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Augusto Fernandes
postado em 14/05/2020 15:16
De acordo com um segundo inquérito da corporação, Adélio Bispo foi Uma segunda investigação da Polícia Federal a respeito da faca recebida pelo presidente Jair Bolsonaro em setembro de 2018, durante compromisso de campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG), concluiu que Adélio Bispo de Oliveira, responsável pelo ataque, agiu por conta própria e não recebeu ordens de nenhum mandante para cometer o atentado.
Na quarta-feira (13/5), o delegado à frente do inquérito,
Rodrigo Morais, apresentou as conclusões à Justiça Federal em Juiz de Fora.
Segundo ele, ;ainda que a maioria das pessoas acreditem na existência de
suporte logístico ao perpetrador do ato delitivo ou no envolvimento de grupos
criminosos especializados, até o presente momento nada de concreto pode ser
concluído a partir desta hipótese criminal;.
;Como já se disse, não havia espaço para a imperícia ou para
uma apuração orientada pelo anseio popular, apesar de inúmeras pessoas ansiarem
por apresentar algo que contribuísse com o trabalho da Polícia Federal. Até
aqui, a investigação, marcada ininterruptamente pelo rigor técnico, demonstrou
que Adélio Bispo de Oliveira atuou sozinho, por iniciativa própria, tendo sido
o responsável pelo planejamento da ação criminosa e sua execução, não contando,
a qualquer tempo, com o apoio de terceiros;, afirma o delegado no inquérito.
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Morais acrescenta que ;o que a investigação comprovou foi
que o perpetrador, de modo inédito, atentou contra a vida de um então candidato
à Presidência da República, com o claro propósito de tirar-lhe a vida;.
Para o segundo inquérito, a Polícia Federal analisou objetos
que pertenciam a Adélio, dentre aparelhos celulares e um computador. A
corporação periciou ao menos 2 terabytes de arquivos de imagens, 350 horas de
vídeo, 600 documentos, 700 gigabytes de volume de dados de mídia, 1,2 mil fotos
e mais de 40 mil e-mails. A PF ainda entrevistou 102 pessoas e outras 89
testemunhas.
Primeiro inquérito
Em setembro de 2018, Morais já havia constatado que Adélio
havia agido sem a ajuda de terceiros. ;Ficou claro ali que o motivo realmente
era o inconformismo político do senhor Adélio, em razão de discordar com
algumas opiniões políticas e alguns discursos que o candidato defendia.
Chegamos à conclusão de que naquele dia naquele momento o senhor Adélio teria
agido sozinho, não contou com a participação de ninguém", afirmou à época.
[SAIBAMAIS]Na primeira investigação, o delegado relatou que
Adélio premeditou o ataque. Morais destacou que o responsável pela facada
fotografou previamente alguns locais onde Bolsonaro estaria em Juiz de Fora e o
acompanhou durante todo o dia, tendo tido inclusive acesso ao hotel em que
estava programado um almoço do então candidato à Presidência da República com
empresários.
;As imagens demonstram o comportamento obsessivo com que
Adélio Bispo buscou concretizar seu plano de atentar contra a vida do
candidato, deixando evidenciar a premeditação;, afirmou Morais, no inquérito de
2018.
Adolescente de 14 anos estava com amigos na Rua da Mica, Bairro São Raimundo, na madrugada desta quinta-feira (25/3), quando um desafeto a executou
TF
Tim Filho - Especial para o EM
25/03/2021 15:31 - atualizado 25/03/2021 16:48
A menina, depois de baleada, caiu em frente às grades dessa casa na Rua da Mica. O crime aconteceu por volta da 1h20 desta quinta-feira (25/3)
(foto:
Google Street View/Divulgação)
Uma menina de 14 anos foi executada a tiros em Governador
Valadares, na madrugada desta quinta-feira (25/3). O crime aconteceu na Rua da
Mica, no Bairro São Raimundo, periferia da cidade.
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COVID-19: Valadares registra a segunda morte na fila de
espera de UTI
Mesmo com o toque de recolher instituído pelo governo de
Minas dentro das medidas restritivas da onda roxa, que proíbe a circulação de
pessoas entre 20h e 5h, diariamente a menina estava na rua, junto com alguns
amigos, perto de sua casa.
Por volta da 1h20, conforme registros das câmeras de
segurança instaladas em lojas da Rua da Mica, um rapaz se aproximou do grupo de
jovens pedalando uma bicicleta. Ele sacou uma arma e efetuou vários disparos,
acertando a menina três vezes.
Baleada, a menina tentou escapar do atirador. Andou alguns
passos e caiu morta, na calçada. Segundo os policiais que atenderam a
ocorrência, ela levou dois tiros no peito e um no braço esquerdo.
