sábado, 17 de julho de 2021

Simone Tebet enquadra Flávio Bolsonaro: "Repita o que disse sobre mim"

 "Ele não tem coragem de falar no microfone o que me disse". Simone Tebet ameaça levar Flávio Bolsonaro ao Conselho de Ética

Luiz Calcagno e Jorge Vasconcellos, CorreioBraziliense

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) chegou cedo à CPI da Covid e, diferentemente das vezes anteriores, permaneceu até o final, mesmo depois da notícia da internação do pai.

Mas não se furtou de, novamente, tumultuar: discutiu com a senadora Simone Tebet (MDB-MT) e com o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL) — de quem é desafeto desde que foi chamado por Flávio de “vagabundo” no depoimento do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, um dos primeiros à CPI.

O desentendimento entre os dois senadores começou quando o emedebista questionou a diretora da Precisa, Emanuela Medrades, se sabia da relação de Flávio com seu patrão, Francisco Maximiniano. Isso porque o filho do presidente da República tentou que o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, recebesse o empresário, que é investigado por suspeita de participar do esquema de superfaturamento da compra da vacina Covaxin pelo governo federal.

Após Renan questionar Emanuele sobre o encontro, Flávio pediu direito de resposta. “Zero de envolvimento de Flávio Bolsonaro ou das pessoas que o senador Renan Calheiros acredita que, por ter alguma relação de amizade comigo possam participar de algum negócio escuso”, disse.

Depois, Flávio citou uma matéria que liga um suposto operador do relator da CPI com o dono da Precisa. “Quem é acusado de ter operador é Flávio Bolsonaro. Deve estar me confundindo com o Queiroz, o Adriano de Nóbrega… Me erra! Responda às acusações contra você”, rebateu.

Já a discussão com Tebet começou quando ela ficou em dúvida sobre uma informação a respeito das notas fiscais internacionais. Formou-se uma discussão e ela se queixou de ter o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e Flávio falando alto atrás dela. Nesse momento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que presidia a sessão, desligou o microfone.

Em seguida, Tebet gritou com o microfone desligado para que Flávio a respeitasse. “Se o senhor repetir isso mais uma vez, eu vou falar ao microfone. Repita o que o senhor disse para mim! Repita!”, desafiou. Flavio respondeu: “Estou dizendo que a senhora está querendo induzir a depoente a falar o que a senhora quer”. Mas a senadora reagiu. “No microfone, ele não tem coragem de falar o que disse para mim agora”.

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Violência em silêncio: especialistas alertam para risco da subnotificação de violência doméstica

A diminuição das denúncias pode ser fruto do afastamento social das vítimas durante a pandemia

Por Jaqueilton Gomes

 julho 17, 2021, 0h01

Natália Abade, vítima de violência doméstica – Foto: Carlos Azevedo/Novo Notícias

Até o último dia 14 de julho, 41 mulheres foram assassinadas no Rio Grande do Norte. Desse total de crimes, oito são considerados feminicídio, quando o crime for cometido em decorrência do gênero da vítima. Nesse cenário, a violência doméstica tem um lugar de destaque. Até maio deste ano, 1.020 ocorrências foram registradas nas cinco Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (DEAMs), segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte (Sesed/RN), localizadas na Zona Norte e Zona Sul de Natal, em Parnamirim, em Caicó e em Mossoró.

 

O número causa um impacto à primeira vista, contudo, em comparação a anos anteriores, o RN não apresenta aumento de casos registrados. Em 2020, início da pandemia, apenas nas DEAMs Zona Norte, Zona Sul e Parnamirim, foram registrados 2.107 casos, o que significou uma queda de 25% dos registros de violência doméstica em comparação com 2019, que teve 2.827 ocorrências. No entanto, a delegada de Polícia Civil do RN, Paoulla Maués, vê com preocupação essa baixa contagem, visto que ela pode representar uma subnotificação dos casos, em decorrência das vítimas não estarem denunciando os crimes sofridos.

 

“Isso não quer dizer que diminuiu a violência. Não acreditamos. Acreditamos sim que aumentou, porém o que diminuiu foi a manifestação dessas mulheres que estão sendo agredidas, seja de qualquer uma das formas, de registrar a ocorrência na delegacia”, diz a delegada Paoulla Maués.

