quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Maurício Demetrio: delegado é condenado por obstrução de justiça e é afastado do cargo público

 Decisão determina prisão de mais de 9 anos. Ele é acusado de chefiar uma organização criminosa que usava da instituição para extorquir, chantagear e fazer dossiês contra desafetos

Por Extra — Rio de Janeiro

O delegado Maurício Demetrio foi condenado, no último dia 4, a mais de 9 anos de detenção pelos crimes de obstrução de justiça, organização criminosa, lavagem de capitais, além de laudo falso e inserção de dados falsos em sistema. Demetrio é acusado de chefiar uma organização criminosa que usava da instituição para extorquir, chantagear e fazer dossiês contra desafetos. Ele foi preso pelo Ministério Público em junho de 2021, na Operação Carta de Corso.

A decisão é do juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa do Rio. Em trecho do documento, o magistrado afirma que o desvio de finalidade das operações policiais foram “o ponto central da questão posta em julgamento”.

“Aponte-se que os crimes são gravíssimos e foram praticados justamente valendo-se da função pública que exerce e da estrutura que a Polícia Civil lhe confere”.

Na sentença, o magistrado determinou que o delegado seja removido do quadro da Polícia Civil.

Segundo o advogado criminalista e professor de Direito Penal Carlos Maggiolo, especialista consultado pelo EXTRA, por se tratar de uma sentença de primeira instância, Demétrio pode recorrer. Ele, no entanto, no recurso de apelação, deverá requerer, em sede de liminar, que cessem os efeitos da sentença (efeito suspensivo), até o trânsito em julgado do processo.

— Contudo, considerando as demais ações penais que responde e a natureza de seus delitos, não é certo que obtenha sucesso em resgatar o seu salário. Maurício está nas mãos dos entendimentos dos três desembargadores do Tribunal de Justiça do RJ, que julgarão o seu recurso — explicou Maggiolo.

O jurista Breno Melaragno explica que Demétrio continuará recebendo salário de servidor até que não seja mais possível nenhum recurso no processo:

— Para determinar a demissão dele do cargo de delegado de polícia, a condenação precisa transitar em julgado, ou seja, não ser mais passível de recurso. Enquanto isso não acontece, ele está afastado da função, que é uma medida cautelar. Ele continua recebendo como servidor, porque ainda não houve demissão.

'Se existir corrupção, é do jogo do bicho'

Em depoimento à Justiça, em abril de 2022, Demétrio afirmou que, “se existir corrupção” na polícia, é a do jogo do bicho. O delegado depôs na 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa na ação penal na qual é apontado como integrante de uma quadrilha que exigia dinheiro de comerciantes de roupas falsificadas na Rua Teresa, em Petrópolis, em 2020.

Durante o depoimento de Demetrio, o então juiz da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa, Bruno Rulière, perguntou se o delegado tinha conhecimento da corrupção na Polícia Civil:

“O senhor tem conhecimento de alguma corrupção institucionalizada na Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro? Institucionalizada, aquela que está enraizada, que funciona independente dos personagens que já têm. A máquina corrupta, ela funciona independente da troca de personagens. O senhor tem conhecimento de alguma corrupção institucionalizada nas especializadas do Rio de Janeiro?”

Demetrio pergunta: “especializadas?”. O magistrado confirma e o delegado responde: “Se existir é do jogo do bicho. Fora isso…”

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Maurício Demetrio diz que, se existir corrupção policial, é "a do jogo de bicho"

Na época das investigações do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, Demetrio era justamente de uma unidade especializada, a Delegacia de Repressão contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). O delegado tentou, inclusive, impedir as investigações contra um esquema de propina na delegacia em que comandava, ao incriminar colegas da Corregedoria Interna da Polícia Civil que também o investigavam.

Quando foi preso, os agentes da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do Ministério Público do Rio apreenderam R$ 240 mil em dinheiro na casa de Demetrio, na Barra da Tijuca, além de 13 celulares, três carros de luxo blindados, além de joias como relógios de marca famosa.

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