O atirador, depois de executar a menina, deixou a bicicleta
caída na calçada e fugiu a pé. Ele já foi identificado pela Polícia Militar,
mas ainda não foi preso.
A irmã da menina assassinada disse que há dias ela vinha
recebendo ameaças de morte por meio de mensagens, no WhtasApp. O
tenente-coronel Carvalho explicou que a menina assassinada convivia com pessoas
que tinham várias passagens pela polícia, por tráfico de drogas e porte ilegal
de armas.
Essa convivência, segundo o policial, encorajou a menina a
desafiar outras pessoas ligadas ao crime, que moram em bairros próximos ao São
Raimundo, por isso vinha recebendo ameaças de morte. A Polícia Civil está
investigando as causas do homicídio.
O adolescente de 14 anos foi queimado vivo dentro de unidade da Igreja Universal em Salvador, em 21 de março de 2001
atualizado 21/03/2021 11:20
São Paulo – Marion Terra, 62 anos, carrega na voz a saudade do filho, morto há exatos 20 anos. O adolescente Lucas Terra, 14, foi estuprado, queimado vivo e assassinado por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, império construído pelo bispo Edir Macedo, em Salvador, capital da Bahia, em 21 de março de 2001.
O crime que assombrou o Brasil chega a duas décadas sem resolução. Apenas um dos três criminosos foi condenado, e cumpriu só uma parte da pena. Marion desabou ao saber da possibilidade de prescrição da pena dos outros dois réus. Ela concedeu entrevista exclusiva ao Metrópoles para explicar como sua vida tem sido dedicada à busca de justiça.
Na virada para 2001, a família Terra iria se mudar para Parma, na Itália, onde trabalharia em um restaurante. Marion pegou o avião do Rio de Janeiro para o continente europeu antes de todos, nos últimos dias de dezembro de 2000. O marido, Carlos Terra, e os filhos, incluindo Lucas, passaram uma temporada de verão na capital baiana, onde um dos irmãos de Lucas morava.
Em janeiro de 2001, Lucas Terra, um jovem religioso, começou a frequentar a Igreja Universal no bairro de Santa Cruz. A identificação com o evangelho foi tamanha que ele dedicava dia e noite para a obra de Deus, conta Marion. Lucas e uma dezena de jovens visitavam favelas, doavam roupas e tentavam evangelizar crianças.
Um jovem devotado à igreja
Por telefone, o jovem dizia à Marion que se sentia desencantado com a Europa, e que sua vontade era permanecer no Brasil. Sua maior intenção era ser obreiro da Universal, um passo acima da função que ele ocupava, de assistente de obreiro. Na prática, esse religioso atua diretamente com o pastor na organização do templo e das atividades, por exemplo.
Lucas também estava apaixonado pela namorada, que ia à mesma igreja. Ele tinha como mentor o pastor Sílvio Galiza, que comandava a unidade.
Na noite de 21 de março, o adolescente estava prestes a conquistar o seu sonho. Galiza chamou somente Lucas, que participava de um grupo, para ir de ônibus à Universal da Pituba, a quatro quilômetros da igreja em Santa Cruz, para receber a gravata de obreiro.
De acordo com o testemunho do criminoso, Lucas flagrou os pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo em ato sexual no templo. Essa foi a razão apontada por Galiza, em depoimento feito em 2008, para o assassinato do jovem.
Lucas foi queimado vivo
Lucas Terra foi levado à força para outro templo da Universal, em Rio Vermelho, onde foi torturado e abusado sexualmente. Ele foi colocado dentro de um caixote e carbonizado vivo em um terreno baldio na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Testemunhas disseram à época que Galiza mantinha uma relação de dominação sobre o jovem.
O corpo do adolescente de 14 anos só foi encontrado em 23 de março, enquanto seu pai, Carlos, procurava seu paradeiro sem comunicar a esposa. Marion só soube do assassinato do filho caçula duas semanas depois, e retornou ao Brasil no início de abril.
Ao desembarcar no país, a mãe de Lucas Terra esperou 43 dias para enterrar o corpo do filho, após o Instituto Médico Legal (IML) realizar o exame de DNA. A família Terra passou a enfrentar demora no andamento do inquérito, que foi concluído em outubro de 2001.
Carlos Terra protestava nas ruas, na porta do Fórum Ruy Barbosa e participava de palestras para relatar o caso. O casal enviou uma carta à Organização das Nações Unidas (ONU) para questionar a demora no processo e como Galiza, que morava na periferia, pagava um time de advogados. A pressão resultou no primeiro julgamento do pastor, em junho de 2004.
Das denúncias vieram as ameaças
Foi mais ou menos nessa época que começaram as ameaças. “Eu recebia ligações de pessoas dizendo para eu parar de denunciar a igreja, que era para eu me preocupar com os meus filhos, que estávamos manchando a imagem da Universal. Tentaram de todas as formas nos intimidar”, afirma Marion Terra.
