quinta-feira, 25 de março de 2021

Justiça condena, por racismo, ex-aluno da FGV que chamou colega de 'escravo'

Gustavo Metropolo publicou em um grupo uma foto com mensagem dizendo 'ter encontrado um escravo no fumódromo' da faculdade, em São Paulo


Postagem com mensagem racista foi feita em grupo de WhatsApp Foto: Reprodução

Postagem com mensagem racista foi feita em grupo de WhatsApp Foto: Reprodução

RIO — A Justiça de São Paulo condenou Gustavo Metropolo, ex-aluno da Fundação Getúlio Vargas (FGV), pelos crimes de racismo e injúria racial, após ele chamar um colega negro de "escravo" em um grupo de WhatsApp. A decisão da 14ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, na capital paulista, fixou a pena em dois anos e quatro meses em regime aberto. Porém, a pena privativa de liberdade foi substituída por prestação de serviços à comunidade e pelo pagamento de cinco salários mínimos à vítima.

O GLOBO tentou contato com a defesa de Gustavo Metropolo, mas não teve retorno. A FGV afirmou que "não é parte na ação e o réu já não é seu aluno desde logo após o evento”.

O caso foi denunciado em março de 2018 pelo também aluno da FGV João Gilberto Lima. Metropolo havia enviado uma mensagem para um grupo de WhatsApp com uma foto de Lima acompanhada da mensagem: "Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!".

Enem 2020:  Acusado de racismo, Inep muda gabarito e admite 'inconsistência' em questões da prova

Após a abertura do boletim de ocorrência e instauração do inquérito policial, o Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia por injúria racial e por racismo contra Gustavo Metropolo.

A defesa de Metropolo negou a autoria do crime argumentando no depoimento judicial que ele não era o autor da mensagem, pois seu celular hava sido roubado antes do episódio. Também foi alegado que ele teria se sentido pressionado pela instituição a admitir algo que não havia feito.

Porém a juíza Paloma Assis Carvalho, da 14ª Vara Criminal de São Paulo, refutou a tese, afirmando que a "autoria é certa" que o ato cometido pelo réu atingiu toda a sociedade.

Dossiê:Assassinatos de pessoas trans aumentou 70% no Brasil nos primeiros oito meses de 2020

"Não convence a versão do réu de que não foi o responsável pela fotografia, postagem e mensagem. Restou comprovado que, por diversas vezes, o réu admitiu aos professores e coordenadores da Faculdade ter sido o autor dos fatos, chegando a dizer que havia feito uma 'monstruosidade' e que eles estariam 'perdendo tempo' com uma pessoa como ele. Afirmou que não era isso que aprendera com a sua família, mostrando-se arrependido da conduta", escreveu a juíza na sentença.

A decisão determina ainda que o réu pode recorrer da decisão em liberdade, já que, segundo a magistrada, "não houve, durante a instrução, qualquer motivo ensejador de custódia cautelar, e diante da substituição da pena, tampouco há agora".

Leia mais:  Ativistas afro-LGBTI alertam para preconceito duplo e cobram políticas públicas específicas

Em 2018, logo após dar depoimento na Delegacia de Repressão contra Crimes Raciais, em São Paulo, João Gilberto Pereira Lima falou ao GLOBO sobre a reação que teve ao ver a mensagem racista.

— Fiquei em choque. Nunca tinha passado por isso na FGV. Agora só penso em ter meus direitos adquiridos — disse na ocasião — Já fui vítima de preconceito outras vezes, mas fora do ambiente universitário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário