Breve pesquisa nas redes mostra que Dominguetti é um apaixonado por Jair Bolsonaro. Após perceber que plano de melar investigações não deu certo, PM diz que pode ter sido 'induzido ao erro' em áudio de Miranda. Flávio Bolsonaro, que havia celebrado áudio, entrou em desespero quando celular do depoente foi apreendido
01/JUL/2021 ÀS 18:57
Domighetti
O policial militar e suposto representante da Davati, Luiz Dominguetti, recuou em seu depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira (1), e disse que pode ter sido induzido ao erro ao apresentar o áudio durante a sessão da comissão e relacioná-lo a possível envolvimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) com negociação de vacinas.
Dominguetti relatou à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina, em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19.
Na CPI, além de reafirmar as denúncias feitas ao jornal, o vendedor autônomo exibiu ainda um áudio sugerindo que o deputado Miranda também havia tentado adquirir vacinas com a Davati. O áudio, porém, é confuso e não é possível ter certeza sobre quais assuntos tratavam na ocasião. Senadores então passaram a questioná-lo sobre o conteúdo desse áudio, já que não se ouve a palavra “vacina” em nenhum momento.
“Eu recebi o áudio e acreditei no áudio de boa-fé. Da mesma forma que me foi postado e induzido a acreditar que eram vinculadas, pois eram postagens uma embaixo da outra, dando a entender a mim que eram vinculadas ao mesmo fato”, disse ele, após questionamentos de senadores.
Luis Miranda afirma que os diálogos do áudio são de outubro do ano passado e não se referem à negociação de vacinas, mas, sim, de luvas cirúrgicas. Ele, inclusive, registrou hoje em um cartório de Brasília conversas mantidas por meio do aplicativo WhatsApp que abordavam, de acordo com o parlamentar, negociações para aquisição de luvas hospitalares com o objetivo de desmentir a versão dada por Dominguetti.
Pedido de prisão
O senador Alessandro Vieira disse que Dominguetti prestou um desserviço e lhe acusou de cometer o crime de falso testemunho. “E o senhor se prestou a um desserviço para a Nação. Eu lamento e, Sr. Presidente, ao final desse procedimento todo, eu peço que a Presidência avalie a hipótese de prisão em flagrante pelo falso testemunho”, disse Vieira.
Tanto o Código Penal quanto a legislação que regula as CPIs estabelecem que “fazer afirmação falsa” como testemunha pode ser configurado como crime. A Constituição Federal e o Código de Processo Penal preveem a possibilidade de prisão em flagrante.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) acredita que Dominguetti foi usado pelo governo Bolsonaro para confundir a CPI. “O depoimento dele faz sentido e, no final, ficou claro que ele utilizou esse áudio indevidamente. Ele recebeu um áudio do Cristiano de 2020 e só passou agora para trazer para cá”, disse a senadora, referindo-se à gravação apresentada por Dominguetti, enviada pelo CEO da Davati, Cristiano Carvalho.
A própria Simone Tebet chegou, durante sua fala na CPI, a comparar a postura de Dominguetti ao chamado “Caso Uruguai”, usado pela defesa do então presidente Fernando Collor de Mello para justificar rendimentos seus no exterior. Em 1992, o secretário particular de Collor, Claudio Vieira, tentou justificar que ele teria feito um empréstimo de US$ 3,75 milhões, juntos a um doleiro no país. A história não impediu o afastamento de Collor, mas permitiu que o Supremo Tribunal Federal (STF) o inocentasse de crime comum
Celular apreendido
Após divulgar o áudio na CPI, senadores solicitaram que o celular de Dominguetti fosse apreendido para investigação. Neste momento, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, demonstrou desespero e se manifestou contrário à apreensão. Curiosamente, momentos antes Flávio havia celebrado a divulgação do áudio. “Tem que analisar só o áudio (de Miranda), não pode ver outras mensagens”, disse Flávio.
O senador Flávio Bolsonaro não integra a CPI da Covid, mas comparece às sessões para intimidar depoentes e os próprios colegas. O filho do presidente cumpre o papel de impedir o andamento das apurações.
Empresário da Davati se manifesta
O empresário Cristiano Alberto Carvalho, representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, disse ao jornal O Globo que Luiz Paulo Dominguetti “quer aparecer”. A afirmação foi feita após o empresário negar que o áudio apresentado pelo policial militar na CPI da Covid, se refere a uma tratativa do deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) para a negociação de vacinas, como o depoente alegou.
À reportagem do jornal, Cristiano disse acreditar que a mensagem se trata “sobre os negócios dele [Luis Miranda] nos EUA”. Disse, também, que o áudio citado durante o depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito não tem nenhuma relação com a Davati.
Bolsonarista
As redes sociais de Dominguetti revelam que ele é um bolsonarista convicto. Uma série de postagens de 2019 mostram ele exaltando figuras como Levy Fidélix e general Heleno, além de publicações em apoio ao governo e às manifestações bolsonaristas
Dominguetti é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais. Segundo a PM de MG, Dominguetti Pereira trabalha no município de Alfenas, no Sul do estado. O nome dele também aparece como “Dominghetti” em alguns documentos oficiais.
A PM de Minas instaurou relatório de investigação preliminar para apurar se a conduta dele fere o código de ética e disciplina da instituição.
Repercussão:
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