Nessa época, a família de Marion mudava de casa praticamente todo mês, para se proteger de outras possíveis tentativas de intimidação. Ela afirma que a Igreja Universal do Reino de Deus tem atuado para impedir a condenação dos três pastores. O Metrópoles entrou em contato com a Universal, que não respondeu ao pedido de declaração até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
Galiza foi condenado inicialmente a 23 anos e cinco meses de prisão. Após recurso dos advogados, a pena caiu para 18 anos e, posteriormente, 15 anos. O pastor foi acusado por homicídio qualificado com motivo torpe e ocultação de cadáver. Ele cumpriu sete anos e segue atualmente em liberdade condicional.
Três envolvidos no assassinato
Os outros acusados, Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo, entraram em cena em 2008, ano em que foi aberto um processo contra ambos, após depoimento de Galiza. Em 2010, receberam habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) e, três anos depois, foram inocentados em novembro por alegação de falta de provas. A família de Lucas Terra recorreu da decisão.
Em 2015, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) decidiu que Silva e Macedo teriam que enfrentar um júri popular. O ministro do STF Ricardo Lewandowski barrou a decisão, adotando a tese da falta de provas, em novembro de 2018. Entretanto, após novo recurso, o órgão decidiu, por meio da ministra Cármen Lúcia, em setembro de 2019, que os pastores seriam julgados, descartando a chance de novos recursos.
Antes de o STF bater o martelo em definitivo, porém, Carlos Terra sofreu uma parada respiratória decorrente de uma cirrose hepática e morreu, aos 65 anos. Marion está convencida de que a decisão de Lewandowski acabou com qualquer esperança do marido.
Desde a morte do filho, Carlos Terra não se alimentava direito, não ia ao médico, tampouco deixava a Bahia por medo de reviravoltas no caso. A única exceção foi no início de 2018, quando o casal viajou para Roma. Foi lá que os dois descobriram, em novembro, que o processo havia sido anulado. Pai e filho estão enterrados no mesmo cemitério, um do lado do outro. “Ele já estava doente e definhou até 2019”, lamentou Marion.
Pandemia atrasa júri popular
Veio a pandemia de Covid-19 em março de 2020 e atrasou novamente a data de julgamento dos réus. A reportagem pediu ao TJBA informações sobre o andamento do caso.
“O processo é físico, possui vários volumes. Estamos aguardando a unidade onde tramita o processo analisar as peças digitais para que possamos responder a demanda”, informou, em nota, a assessoria de imprensa do órgão.
Por conta do novo coronavírus, o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) apresentou o Projeto de Lei (PL) 2684/10. O texto indica a suspensão da contagem do prazo de prescrição de crimes durante a vigência de estado de calamidade pública provocado por surto, epidemia ou pandemia. O documento está em tramitação na Câmara.
A advogada Tuany Sandes Cardoso, que atua como assistente de acusação de Marion Terra, explicou à reportagem o que pode acontecer no tribunal daqui para frente. Ela conta que o caso Lucas Terra a motivou a se especializar na área criminalista.
Riscos de não serem presos
De acordo com Tuany, eles sentarão no banco dos réus, mas existe a chance de não cumprirem a pena, se a Justiça brasileira retardar a entrega de recursos. Caso condenados, eles poderão recorrer ao Tribunal de Justiça, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal.
Assim que passar a pandemia, Marion acredita que será possível sentar novamente frente à frente com os acusados. Ela descarta o julgamento virtual.
“No Código Penal e Código de Processo Penal existem causas interruptivas e suspensivas da prescrição punitiva. Não existe risco de acontecer a prescrição antes do tribunal do júri. O que pode acontecer é a prescrição da pretensão executória, que vai depender de quando eles irão entrar, se eventualmente forem condenados, no sistema penitenciário”, esclarece a advogada.
Uma condenação para a família Terra
Religiosa e frequentadora da Assembleia de Deus, a mãe de Lucas Terra classifica a Igreja Universal do Reino de Deus como uma “empresa que está manchada com o sangue” de seu filho. Para ele, tanto Silvio Galiza quanto Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda Macedo são “lobos travestidos de pastores”.
Ela diz não odiá-los, mas quer que eles paguem pelo crime. Sem o marido por perto há dois anos, ela diz encontrar força em Deus para seguir em frente.
“Minha vida tem sido difícil, de altos e baixos, mas sempre procurei me fortalecer, me manter em pé. Carrego uma sensação de impotência muito grande, é como se a condenação fosse de fato para nós. Primeiro vieram os 20 anos e agora parece que vai se estender para toda a vida”, finaliza.
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