida ela retornou a ligação, fez xingamentos e voltou a desligar.
O que ela postou?
A estudante fez um post no Instagram para reclamar da chegada de uma paciente com edema agudo no pulmão bem perto da hora de seu descanso. Ela fez uma foto onde aparece o nome da paciente e os procedimentos realizados.
“Faltando 10 min para minha hora de dormir, chega mulher infartando e com edema agudo de pulmão, e agora já passou 1:30 da minha hora de dormir, tô puta”, postou. Em seguida, ela faz um novo post dizendo que "a mulher morreu e eu não dormi”
Quem era a paciente?
Lenilda Silva Nunes morreu em unidade de saúde em Marechal Deodoro, AL, e teve morte ironizada na internet por estudante de medicina — Foto: Arquivo Pessoal
Lenilda Silva Nunes, 62 anos, foi a mulher que deu entrada
na Unidade Mista Dr. José Carlos de Gusmão, em Marechal Deodoro, com dores no
peito.
"Fizemos todo o protocolo e, depois da triagem, a estudante de medicina pediu para que a gente entrasse na sala. Ela estava com muita cara de sono, calada. Eu fui logo dizendo que ela [dona Lenilda] estava com muita dor no peito. E a estudante de medicina continuou calada, não esboçou nenhuma reação. Em seguida, acredito que ao ouvir os gritos da minha sogra, o médico abriu a porta e já foi dando as devidas providências. Pegou ela e já foi mandando ir para outra sala e pediu para eu me retirar", relatou a nora de Lenilda, Aline dos Santos Moreira.
Com a repercussão do post da estudante, a família de Lenilda buscou apoio jurídico para punir os responsáveis pelo que aconteceu.
A estudante continua trabalhando na unidade de saúde?
A estudante fazia estágio na Unidade Mista Dr. José Carlos de Gusmão em um convênio firmado entre o Cesmac e a unidade, mas a Secretaria Municipal de Saúde de Marechal Deodoro informou que, após tomar conhecimento do caso através do médico-chefe da unidade, fez o desligamento da universitária do quadro de estagiários do município.
Como está a investigação do caso?
No dia 9 de fevereiro, o coordenador do curso de medicina do
Cesmac, André Falcão, disse que a instituição tomou conhecimento do caso
através de grupos do WhatsApp. Ele informou que a aluna foi foi suspensa das
atividades na universidade.
No dia 16 de fevereiro, o vice-reitor da universidade, professor Douglas Apratto Tenório, disse ao g1 que o conselho recomendou a expulsão da estudante e enviou o parecer para a reitoria da universidade, que determinou a instauração de uma comissão de sindicância para apurar o caso.
A partir daí, a estudante teria um prazo de 30 dias para
apresentar sua defesa e dar andamento ao processo. Contudo, o Cesmac informou
que o caso segue em análise e está dentro do prazo estipulado pelo conselho
universitário.
O Conselho Regional de Medicina (CRM), que também acompanha
o caso e investiga se a estudante estava sob supervisão de um profissional
formado.
Família da paciente processa a estudante
Parentes de Lenilda Silva Nunes, 62 anos, deram entrada em
uma ação por danos morais contra a estudante de medicina Ana Carolina Nobre
Leite. Também são réus na ação a Fundação Educacional Jayme de Altavila, à qual
pertence o Centro Universitário Cesmac, e a Prefeitura de Marechal Deodoro. O
valor da ação é de R$ 300 mil.
A advogada Luciana Omena disse que teve dificuldade em
conseguir as documentações necessárias para compor o processo.
A Prefeitura Municipal de Marechal Deodoro informou que não irá comentar a ação judicial pois ainda não foi comunicada oficialmente sobre o processo pela Justiça de Alagoas. A nota diz ainda que a gestão lamenta o ocorrido e só deve comentar o caso em momento oportuno.
O g1 entrou em contato com a assessoria do Centro Universitário Cesmac e com a estudante de medicina , mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem.Reproduzir vídeo
29/03/22 05:52
RIO — O vereador, youtuber e ex-policial militar Gabriel Monteiro — que costuma ser visto com uma escolta armada de PMs com fuzis — será investigado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) e pela Polícia Civil, em desdobramentos das denúncias apresentadas anteontem no Fantástico, da TV Globo, nas quais assessores e ex-assessores o acusam de assédio moral e sexual, manipulação de vídeos e exploração de criança para autopromoção. Essa última imputação será alvo de um inquérito civil que a 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Infância e Juventude da capital vai instaurar para apurar se uma menina teve seus direitos violados.
Ela aparece em um vídeo do parlamentar, publicado nas mídias sociais, dizendo que naquele dia “ficaria sem comida”. Imagens sem edição exibidas pelo Fantástico, no entanto, apontam que ela teria dito aquilo após ser instruída por Monteiro, que tem 23 milhões de seguidores nas redes sociais. Segundo o MPRJ, podem ser adotadas medidas para a remoção do vídeo da internet, sem que seja descartada a hipótese de ajuizamento de uma ação judicial para a obtenção de indenização por dano moral coletivo.
