Sérgio Ramalho e Ana Cláudia Guimarães, , e
RIO - Indiciados por tentativa de homicídio, os inspetores da Polícia Civil Bruno Rocha Andrade e Bruno Souza da Cruz tiveram as prisões temporárias decretadas na tarde desta sexta-feira pelo juiz Fábio Uchoa, da 4ª Vara Criminal do Tribunal do Júri, e se entregaram à noite, segundo informou o Tribunal de Justiça. A dupla foi responsável pelos disparos que atingiram o Kia Cerato do juiz trabalhista Marcelo Alexandrino da Costa Santos, na noite do último sábado, na Estrada do Pau Ferro, em Jacarepaguá. No episódio, Marcelo Alexandrino Santos; seu filho, Diego Lopes; e sua enteada, Natália Lucas Cukier, foram feridos por disparos de fuzil calibre 5.56. Em sua decisão, o magistrado Fábio Uchoa diz que "os policiais têm instinto homicida e envergonham a Polícia Civil do Rio de Janeiro." A prisão temporária é por 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30. Ao decretar a medida, Fábio Uchôa considerou que os suspeitos demonstraram a intenção de prejudicar as investigações.
"Observa-se que o crime foi praticado com extrema brutalidade, onde os indiciados, com verdadeiro instinto homicida e investidos da Autoridade do Estado, envergonhando a instituição da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que é uma das melhores do país, efetuaram diversos tiros de fuzil contra as vítimas indefesas e seus familiares, que se encontravam fugindo de uma suposta falsa blitz realizada por marginais, sem apresentar a menor chance de defesa às vítimas, que estavam de costas, nos interiores de seus respectivos automóveis, fugindo de seus algozes, sem poderem imaginar que os autores daquela brutalidade fossem justamente os representantes do Poder Público, que deveriam estar ali para zelar, proteger e dar segurança a elas", afirmou o magistrado, acrescentando que os indiciados não estariam autorizados a fuzilar um veículo em fuga, ainda que conduzidos por marginais, "pois não cabe à polícia aplicar verdadeira pena de morte, a quem quer que seja, simplesmente porque não obedeceu a ordem de parar e pôs-se em fuga, tão somente para satisfazer seu desejo de exibir um poder que, fora dos limites legais, simplesmente não existe".
Marcelo Alexandrino dos Santos, de 39 anos, continua internado num quarto do Hospital Pasteur, no Méier. De acordo com a assessoria de imprensa da unidade, ele vem reagindo bem ao tratamento e deve ter alta na semana que vem. Já a enteada Natália, de 8 anos, e o filho do magistrado, Diogo, de 11, foram transferidos para uma clínica particular no Jardim Botânico, onde permanecem em estado grave. A família orientou a direção do hospital a não divulgar para a imprensa mais informações sobre as crianças.
Inicialmente, os dois policiais, que participavam juntamente com outros quatro agentes da 41ª DP (Tanque) de uma blitz na descida Estrada Grajaú-Jacarepaguá, disseram ter trocado tiros com os ocupantes de outro veículo, que teria furado o bloqueio policial. A versão, contudo, foi derrubada pelo exame de comparação balística do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). O laudo confirmou que os disparos que atingiram o carro do juiz foram efetuados por Bruno Andrade e Bruno da Cruz. E, na tarde de quarta-feira, o juiz confirmou que um policial atirou contra o seu carro.Em nota - divulgada pelo Hospital Pasteur, onde está internado -, ele diz que "nada há de mais aterrador do que a imagem de um agente público, que de nós deveria cuidar, disparando arma de fogo, com a intenção de matar, contra um casal de bem e suas crianças inocentes apenas para satisfazer seu desejo de exibir um poder que, fora dos limites legais, simplesmente não existe".
O pedido de prisão da dupla, negado inicialmente, foi novamente solicitado essa tarde pelo promotor Homero das Neves, coordenador da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público estadual. No pedido de reconsideração, o promotor defende a prisão temporária por 30 dias dos dois inspetores para evitar ameaças às testemunhas do episódios.
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