quinta-feira, 25 de março de 2021

‘Kit covid’ causa morte de 3 e leva outros pacientes para fila de transplante

Uma reportagem do Estadão levantou que três brasileiros morreram com problemas hepáticos após o consumo excessivo do chamado ‘kit covid’, nome dado ao conjunto de remédios ineficazes para o tratamento do novo coronavírus.

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Os medicamentos cloroquina, azitromicina e ivermectina, defendidos e de uso incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro como ‘tratamento precoce’, podem causar hepatite e já levaram diversos pacientes para a fila de transplante de fígado no Brasil.

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Dois óbitos por hepatite por remédios do ‘kit covid’ foram registrados no Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo, e um em Porto Alegre. O que havia em comum entre os casos? Todas as vítimas ingeriam os remédios ineficazes defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro e de uso incentivado pelo Ministério da Saúde.

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“Eles chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos. Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, diz Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP, ao Estadão.

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Vale lembrar que o Ministério da Saúde, ainda comandado pelo general Pazuello, incentivou o uso massificado desses medicamentos através do aplicativo ‘TrateCOV’. O app direcionado a médicos sugeria um tratamento para a doença a partir de uma ficha médica do paciente. Os remédios do ‘kit covid’ eram receitados, inclusive, para pacientes com doenças hepáticas e bebês.

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Segundo os especialistas, o problema da ministração desses medicamentos não aparece na maioria das pessoas. Os médicos dizem que é justamente em quem desenvolve a covid em sua forma mais grave que as lesões hepáticas são mais comuns. Somam-se sequelas ao já doloroso processo de recuperação da Sars-COV-2. Os profissionais de saúde também relatam que a chance de sobrevivência dos pacientes que fizeram tratamento precoce é ainda menor.

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“A preocupação maior é com os 15% que desenvolvem forma grave da doença e acabam vindo para a UTI. É nesses pacientes que os efeitos adversos dessas drogas ocorrem com mais frequência e esses efeitos podem, sim, ter impacto na sobrevida”,  explica o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público do Estado, à BBC.

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“A falta de organização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% (das mortes), mas contribuiu”, completa Carlos Carvalho, que também é professor da Faculdade de Medicina da USP.


Fotos: © Getty Images


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