Moradores relataram execução de jovens e crianças na ação contra o tráfico de drogas em favela do bairro Jacarezinho, na zona norte da capital.
Por Marcelo Menna Barreto e Gilson Camargo / Publicado em 6 de maio de 2021
Operação Excpetis começou às 6h com cerco à favela por policiais fortemente armados e sobrevoos de helicópteros
Menos de uma semana após a posse de Cláudio Castro (PSC) como governador do Rio de Janeiro, a polícia civil carioca promoveu na manhã desta quinta-feira, 6, a operação mais letal de sua história. Até agora ao menos 25 pessoas foram mortas em uma ação contra o tráfico em uma favela do bairro Jacarezinho, zona norte da capital fluminense.
Entre os mortos está um policial civil e 24 suspeitos de participar de um grupo que, segundo a Secretaria de Segurança do estado, aliciava menores de idade para ações criminosas.
Entre os mortos, somente o policial André Frias teve seu nome divulgado. Ele era integrante da Delegacia de Combate às Drogas. Baleado na cabeça, Frias chegou a ser levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.
Batizada de Exceptis, a operação ainda traz como saldo cinco pessoas baleadas e dez suspeitos presos. Entre os feridos, dois policiais. Um na perna e outro com um tiro de raspão no braço. Um morador teve seu pé atingido dentro de casa por uma bala perdida e tiros atingiram passageiros dentro de vagões do metrô no trecho de superfície.
Uma equipe de peritos também acabou encurralada na comunidade. Eles somente conseguiram sair do cerco por volta das 16h20, conforme informou a assessoria de comunicação da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Armamento pesado
Outro saldo da operação chamou a atenção. O forte armamento apreendido. Até as 15h45, sete fuzis, 16 pistolas, uma submetralhadora, munição antiaérea e 12 granadas estavam contabilizados. Um dos fuzis era customizado com camuflagem. Segundo policiais, esse tipo de armamento costuma ser usado por líderes de facção.
A submetralhadora apreendida é similar a que foi utilizada no assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Tiros no metrô
A Exceptis começou por volta das 6h. Moradores relataram que viram helicópteros sobrevoando a região e, após, uma intensa troca de tiros. O tiroteio ocorreu inclusive dentro da estação de metrô de Triagem que atende o bairro. Dois passageiros ficaram levemente feridos ao serem atingidos dentro de um vagão.
Defensoria Pública
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou em nota que “está acompanhando com muita atenção” os desdobramentos da operação desta manhã.
“Neste momento, a instituição está no local, por meio de sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas. Desde já, manifestamos nosso pesar e solidariedade aos familiares de todas as vítimas de mais essa tragédia a acometer nosso estado.”
“Ninguém troca tiro sentado numa cadeira”
Moradores relataram invasões de casas e execuções sumárias de civis por policiais. “Entramos numas cinco ou seis casas, todas com a mesma dinâmica. Casas arrombadas, tiros e execução. Não tem troca de tiros, não tem marcas. Um menino morreu sentado numa cadeira”, relatou Joel Luiz Costa em um vídeo postado no Twitter.
“Ninguém troca tiro sentado numa cadeira. Isso é muito cruel. Isso é barbárie. É desanimador, sabe? Faz a gente pensar que não tem solução. Descontrole total, entraram no Jacarezinho, mataram 25 pessoas ou mais. Isso acabou com o tráfico de drogas?”, indagou.
A jornalista Victoria Damasceno, em seu Twitter, comentou o vídeo relembrando que o STF proibiu operações policiais em favelas, abrindo exceções para casos absolutamente excepcionais.
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