quarta-feira, 14 de abril de 2021

Depois de 33 anos o Brasil Reconhece o Assassinato do Padre João Bosco Burnier como Crime Político

  

Padre Burnier
A violência tão comum nas áreas de colonização em Mato Grosso nos anos 1970 não excluía a região da Prelazia de São Félix.do Araguaia. O assassinato do padre João Bosco Penido Burnier, em Ribeirão Cascalheira, crime sem conotação política é um exemplo disso.

 

Em 11 de outubro de 1976, o padre João Bosco Penido Burnier se encontrava na vila que mais tarde seria a cidade de Ribeirão Cascalheira, onde, segundo a versão predominante, ficou sabendo que policiais militares estariam torturando uma senhora chamada Margarida, mulher de Jovino Barbosa, acusado de matar um policial identificado enquanto cabo Félix.

Além de Margarida, sua nora Sandra, também estaria sob tortura, para que ambas revelassem a localização de Jovino e de seus filhos.

Burnier – segundo essa versão – tomou as dores das vítimas e foi à delegacia.

Diante do que viu, o sacerdote mandou que soltassem as mulheres e ameaçou denunciar os torturadores aos seus superiores.

A reação do soldado  Ezi Ramalho Feitosa à ameaça de Burnier foi brutal. O agrediu com um tapa no rosto, deu-lhe uma coronhada de revólver na nuca e disparou ferindo-o mortalmente na cabeça.

O então bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, estava ao lado do sacerdote e nada sofreu

O sacerdote foi removido de avião para Goiânia, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.

O assassinato do padre Burnier não tinha conotação política nem ideológica, mas a máquina publicitária que cercava Dom Pedro Casaldáliga o explorou muito bem.

Outra versão, essa sem espaço na mídia, dá conta de que o sacerdote foi à delegacia pedir a soltura de sem terra, que estariam bêbados e causando desordem. Em desentendimento com policiais Burnier teria dado um tapa no rosto de um PM, que em resposta o alvejou. Esse policial militar desertou e o caso foi providencialmente abafado.

João Bosco Penido Burnier era padre jesuíta e evangelizava em Mato Grosso desde 1966. Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de julho de 1917. Em homenagem à sua memória e aos demais sacerdotes e figuras ligadas à Santa Sé, assassinados, a Igreja Católica construiu a Igreja Mártires da Caminhada, ao lado do local onde ele tombou e onde se ergueu o Memorial do Martírio.

O tempo fica à margem da BR-158.

Uma igreja para os Mártires

A Igreja Mártires da Caminhada é uma idiossincrasia que reúne dogmas católicos com ações políticas de entidades a exemplo das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Em seu interior funciona um memorial a religiosos católicos, lideranças indígenas e figuras do movimento sem terra que foram ou teriam sido vítimas da violência na América Latina. Sua direção promove caminhadas a cada dois anos reverenciando a memória dessas vítimas.

Além de Burnier, o Memorial reverencia o padre Ezequiel Ramin, missionária Dorothy Stang, missionário Vicente Cañas e outros.

FOTOS: CPT – Divulgação

 Burnier, o padre considerado mártir – Boamidia

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