 

Com o intuito de aumentar as opções para as vítimas de agressão, a Polícia Civil do Rio Grande do Norte conta com uma Delegacia Virtual da Mulher, em funcionamento desde junho de 2020, mas essa nova ferramenta apresenta um baixo número de denúncias. Nos seis primeiros meses de funcionamento, a delegacia virtual registrou apenas 41 ocorrências e a delegada Paoulla Maués acredita que isso se deve a pouca divulgação dos canais abertos para receber denúncias, que também é apontada como uma das causas para a diminuição dos registros em delegacias físicas.

 

“As vítimas estão se calando, mas temos que identificar os fatores que levam a isso. Nós tentamos divulgar muito que as delegacias continuam abertas e não paramos na pandemia, mas muita gente deve achar que paramos”, diz Paoulla Maués, delegada de Polícia Civil.

 

A doutora Carla Fernandes Barros, professora do curso de Direito na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, fala sobre as causas de estarmos vendo tantos casos nos últimos dias: “as estatísticas estão aí mostrando que houve um incremento muito relevante e com certeza a pandemia influenciou nisso. Porque as mulheres, em razão do isolamento, da possibilidade de não sair, de ficar sem rede de apoio, sem contato com o mundo exterior e por um longo período mais próxima de quem, em regra são os agentes da violência, favorece o surgimento de casos como os que temos visto”, diz.

 

Nos últimos dias, alguns casos têm ganhado notoriedade no Brasil, como o episódio envolvendo o DJ Ivis, que agrediu a ex-esposa, e também no Rio Grande do Norte, como o caso da cabeleireira Natália Abade, de 30 anos, residente na cidade de Extremoz, região da Grande Natal. Ela foi agredida pelo então namorado durante uma festa de aniversário na madrugada do último dia 27 de junho.

 

Natália conta que as agressões começaram quando ela foi até o carro ajudar um amigo, que é drag queen, a tirar a peruca que estava apertando a cabeça dele. Ela conta que ficou cerca de 15 minutos com o amigo, e quando estava voltando para a festa, encontrou com o namorado que chegou perguntando onde ela estava e a agredindo com um tapa no rosto e puxando o seu cabelo. Após isso, ele jogou ela dentro do carro e continuou agredindo-a até chegar em casa, quando a polícia foi acionada por vizinho e prendeu o agressor me flagrante, que acabou sendo solto menos de 24 horas depois.

 

O exame de corpo de delito feito no Instituto Técnico-Científico de Perícia (ITEP) apontou pelo menos 27 lesões diferentes sofridas por Natália. Para ela, o que aconteceu foi uma tentativa de homicídio, e chegou a pensar que ia mesmo morrer.

 

Tatuagem Natália Abade

Depois de quase morrer, Natália resolveu fazer uma tatuagem para relembrar o seu “renascimento” – Foto: Carlos Azevedo/Novo Notícias

“Na esquina da minha casa ele parou o carro e começou a bater dentro do carro mesmo. Em um momento eu fingi desmaio, mas mesmo eu caída, ele continuou chutando minhas pernas”, diz Natália Abade, que em outro momento, já dentro de casa, precisou se ajoelhar enquanto lembrava a ele que ela tem um filho.

 

Uma rede de apoio social

Para oferecer apoio às vítimas de violência doméstica, que muitas vezes acabam dependendo apenas das respostas judiciais, a jornalista potiguar Juliana Celli, em parceria com a advogada Beathriz Chiana, criaram um perfil na rede social Instagram para debater especificamente o tema de violência doméstica e oferecer apoio social, acolhendo e colocando, inclusive, serviços profissionais de advocacia à disposição das vítimas.

“Nós sabemos que existem órgãos competentes para atender essas mulheres, mas nas redes sociais a gente quer levantar esse acolhimento social também, para dizer que elas não estão sós, e que tem alguém ao lado delas para ajuda-las a se reerguer”, diz a jornalista Juliana Celli, idealizadora do @defendemosmulheres.

 

“Não podemos visualizar uma mulher ser agredida e ficar calada, achando que aquela cultura que nós temos de ‘não se mete em briga de marido e mulher’ ela pode perdurar. Temos leis que precisam ser divulgadas e a mulher precisa encontrar uma rede de apoio”, diz a advogada Beathriz Chianca, idealizadora do projeto @defendemosmulheres.

 

Confira o relato em detalhes da violência sofrida por Natália Abade

https://www.novonoticias.com.br/violencia-em-silencio-especialistas-alertam-para-risco-da-subnotificacao-de-violencia-domestica/

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