Já a delegada Giselle do Espírito Santo, da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, vai intimar o vereador a depor no inquérito, aberto anteontem, em que ele é investigado por assédio sexual a uma ex-assessora de 26 anos. Como vereadores não têm foro privilegiado, ele pode responder a processo em primeira instância.
— É um crime grave e temos que apurar todos os detalhes — afirmou Giselle.
Luiza Caroline Bezerra Batista trabalhava para os canais do vereador na internet e afirma que algumas situações inconvenientes estão registradas nos vídeos em que ela ajudava a gravar.
“Ele me abraçava assim por trás. Beijava o meu rosto, saía de pênis ereto e ia mostrar para o segurança”, relatou a mulher ao Fantástico, acrescentando um episódio em que teria sido agarrada, mordida e lambida pelo parlamentar. Em seu depoimento à polícia, ela confirmou as acusações. E disse que Monteiro dizia a assessores que ou topavam tudo ou não trabalhavam para ele.
Além do assédio sexual, o vereador é acusado de estupro por uma segunda mulher. À TV Globo, ela disse que, no início, consentiu a relação sexual com político. Mas, no meio, pediu a ele que parasse, e o ato evoluiu para um abuso sexual.
Outros assessores também o acusam. Após dizer que foi alvo de assédio sexual, o editor de vídeo Mateus Souza, de 21 anos, disse ontem que passou a receber ameaças de morte em suas redes sociais:
— Pela carga horária, passei a morar na casa dele. Num primeiro momento, era em Icaraí. Depois, Camboinhas e, em seguida, na Barra. A gente tinha que editar os vídeos do Tik Tok e do YouTube, porque ele falava que era ligado ao trabalho no Parlamento.
“Temo pela minha vida”
O editor conta que os assédios começaram quando eles viviam em Camboinhas.
— Ele pegava nas nossas partes íntimas, dava porrada na gente e, a partir daí, me senti desconfortável. Ele fazia piadinha de mim (de cunho homofóbico). Falava que tínhamos que tocar nele porque era um trabalho — conta Mateus, que relata o que tem vivido agora. — Estou recebendo ameaça de morte. Parte da minha família foi embora por medo. A minha esposa só chora. Tenho medo do que pode acontecer comigo. Eu temo pela minha vida.
Já outro ex-assessor, Heitor Monteiro Lobby, de 21 anos, acusa Monteiro de instruir “a equipe a piorar a narrativa” sobre a situação de crianças que apareciam em seus vídeos:
— A equipe ia na frente para fazer a busca do perfil de crianças que ele queria e pedia: negras, carentes e com uma história triste. A partir daí, ele instruía a gente a piorar a narrativa. A gente orientava e induzia a criança a contar certo tipo de coisa por que ela não estava passando naquele momento.
Sobre a menina cuja participação numa das publicações de Monteiro será investigada pelo MPRJ, o vereador divulgou um vídeo editado com uma mulher identificada como a mãe da garota.
— O que a minha filha falou não era nada mentira. No dia que ele chegou e abordou a minha filha, era quase cinco e pouca da tarde (sic), e eu e a minha filha não tinha almoçado (sic). Eu quase desmaiei. As pessoas criticam, mas não sabem o que passamos — disse a mulher.
Monteiro nega as acusações:
— Que investigue tudo. Não tenho medo de investigação. Foi falado em algumas reportagens que eu induzi ela a mentir sobre fome e o pai ser alcoólatra. A menina estava esfomeada, coitada. Não fizemos nada que não mostrar a verdade.
Hipótese de peculato
O advogado Matheus Falivene, especialista em Direito Penal, explica, no entanto, que independentemente de os responsáveis pela menina defenderem a posição de Monteiro e não apresentarem queixa, o MPRJ pode investigar se os direitos dela foram violados:
— Os crimes do Estatuto da Criação e do Adolescente (ECA) são de ação penal pública. Então, nesse caso, independe da vontade da vítima ou dos pais. O ECA também trabalha com o princípio da proteção integral. Ainda que não encontre um crime, o Ministério Público vai investigar porque pode haver punições administrativas. E, supondo que se entenda que há crime, possivelmente pelo menos um dos pais pode ser processado junto com o vereador.
O advogado diz que outro crime que poderia ser investigado é o de peculato, se ele usava funcionários pagos com dinheiro público para fazer vídeos particulares sem relação com o trabalho parlamentar:
— É um problema que tem sido discutido com relação a policiais e políticos youtubers, que usam estrutura do estado para atividade particular.
O suposto uso indevido de funcionários públicos para fins privados também será investigado pelo MPRJ.
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